Entenda como foi o julgamento que condenou Daniel Alves a 4 anos e 6 meses por estupro
Ex-atleta foi sentenciado após três dias de julgamento e depoimentos contraditórios sobre o episódio na boate Sutton, em Barcelona
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O ex-jogador de futebol Daniel Alves foi condenado a 4 anos e 6 meses de prisão nesta quinta-feira (22) por acusação de estupro ocorrido em uma boate em Barcelona no final de 2022. O julgamento, que teve duração de três dias, foi marcado por momentos de tensão devido a depoimentos contraditórios e alegações de um "tribunal paralelo".
Ao longo do processo judicial, a Justiça espanhola convocou vinte e oito testemunhas, indicadas tanto pela defesa quanto pela acusação, para prestar depoimento.
A situação se intensificou na quarta-feira (7), último dia de julgamento, com a apresentação de depoimentos contraditórios e alegações de um "tribunal paralelo". Durante seu testemunho, Daniel Alves chorou reiterou sua negação à acusação de estupro, insistindo que sua relação com a denunciante foi consensual, enquanto enfrentava um ambiente marcado por tensões.
Entenda como foram os três dias de julgamento de forma detalhada:
Primeiro dia
No primeiro dia do julgamento de Daniel Alves, a defesa do ex-jogador conseguiu adiar seu depoimento, alegando a necessidade de ser o último a falar. Daniel Alves, que está em prisão preventiva desde janeiro de 2023, esteve presente no Tribunal de Barcelona sem algemas, marcando sua primeira aparição pública desde sua detenção.
A acusadora, uma mulher que manteve sua versão original de ter sido estuprada por Daniel Alves, prestou depoimento por aproximadamente uma hora, acompanhada por psicólogos. O depoimento ocorreu na mesma sala em que o jogador estava, embora sem contato visual, e a imprensa foi proibida de acompanhá-lo. Uma amiga da denunciante também depôs, relatando um comportamento agressivo de Alves e alegando que ele ejaculou dentro da vítima.
A advogada de Daniel Alves, Inés Guardiola, argumentou que seu cliente é vítima de um "tribunal paralelo" formado pela opinião pública. Solicitou a anulação do julgamento, alegando que a juíza recusou a realização de um segundo exame pela vítima. Pediu também novos testes antes de retomar o julgamento, mas a juíza não acatou, e a Promotoria defendeu a preservação dos direitos do acusado.
O primeiro dia de audiência incluiu os depoimentos de uma amiga e uma prima da denunciante, que testemunharam alegações de apalpamentos por parte de Daniel Alves na mesma noite do suposto estupro.
Segundo dia
Na terça-feira, 6 de fevereiro, o caso envolvendo o jogador de futebol Daniel Alves teve um segundo dia de audiências, com depoimentos decisivos. A modelo espanhola Joana Sanz, esposa do atleta, prestou seu testemunho a pedido da defesa, surpreendendo a imprensa local com revelações sobre a noite de réveillon de 2022.
De acordo com Joana, na madrugada de 31 de dezembro, Daniel Alves saiu para jantar com amigos, retornando embriagado por volta das 4h. Ela detalhou que o jogador "bateu no armário e caiu na cama". A expectativa inicial era de um depoimento a favor do marido, mas informações sugerem que Joana teria solicitado o divórcio após a prisão preventiva de Daniel Alves no ano passado, contradizendo a versão apresentada pela advogada do jogador.
Outro depoimento relevante foi o do amigo Bruno Brasil, presente no momento em que Daniel Alves teria abordado a jovem espanhola na boate. Bruno negou ter testemunhado qualquer sinal de desconforto por parte da vítima, contradizendo a acusação de estupro. Ele destacou que a interação entre Daniel Alves e a denunciante foi marcada por "dança com respeito" e uma "química respeitosa".
Os depoimentos divergentes de Joana Sanz e Bruno Brasil lançam novas luzes sobre o caso, destacando contradições e complexidades.
