Publicidade

O que esperar se a temperatura média global aumentar mais de 1,5ºC?

Países voltam a se reunir para discutir cumprimento do Acordo de Paris para conter "ebulição global"

O que esperar se a temperatura média global aumentar mais de 1,5ºC?
Reprodução
Publicidade

As metas previstas no Acordo de Paris estão cada vez mais difíceis de serem alcançadas. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os compromissos climáticos atuais podem conduzir a um aquecimento de 2,5ºC a 2,9ºC - em relação aos níveis pré-industriais - até 2100, quase o dobro do limite estabelecido pelo tratado (1,5ºC). Apesar de a diferença parecer pequena, especialistas alertam que o aumento de 0,5ºC a mais do que a meta já pode provocar consequências extremas para o meio ambiente e a humanidade.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
+ 2023 está a caminho de ser o ano mais quente já registrado, dizem cientistas

Isso porque o aquecimento da Terra reduz a capacidade da floresta e de outros ecossistemas se regenerarem, além de aumentar a propensão a incêndios e influenciar diretamente o regime de chuvas. O aumento de 1,5ºC na temperatura global resultaria, por exemplo, no crescimento de 41% das áreas queimadas por incêndios florestais. O percentual pode evoluir para 62% caso os termômetros registrem alta de 2ºC e, na pior hipótese, de 97%, com 3ºC, provocando quase a perda total dos biomas mundiais.

O mesmo é válido para os recifes de corais, que podem diminuir de 70% a 90% mesmo que o aumento fique limitado a 1,5ºC e ser extintos caso o mundo fique 2ºC mais quente. Outra consequência do aquecimento acima da meta é o derretimento em maior velocidade dos mantos de gelo, fazendo com que o nível do mar suba constantemente por centenas de anos. O cenário pode fazer com que cidades costeiras como Santa Mônica, na Califórnia, e Rio de Janeiro, no Brasil, desapareçam do mapa, ficando completamente submersas.

"Vamos fazer uma analogia. Se você mede a sua temperatura corporal e ela está 37ºC, você será considerado em um estado regular de saúde segundo este parâmetro. Se a sua temperatura está 1,5ºC acima, você está com uma febre significativa e precisa descobrir a origem disso para não ter efeitos que comprometam seus órgãos vitais. Imaginemos agora um cubo de gelo. Se a 0ºC ele se mantém intacto, a 0.1ºC ele já começa a derreter. Com esses exemplos quero mostrar que até mesmo 0.1ºC acima ou abaixo tem impactos significativos ao redor do globo", explica Camila Jardim, especialista em Política Internacional e porta-voz do Greenpeace Brasil.

Ela ressalta que os impactos das mudanças climáticas não são os mesmos ao redor do mundo, uma vez que, quando falamos de um aquecimento de até 1,5ºC ou 2ºC, estamos falando de uma média global. O aumento médio de temperatura em algumas regiões da Terra pode ultrapassar os 4ºC ou 5ºC, mesmo com um aquecimento médio de 1,5ºC. Além de provocar secas severas, o calor extremo resultaria na morte de peixes em rios e de animais da pecuária, impactando a segurança alimentar das populações.

Tal realidade, no entanto, não está distante. Estudos indicam que a Terra está cada vez mais perto de um ponto de não retorno, o que significa que os efeitos do aquecimento do planeta, como a desertificação e a savanização de biomas, a extinção de espécies, a redução de acesso à água potável e a acidificação dos Oceanos podem se tornar irreversíveis, mesmo que a temperatura média do planeta diminua futuramente. 

Isso justifica a afirmação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, de que a Terra passou do ponto de aquecimento para a fase de "ebulição global". Em visita à Antártida, o diplomata alertou sobre a aceleração do derretimento de gelo, dizendo que o cenário pode ser catastrófico para as cidades costeiras devido à elevação do nível do mar. O mesmo foi dito por ele durante viagem ao Himalaia, lar dos picos mais altos do planeta, como o Monte Everest, onde as geleiras estão derretendo num nível recorde.

"A mudança climática não é uma coisa para o futuro, para o fim do século, como falávamos antigamente. Na verdade, já estamos vivendo uma onda de impactos das mudanças climáticas. Temos presenciado eventos climáticos extremos, que são causados e agravados por conta da mudança do clima. Temos visto temporadas de queimadas florestais cada vez mais intensas, um número maior de furacões na região do Golfo e chuvas e secas sem precedentes. Esses impactos estão chegando mais rápido do que os cientistas previam", analisa Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.

Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar anualmente desde 2008 devido aos eventos climáticos extremos no planeta, sobretudo tempestades e inundações. O cenário impacta principalmente populações em maior situação de vulnerabilidade, como pessoas que moram periferias, pretos, indígenas, mulheres e crianças, que são desproporcionalmente afetados. Animais silvestres também estão na lista, já que as florestas podem registrar danos irreversíveis.

