Após toque de recolher e ordem para atirar em manifestantes, Justiça acata protestos em Bangladesh
Com as manifestações, premiê Sheik Hasina precisou cancelar a viagem que faria ao Brasil na próxima semana. Entenda as reivindicações
Os manifestantes estudantis de Bangladesh tiveram uma vitória, neste domingo (21), contra o sistema de cotas que reservava até 30% dos empregos públicos para familiares de veteranos que lutaram na guerra de independência do país, em 1971.
O Tribunal Superior do país reduziu a margem de cota para 5%, deixando 93% dos empregos a serem ocupados por aqueles com melhor qualificação, que era a reivindicação dos protestantes. Os outros 2% de vagas em Bangladesh foram reservados para minorias étnicas, para a comunidade trans e as pessoas com deficiência.
+ Casos de importunação sexual em São Paulo dobraram em um ano, diz pesquisa
A decisão deve acalmar as ruas do país. Os conflitos entre policiais, governo, oposição e manifestantes começaram há um mês.
- Na segunda-feira (15), mais de 100 estudantes da Universidade de Dhaka, a principal da capital, ficaram feridos em protestos.
- Na sexta-feira (19), cerca de 800 presos fugiram de uma prisão em Narsingdi, uma cidade ao norte de Dakha, depois que manifestantes invadiram e incendiaram a unidade prisional.
- No sábado (20), Bangladesh decretou um toque de recolher e permitiu que policiais atirassem em multidões, “em casos extremos”.
- Segundo o jornal local Prothom Alo, ao menos 103 pessoas morreram durante os protestos.
Depois do anúncio da Justiça, o governo declarou o domingo e a segunda-feira (22) como feriados, funcionando apenas serviços de emergência autorizados a operar.
Argumentos
O país vive a frustração dos jovens que saem do ensino médio e faculdade, mas não conseguem empregos. Enquanto isso, os manifestantes enxergam o sistema de cotas pelo histórico da guerra como uma política discriminatória, que beneficiaria o partido Awami League, da ministra Sheik Hasina e que liderou há décadas o movimento de independência.
Quem apoia os protestos?
O principal apoiador dos protestos é o partido de oposição, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP). O movimento defende que o sistema de empregos seja definido por quem é mais capaz de exercer a função determinada, e não pelo histórico familiar.
No entanto, o BNP afirmou que não é responsável pelas violências e negou acusações de usar os protestos para ganhos políticos.
Histórico do sistema de cotas
Em 2018, o governo suspendeu as cotas de emprego após protestos estudantis em massa. Em junho deste ano, o Tribunal Superior de Bangladesh anulou essa decisão e restabeleceu as cotas após parentes de veteranos de 1971 entrarem com petições.
O Supremo suspendeu a decisão, aguardando uma audiência de apelação e disse que levará a questão ao tribunal, no domingo. Hasina pediu aos manifestantes que aguardem o veredito da Justiça.
+ Adultos entre 35 e 54 anos causam mais acidentes embriagados ao volante, diz pesquisa
Impactos no Brasil
A premiê Sheik Hasina precisou cancelar a viagem que faria ao Brasil, na próxima semana. O cancelamento foi confirmado pelo Itamaraty, mas ainda não foi divulgado uma nova data para o encontro.