Em Nova York, Lula e Biden focam em causas conjuntas
Apesar das diferenças de abordagem em alguns temas internacionais como a guerra entre Ucrânia e Rússia e o embargo a Cuba, Lula e Biden se encontraram com foco em causas conjuntas. Uma delas, o direito do trabalhador
SBT News
Washington DC - Por alguns dias, o Hotel Intercontinental Barclays em Nova York funcionou como uma extensão do Salão Oval. Ali, o presidente Joe Biden recebeu dois líderes na última quarta-feira, dia 20. Depois de fazer o discurso na sede das Nações Unidas no dia 19, logo após a abertura do presidente brasileiro, Biden se encontrou no dia seguinte com Lula e Benjamin Netanyahu. Foram as únicas bilaterais de Biden, em Manhattan, às margens da Assembleia Geral da ONU.
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Na sala da bilateral, as duas comitivas estavam distribuídas em cadeiras posicionadas frente a frente. Cada presidente levou oito integrantes do governo. Lula estava acompanhado dos ministros Mauro Vieira de Relações Exteriores, Fernando Haddad da Fazenda e Marina Silva do Meio Ambiente. Também compunham o lado brasileiro a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos Maria Luiza Viotti, o embaixador Sérgio Danese - chefe da missão do Brasil na ONU, o embaixador Celso Amorim - Assessor Especial para Assuntos Internacionais, o embaixador Audo Faleiro e o senador Jaques Wagner, líder do governo no Senado. Biden se sentou ao lado do Secretário de Estado Antony Blinken, da Secretaria do Tesouro Janet Yellen, da Embaixadora dos Estados Unidos na ONU Linda Thomas-Greenfield, Jake Sullivan - Assessor do presidente para assuntos de Segurança Nacional, da embaixadora americana no Brasil Elizabeth Bagley, de John Kerry - Enviado Especial do Clima, Chris Dodd - Conselheiro especial do presidente para Américas e de Juan Gonzales - Assistente especial do presidente e diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional do Hemisfério Ocidental.
Na noite anterior ao encontro, o presidente brasileiro disse aos jornalistas que aquela seria a primeira vez em mais de quinhentos anos de história que um presidente brasileiro sentaria em igualdade de condições com um líder americano para tratar do tema precarização no mundo do trabalho. Foi realmente assim. Nas duas salas reservadas aos presidentes, integrantes do governo, líderes sindicais, convidados e jornalistas, tudo estava espelhado em tamanho e importância.
"Quando eu o recepcionei na Casa Branca em fevereiro, você disse que nós temos a obrigação de deixar um mundo melhor para a próxima geração e eu concordo muito com você", disse o presidente americano, enfatizando que o Brasil e os Estados Unidos estão cumprindo esta obrigação juntos. Biden ainda disse que as duas maiores democracias do Hemisfério Ocidental estavam juntas pela defesa dos direitos humanos no mundo e que isso inclui o direito dos trabalhadores.
Lula falou do renascer de um novo tempo na relação entre Estados Unidos e Brasil. "Uma relação de iguais, uma relação soberana e de interesses comuns em benefício do povo trabalhador do seu país e do meu país", disse o presidente brasileiro. "Eu vivi o mundo das greves. Aliás, ontem o meu ministro do trabalho foi visitar os sindicalistas americanos que estão em greve aqui na indústria automobilística e eu acho que é o momento de ouro para nós. As oportunidades que estão colocadas, o despertar de um sonho para um menino de dezoito anos, dezenove, vinte. Essa juventude que não tem perspectiva eu acho que este gesto nosso pode ser uma esperança para que as pessoas comecem a acreditar que é realmente possível criar um novo mundo" disse Lula ao presidente americano.
O comunicado conjunto entre Brasil e Estados Unidos no lançamento da parceria pelo Direito dos trabalhadores foca no trabalho digno, cita o fim do trabalho forçado e infantil, a promoção do trabalho saudável e decente, aborda o aproveitamento da tecnologia para o benefício de todos e o combate à discriminação. Metas traçadas ao lado do presidente da OIT, Organização Internacional do Trabalho, Gilbert Houngbo.
A bilateral entre Lula e Biden pelo lado americano
Segundo a Casa Branca, durante o encontro entre Lula e Biden, além do lançamento da primeira iniciativa global entre Brasil e Estados Unidos para avançar nos direitos dos trabalhadores ao redor do mundo, Washington foi clara sobre alguns temas internacionais. O governo americano informou que "Biden e Lula conversaram sobre a importância do restabelecimento da democracia na Venezuela". Segundo Washington, o presidente Biden reiterou seu apoio ao povo venezuelano e pontuou sua visão sobre um passo a passo com ações concretas para restauração da democracia na Venezuela levando a eleições justas que seriam correspondidas com o alívio das sanções impostas pelos Estados Unidos.
A Casa Branca ainda pontuou que os dois líderes reafirmaram o comprometimento pela cooperação no clima, falaram sobre a importância do apoio ao Haiti e conversaram também sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia. Biden, segundo os americanos, falou da importância do retorno da Rússia ao acordo para o escoamento de grãos na Ucrânia. "Durante o encontro, o presidente Biden expressou sua preocupação com os efeitos globais da guerra da Rússia contra a Ucrânia, especialmente no que se refere a alimentos e energia nos países mais pobres do planeta" informou a Casa Branca. Venezuela, o embargo à Cuba, a guerra entre Ucrânia e Rússia. Temas globais em que Lula e Biden se posicionam de formas distintas. No discurso na ONU, o presidente brasileiro criticou o envio milionário de armas a países em guerra. Falou sobre paz, dialogo e chamou o embargo à Cuba de ilegal. Foi aplaudido sete vezes. Biden usou o púlpito para afirmar apoio incondicional à Kiev e falou para um plenário que contava com a presença de Volodymyr Zelensky, que também se reuniu com Lula presencialmente em Nova York. Apesar das diferenças em alguns temas internacionais, os líderes de Brasil e Estados Unidos focaram em causas conjuntas durante o encontro no hotel em Manhattan: o direito do trabalhador e o clima foram destaque na reunião entre os presidentes e nas bilaterais a nível ministerial.
Pouco antes do encontro entre Lula e Biden, o ministro da Fazenda Fernando Haddad se reuniu separadamente com a Secretária do Tesouro dos Estados Unidos Janet Yellen.
Biden e o apoio aos trabalhadores em greve em Michigan
A bilateral com Lula com foco no direito do trabalhador aconteceu dias após o início da greve dos trabalhadores das três maiores montadoras de veículos dos Estados Unidos. A Casa Branca enviou representantes do governo a Detroit para intermediar conversas entre empresários e colaboradores e na última sexta (20), o presidente americano disse em suas redes sociais que vai a Michigan para se juntar à manifestação dos trabalhadores. Biden afirma que entende os motivos da greve e que as montadoras deveriam dividir os lucros gigantescos com os colaboradores de forma mais justa.