O que pode ser feito?

Dados da última simulação feita pelo Climate Action Tracker indicam que, mesmo com a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 2022, a temperatura planetária ainda deve aumentar em 2,4ºC, contra 2,7ºC se nada for feito. Com um corte das emissões de gases de efeito estufa de 50% até 2030 ainda seria possível alcançar a meta do Acordo de Paris. Para isso, seria preciso um avanço na transição energética: triplicar a capacidade global de energias renováveis.

"Essas medidas são importantes, mas não serão suficientes para conter a crise climática. A medida mais eficaz de todas e indispensável para a continuidade da vida na Terra é um acordo global pela eliminação progressiva dos combustíveis fósseis até 2050, com os países desenvolvidos completando essa transição muito antes e apoiando técnica e financeiramente a transição dos países em desenvolvimento. Não existe outra alternativa", frisa a especialista do Greenpeace Brasil.

Atualmente, os sete maiores emissores são China, Estados Unidos, Índia, União Europeia e Rússia. Todas os países estarão presentes na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), que ocorre entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabe. A expectativa é que, em meio ao cenário alarmante dos eventos climáticosa atuais, as delegações assinem acordos mais ambiciosos para limitar a temperatura média global a 1,5ºC.

Leia também

+ Onda de calor: influência da crise climática foi maior que fenômeno El Niño

+ Entenda a conexão entre os fenômenos extremos que acontecem no Brasil

+ Perda de gelo marinho pode ter causado morte de 100% dos bebês pinguins na Antártica

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

sbt
sbtnews
portalnews
mundo
acordo de paris
o que esperar
aumento
temperatura media global
1.5ºc
crise climática
aquecimento global
chuvas
secas
calor
degelo
meio ambiente
cop28
camila-stucaluc

Últimas notícias

Governo envia equipe de apoio a Manacapuru (AM) após porto desabar; buscas por criança continuam

Governo envia equipe de apoio a Manacapuru (AM) após porto desabar; buscas por criança continuam

Equipe especializada da Defesa Civil Nacional foi mobilizada para ajudar no resgate e suporte às vítimas
Funcionário de museu confunde obra de arte com lixo e joga peça fora

Funcionário de museu confunde obra de arte com lixo e joga peça fora

A obra, criada pelo artista francês Alexandre Lavet, consiste em duas latas de cerveja meticulosamente pintadas à mão; objetos foram recuperados intactos
12 de outubro é feriado? Data celebra Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças

12 de outubro é feriado? Data celebra Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças

Comemoração vai cair em um sábado em 2024; saiba mais sobre origem das datas e veja próximos feriados no ano
Marçal recebe convite para assumir secretaria de Desenvolvimento Econômico no interior de SP

Marçal recebe convite para assumir secretaria de Desenvolvimento Econômico no interior de SP

Proposta do prefeito de Sorocaba vem um dia após o ex-coach ficar de fora do 2º turno em São Paulo; ele ainda não se manifestou
Dom Odilo renuncia ao comando da Arquidiocese de SP, mas Papa pede liderança por mais 2 anos

Dom Odilo renuncia ao comando da Arquidiocese de SP, mas Papa pede liderança por mais 2 anos

Arcebispo está a frente da principal Igreja Católica do estado desde 2007
Governo vai pagar auxílio de dois salários mínimos para pescadores afetados por seca no Norte

Governo vai pagar auxílio de dois salários mínimos para pescadores afetados por seca no Norte

Medida publicada nesta terça (8) estipula benefício a trabalhadores impactados pela estiagem na região; 100 mil pescadores artesanais devem receber benefício
Chegada do furacão Milton provoca evacuação em massa na costa oeste da Flórida (EUA)

Chegada do furacão Milton provoca evacuação em massa na costa oeste da Flórida (EUA)

Rebaixada para categoria 4, tempestade deve atingir a Baía de Tampa na noite de quarta (8), com ventos de até 200km/h; 3,3 milhões de pessoas moram na região
A dois dias de júri, veja os detalhes da carta de Paulo Cupertino

A dois dias de júri, veja os detalhes da carta de Paulo Cupertino

Réu é acusado de matar o ator Rafael Miguel e os pais do menino em 2019
Corpo de turista desaparecida teria sido encontrado dentro de tubarão

Corpo de turista desaparecida teria sido encontrado dentro de tubarão

Pescador fisgou animal, o abriu e encontrou os restos mortais que seriam de Collen Monfore; amigos da vítima negam versão
Sete cidades brasileiras elegeram prefeitos indígenas no primeiro turno do pleito municipal

Sete cidades brasileiras elegeram prefeitos indígenas no primeiro turno do pleito municipal

Segundo Tribunal Superior Eleitoral, 214 vereadores de vários povos também assumirão cargos em 2025
Publicidade
Publicidade