Ucrânia: quase todos os cenários favorecem a Rússia
Os russos movem peças para uma guerra que poderá se estender por anos
Nos primeiros momentos da invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, os russos tomaram parte da região nordeste do país. Meses depois, em um de seus contra-ataques mais bem-sucedidos, os ucranianos conseguiram retomar a região, onde fica Kharkiv, sua segunda maior cidade.
Quase 2 anos e meio depois, os russos voltaram a cruzar a fronteira naquela área. Moscou alega ter tomado 9 vilas.
Em um comunicado de conteúdo não comum, o exército ucraniano admitiu o "sucesso tático" das tropas inimigas.
No mês passado, fui à Ucrânia pela quinta vez desde 2014. Não é difícil notar que, apesar de serem firmes defensores de sua integridade territorial, os ucranianos estão cansados de uma guerra que só conseguirão vencer se houver um envolvimento sem precedentes dos países da Otan.
Sozinhos e com o mesmo ritmo de abastecimento de armas e munições por seus aliados, os ucranianos conseguirão, no máximo, segurar mais avanços russos.
Retomar os territórios invadidos no leste e sul do país, incluindo a Crimeia, exigirá uma força militar que Kyiv não tem.
Os russos, por outro lado, estão movendo peças para uma guerra que, Moscou sabe bem, poderá se estender por anos e que testará a resistência e paciência não só da Ucrânia, mas também de europeus e norte-americanos.
A decisão de Vladimir Putin de tirar Sergei Shoigu e nomear Andrei Belousov como novo ministro da Defesa é sinal disso. Belousov não tem experiência militar. É um economista, de quem Putin espera uma solução financeira para manter a máquina de guerra em funcionamento.
O ditador russo tem a seu favor o controle total das instituições de seu país, incluindo a imprensa. Não será questionado, pelo menos não publicamente.
Fazer isso na Rússia atual pode significar anos de cadeia e até mesmo um final como o de Alexei Navalny, principal opositor de Putin, encontrado morto em circunstâncias nunca propriamente esclarecidas, na prisão onde estava, na longínqua Sibéria.
Do outro lado, não há resposta objetiva para perguntas importantes que Estados Unidos e países europeus não conseguem responder.
Continuam atuando para que essa guerra fique estagnada, um cenário que só favorece Putin e seu regime?
Defendem negociações com o Kremlin, o que também favoreceria o russo? Negociação, como defendida pelo Brasil, implica necessariamente em reconhecer pelo menos parte dos territórios tomados da Ucrânia como russos.
Ou se envolvem para derrotar a Rússia? Valeria o risco de um conflito em escala global para conter Vladimir Putin?
Do outro lado da fronteira, o Kremlin tem também mais objetividade. Já avisou que se isso acontecer, a Rússia, dona de um dos maiores arsenais nucleares do planeta, estará preparada.