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Por consenso, Celac não deverá condenar invasão da Ucrânia

Guerra expõe apenas uma das muitas diferenças no bloco de países latino-americanos e caribenhos

Por consenso, Celac não deverá condenar invasão da Ucrânia
Lula falando em reunião da Celac (Ricardo Stuckert/PR)
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A declaração final da Cúpula Celac-União Europeia deverá ter um tom mais ameno que a própria resolução da ONU, que condenou a anexação de territórios ucranianos pela Rússia. O Brasil foi um dos 143 votos favoráveis.

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Entre os 33 países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), estão países mais alinhados à Rússia. A Nicarágua foi um dos cinco votos contrários. Bolívia, Cuba e Honduras estão no grupo dos 35 que se abstiveram. A Venezuela recusou-se a participar da votação. Não foi surpresa, portanto, que não tenha havido acordo para a presença do presidente Volodymyr Zelensky na Cúpula. O ucraniano iria como convidado.

Apesar das diferenças, fontes da diplomacia brasileira afirmaram estar otimistas com a possibilidade de uma documento final que agrade a todos. "Estamos próximos", disse um oficial que faz parte do time de negociação.

A Ucrânia é apenas um dos pontos de discordância no bloco latino e caribenho, mas "não é assunto principal dessa cúpula", explicou uma segunda fonte diplomática. "A maior vitória é o fato desse encontro estar acontecendo", reforçou, admitindo a possibilidade de, apesar do otimismo, a Cúpula terminar sem um documento final por conta da falta de consenso.  

Preocupados com a concorrência

Tema de muitas análises nas últimas semanas, há quase um consenso de que os europeus perderam um tempo nos últimos anos que agora tentam recuperar junto aos latino-americanos. A União Europeia busca reforçar o comércio com a região e ter mais influência política porque sabe que está atrasada em relação a outros grandes competidores.

O principal deles é a China, que ultrapassou o bloco europeu e hoje é o segundo maior parceiro comercial dos latinos, atrás dos Estados Unidos e à frente da própria UE. Na América do Sul, os chineses já são os principais parceiros comerciais. "Eles tão muito preocupados com China, Rússia e com os próprios norte-americanos", disse a fonte da diplomacia brasileira.

Triângulo do Lítio

E a preocupação não é apenas sobre o que o Brasil tem a oferecer. Outro grande ponto de interesse dos europeus é o Triângulo do Lítio, como é chamada a reserva do mineral na Argentina, Chile e Bolívia. O lítio é usado, entre outras coisas, para a fabricação de baterias de carros elétricos. É, portanto, essencial no processo de transição energética.

Angelos Delivorias, analista político do Parlamento Europeu, afirma que a Europa entra tarde nessa disputa. "Estamos atrasados. A China já tem uma estratégia para lítio desde 2015". Em discussão no Departamento de Pesquisa do Parlamento, ele afirmou que o bloco europeu vai precisar de uma quantidade de lítio "oito vezes maior até o fim desta década e 60 vezes maior até 2050".
 
Outra desvantagem em relação aos chineses é a capacidade de processar e refinar esse mineral. "Nos últimos anos, a China concentrou dois terços da capacidade de refino e processamento. Ao contrário da China, nós não temos uma capacidade significativa. Importamos três quartos do que precisamos dos chineses".

A América Latina é um caminho para a Europa diversificar sua fonte das chamadas matérias-primas críticas. Os europeus prometem uma "proposta diferente", em que levariam mais em conta que os chineses o respeito a critérios ambientais e às comunidades locais, além da possibilidade de investir para que empresas europeias possam fazer parte ou todo o processamento do mineral nesses países, o que agregaria valor e empregos às economias locais.

Mercosul

O governo brasileiro já encaminhou aos outros membros do Mercosul -- Paraguai, Uruguai e Argentina -- a contra-proposta que pretende apresentar para a União Europeia para finalizar o acordo comercial. O Brasil está questionando a cláusula que proíbe os governos de darem algum tipo de vantagem para empresas nacionais em compras governamentais. Este instrumento é visto pelo presidente Lula (PT) como essencial para incentivar a indústria e a economia do país.

O presidente também disse ser "inaceitável" um adendo proposto em março pela União Europeia que abriria a possibilidade de sanções econômicas aos membros do Mercosul caso houvesse exportações provenientes de áreas desmatadas. O governo brasileiro interpreta o instrumento como "ameaça" e defende que parceiros "devem ter confiança mútua".

Assim que paraguaios, uruguaios e argentinos aprovarem a contra-proposta, que ainda não foi tornada pública, o documento deverá ser apresentado para a União Europeia. Nos bastidores da Celac, negociadores dos blocos sul-americano e europeu vão prosseguir com as negociações.

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