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O que esperar se a temperatura média global aumentar mais de 1,5ºC?

Países voltam a se reunir para discutir cumprimento do Acordo de Paris para conter "ebulição global"

O que esperar se a temperatura média global aumentar mais de 1,5ºC?
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As metas previstas no Acordo de Paris estão cada vez mais difíceis de serem alcançadas. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os compromissos climáticos atuais podem conduzir a um aquecimento de 2,5ºC a 2,9ºC - em relação aos níveis pré-industriais - até 2100, quase o dobro do limite estabelecido pelo tratado (1,5ºC). Apesar de a diferença parecer pequena, especialistas alertam que o aumento de 0,5ºC a mais do que a meta já pode provocar consequências extremas para o meio ambiente e a humanidade.

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Isso porque o aquecimento da Terra reduz a capacidade da floresta e de outros ecossistemas se regenerarem, além de aumentar a propensão a incêndios e influenciar diretamente o regime de chuvas. O aumento de 1,5ºC na temperatura global resultaria, por exemplo, no crescimento de 41% das áreas queimadas por incêndios florestais. O percentual pode evoluir para 62% caso os termômetros registrem alta de 2ºC e, na pior hipótese, de 97%, com 3ºC, provocando quase a perda total dos biomas mundiais.

O mesmo é válido para os recifes de corais, que podem diminuir de 70% a 90% mesmo que o aumento fique limitado a 1,5ºC e ser extintos caso o mundo fique 2ºC mais quente. Outra consequência do aquecimento acima da meta é o derretimento em maior velocidade dos mantos de gelo, fazendo com que o nível do mar suba constantemente por centenas de anos. O cenário pode fazer com que cidades costeiras como Santa Mônica, na Califórnia, e Rio de Janeiro, no Brasil, desapareçam do mapa, ficando completamente submersas.

"Vamos fazer uma analogia. Se você mede a sua temperatura corporal e ela está 37ºC, você será considerado em um estado regular de saúde segundo este parâmetro. Se a sua temperatura está 1,5ºC acima, você está com uma febre significativa e precisa descobrir a origem disso para não ter efeitos que comprometam seus órgãos vitais. Imaginemos agora um cubo de gelo. Se a 0ºC ele se mantém intacto, a 0.1ºC ele já começa a derreter. Com esses exemplos quero mostrar que até mesmo 0.1ºC acima ou abaixo tem impactos significativos ao redor do globo", explica Camila Jardim, especialista em Política Internacional e porta-voz do Greenpeace Brasil.

Ela ressalta que os impactos das mudanças climáticas não são os mesmos ao redor do mundo, uma vez que, quando falamos de um aquecimento de até 1,5ºC ou 2ºC, estamos falando de uma média global. O aumento médio de temperatura em algumas regiões da Terra pode ultrapassar os 4ºC ou 5ºC, mesmo com um aquecimento médio de 1,5ºC. Além de provocar secas severas, o calor extremo resultaria na morte de peixes em rios e de animais da pecuária, impactando a segurança alimentar das populações.

Tal realidade, no entanto, não está distante. Estudos indicam que a Terra está cada vez mais perto de um ponto de não retorno, o que significa que os efeitos do aquecimento do planeta, como a desertificação e a savanização de biomas, a extinção de espécies, a redução de acesso à água potável e a acidificação dos Oceanos podem se tornar irreversíveis, mesmo que a temperatura média do planeta diminua futuramente. 

Isso justifica a afirmação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, de que a Terra passou do ponto de aquecimento para a fase de "ebulição global". Em visita à Antártida, o diplomata alertou sobre a aceleração do derretimento de gelo, dizendo que o cenário pode ser catastrófico para as cidades costeiras devido à elevação do nível do mar. O mesmo foi dito por ele durante viagem ao Himalaia, lar dos picos mais altos do planeta, como o Monte Everest, onde as geleiras estão derretendo num nível recorde.

"A mudança climática não é uma coisa para o futuro, para o fim do século, como falávamos antigamente. Na verdade, já estamos vivendo uma onda de impactos das mudanças climáticas. Temos presenciado eventos climáticos extremos, que são causados e agravados por conta da mudança do clima. Temos visto temporadas de queimadas florestais cada vez mais intensas, um número maior de furacões na região do Golfo e chuvas e secas sem precedentes. Esses impactos estão chegando mais rápido do que os cientistas previam", analisa Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.

Estima-se que mais de 20 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar anualmente desde 2008 devido aos eventos climáticos extremos no planeta, sobretudo tempestades e inundações. O cenário impacta principalmente populações em maior situação de vulnerabilidade, como pessoas que moram periferias, pretos, indígenas, mulheres e crianças, que são desproporcionalmente afetados. Animais silvestres também estão na lista, já que as florestas podem registrar danos irreversíveis.

O que pode ser feito?

Dados da última simulação feita pelo Climate Action Tracker indicam que, mesmo com a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 2022, a temperatura planetária ainda deve aumentar em 2,4ºC, contra 2,7ºC se nada for feito. Com um corte das emissões de gases de efeito estufa de 50% até 2030 ainda seria possível alcançar a meta do Acordo de Paris. Para isso, seria preciso um avanço na transição energética: triplicar a capacidade global de energias renováveis.

"Essas medidas são importantes, mas não serão suficientes para conter a crise climática. A medida mais eficaz de todas e indispensável para a continuidade da vida na Terra é um acordo global pela eliminação progressiva dos combustíveis fósseis até 2050, com os países desenvolvidos completando essa transição muito antes e apoiando técnica e financeiramente a transição dos países em desenvolvimento. Não existe outra alternativa", frisa a especialista do Greenpeace Brasil.

Atualmente, os sete maiores emissores são China, Estados Unidos, Índia, União Europeia e Rússia. Todas os países estarão presentes na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), que ocorre entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabe. A expectativa é que, em meio ao cenário alarmante dos eventos climáticosa atuais, as delegações assinem acordos mais ambiciosos para limitar a temperatura média global a 1,5ºC.

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