Cinegrafista mostra fumaça similar à de bomba de fósforo branco em ataque a Gaza
Convenção internacional proibiu bombardeios com armas incendiárias em áreas civis, mas Israel não assinou protocolo
SBT News
O cinegrafista Hamdan Dahrouhd, da emissora Al Jazeera, divulgou neste domingo (29.out) imagens de um ataque aéreo de Israel sobre Gaza com uma densa fumaça branca típica do efeito de uma bomba de fósforo branco. As bombas de fósforo branco fazem parte da categoria de armas incendiárias e tem o uso proibido pela Convenção de Armas Químicas desde 1997. O Ministério das Relações Exteriores da Palestina já havia denunciado o uso dessa arma por Israel nos dias 11 e 13 de outubro.
"Bomba de fósforo branco, banido internacionalmente, é usada agora no coração da Cidade de Gaza", escreveu Dahrouhd.
As bombas de fósforo branco produzem uma densa fumaça branca que é usada para esconder o deslocamento de tropas em um campo de batalha, iluminar e até incendiar infraestruturas. No entanto, pode causar graves problemas e até matar se atingir as pessoas.
O fósforo branco é uma substância química, dispersa em projéteis de artilharia, bombas e foguetes, que se inflama quando exposta ao oxigênio. A reação química cria um calor intenso de 815 °C.
Segundo a Human Rights Watch é uma organização internacional não governamental que defende e realiza pesquisas sobre os direitos humanos, "o fósforo branco causa queimaduras graves, muitas vezes até os ossos, que demoram a cicatrizar e podem desenvolver infecções. Se nem todos os fragmentos de fósforo branco forem removidos, eles podem agravar as feridas após o tratamento e reacender quando expostos ao oxigênio. As queimaduras de fósforo branco em apenas 10% do corpo humano são frequentemente fatais. Também pode causar danos respiratórios e falência de órgãos".
Convenção proibiu uso
A Convenção de Armas Químicas definiu a bomba de fósforo branco como arma incendiária, e não uma arma química e, embora as armas incendiárias não sejam explicitamente proibidas pelo direito humanitário internacional, o direito humanitário internacional consuetudinário exige que os estados tomem todas as precauções possíveis para evitar danos aos civis causados ??por elas". Foi estabelecido um protocolo sobre o uso de armas incendiárias, o Protocolo III. Pelo documento, fica proibido o uso de armas incendiárias lançadas pelo ar em concentrações de civis. O protocolo foi assinado pela Palestina e pelo Líbano, entre outros países. No entanto, Israel não ratificou esse protocolo.
Segundo a Human Rights Watch, o protocolo deixa duas questões em aberto, o que provoca a polêmica sobre a proibição ou não do fósforo branco. "Em primeiro lugar, restringe parte, mas não toda, a utilização de armas incendiárias lançadas no solo onde existem concentrações de civis, o que abrangeria ataques de artilharia de fósforo branco em Gaza. Em segundo lugar, a definição de armas incendiárias do protocolo abrange armas concebidas para provocar incêndios e queimar pessoas e, portanto, exclui indiscutivelmente munições polivalentes, como as que contêm fósforo branco, se forem utilizadas como cortinas de fumaça, mesmo que causem o mesmo efeito incendiário."
Comunicação restabelecida
A comunicação em Gaza foi restabelecida neste domingo (29.out), dois dias após um apagão deixar milhões de pessoas sem acesso à internet e na escuridão total. Com isso, foi possível retomar o contato com os cerca de 30 brasileiros que esperam a abertura da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, para serem repatriados.
Desde 6ª feira (27.out), moradores não conseguiam chamar ambulâncias para atender feridos ou mesmo para pedir ajuda na retirada de vítimas presas aos escombros de prédios e casas. O corte das linhas de telecomunicações é um dos temas que devem ser discutidos pelo Conselho de Segurança da ONU, nesta 2ª feira (30.out). A reunião de emergência foi marcada após um pedido do representante dos Emirados Árabes Unidos.
O Ministério da Saúde de Gaza, comandado pelo Hamas, informou que o número de palestinos mortos desde que o conflito começou, no dia 07 de outubro, ultrapassou 8.000, incluindo 3.300 crianças e mais de 2.000 mulheres. Do lado de Israel, os ataques do Hamas deixaram 1.400 mortos, entre eles 310 soldados. Até agora apenas quatro dos 229 israelenses mantidos reféns pelo Hamas foram libertados.
Durante a benção neste domingo (29.Out), no Vaticano, o Papa voltou a pedir o cessar-fogo, a liberação imediata dos reféns e pediu para que haja espaço para garantir ajuda humanitária em Gaza.