Terceiro dia
No dia 3, na quarta-feira, 7 de fevereiro, Daniel Alves enfrentou um emocional depoimento diante da Justiça. Respondendo às perguntas de sua advogada, o jogador abriu seu coração, admitindo ter consumido excessivamente álcool na madrugada de 31 de dezembro de 2022. O jornal "Marca" relata que suas lágrimas foram tão intensas que dificultaram a conclusão de suas frases.
O atleta negou ser uma pessoa violenta, refutando a acusação de forçar a denunciante a acompanhá-lo ao banheiro. Admitiu ter mentido anteriormente sobre a inexistência de qualquer contato com a espanhola, justificando sua decisão como uma tentativa de proteger sua esposa da verdade.
Segundo o depoimento, Daniel Alves chegou à boate por volta das 2h30 da madrugada, surpreendendo-se com a mudança no camarote designado para ele. Alegou ter dançado com duas mulheres inicialmente e posteriormente convidado outras três, incluindo a denunciante.
O jogador afirmou que só tomou conhecimento das acusações de estupro pela imprensa e revelou o impacto devastador em sua vida pessoal e profissional. Suas contas bancárias foram bloqueadas, e ele perdeu contratos no Brasil, enfrentando uma situação financeira precária.
Após a emotiva fala de Daniel Alves, representantes do Ministério Público e a advogada de defesa tiveram a oportunidade de expor seus argumentos pela última vez.
Entenda a sentença de 4 anos e meio de prisão
A decisão, publicada duas semanas após o término do julgamento, afirma que a vítima não consentiu e apresenta elementos de prova que corroboram a ocorrência do estupro.
Além da pena de prisão, o tribunal de Barcelona impôs ao atleta cinco anos adicionais de liberdade condicional. Uma ordem de restrição foi estabelecida, proibindo Daniel Alves de se aproximar da vítima por nove anos e meio. Adicionalmente, o jogador brasileiro terá que pagar uma indenização de 150 mil euros, equivalente a mais de 800 mil reais.
A pena final, inferior aos nove anos solicitados pelo Ministério Público, foi atribuída em parte devido a uma medida atenuante concedida pelo tribunal. Este reconheceu a reparação dos danos, uma vez que a defesa do jogador depositou antecipadamente o montante da indenização de 150 mil euros.
O tribunal, em uma decisão detalhada de 61 páginas, esclareceu que a existência de agressão sexual não requer necessariamente lesões físicas ou evidências de resistência heroica por parte da vítima. No caso em questão, foram identificadas lesões na vítima, evidenciando a violência empregada para subjugar a sua vontade, seguida por um acesso carnal que não foi contestado pelo jogador.
A sentença destacou que o consentimento pode ser revogado a qualquer momento e deve ser explicitamente dado para cada variante sexual dentro de um encontro. No entanto, não há evidências de que, pelo menos no que diz respeito à penetração vaginal, a vítima tenha dado seu consentimento.
Defesa de Daniel Alves vai recorrer de condenação por estupro
Daniel Alves planeja recorrer da decisão da Justiça espanhola. A afirmação foi feita pela advogada do ex-jogador da Seleção Brasileira, Inés Guardiola, nesta quinta-feira (22), data em que a sentença foi proferida.
Guardiola declarou:
"Neste momento só posso dizer que vamos recorrer da sentença. Continuo acreditando na inocência do Sr. Alves. Tenho que estudar a sentença, mas posso adiantar que vamos recorrer. Alves está inteiro. Como vocês entenderão, quatro anos e seis meses é melhor que os nove e 12 que a acusação pedia, mas acredito na inocência do Alves e vamos recorrer. Defenderemos sua inocência até o fim"
A advogada enfatizou a convicção na inocência de Alves e a intenção de lutar pela defesa até o último recurso disponível, destacando a redução da sentença em comparação com a solicitação inicial da acusação.