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O dilema entre o que está na boca do povo e a arte

Oscar tenta se reconciliar com o público trazendo blockbusters para a festa: "Avatar", "Top Gun", "Elvis"

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Cena do filme ''Elvis''
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Houve um tempo em que o filme ganhador do Oscar e grande parte dos indicados estavam nas discussões do mundo, daqueles que vivem e falam de filmes e também dos que só vão ao cinema para se entreter em um momento pipoca. Muitos chegavam à festa já com o título de fenômeno cultural, como "E.T. - O Extraterrestre" (1982) e Ghost (1990) que não ganharam, mas era corriqueiro a Academia recompensar o público: "Forrest Gump" (1994)", "Titanic" (1997) e "O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" (2003) levaram o prêmio máximo, só para citar alguns poucos que chegaram à festa com torcida. Filmes que quem viveu nesses tempos, jamais vai esquecer. 

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Nos últimos anos, a Academia evitou recompensar grandes sucessos de público, dando uma passada de olho nos indicados desse tempo, contam-se nos dedos os que alcançaram grande bilheteria ou título de inesquecíveis para a população em geral.

"Isso é algo de muitas críticas porque parece que o Oscar vira uma premiação nichada, em que aquela pessoa que acompanha casualmente o cinema pela experiência, acaba não se identificando", nos disse Waldemar Dalenogare Neto, professor da Boston University e crítico de cinema. 

É claro que tem que se levar em conta que os filmes de maior bilheteria geralmente, nos últimos anos, são sequências, filmes de super-heróis ou sequências de filmes de super-heróis.

Mas, a listinha de 2023 chamou à atenção, principalmente, pelo cardápio diversificado: os sucessos de crítica compartilham espaço com campeões de bilheteria (sequências e até super-heróis, mas tudo bem), há filmes biográficos, de arte e que agradam o público, histórias importantes para serem lembradas e mandarem mensagens com críticas sociais além de novidades na forma de fazer cinema. 

O poder dos Blockbusters

"Top Gun - Maverick" e "Avatar - O Caminho da Água" juntos já arrecadaram quase 4 bilhões de dólares em bilheteria. Nesses sucessos de público dá ainda para incluir "'Elvis", com seus quase 300 milhões de dólares de bilheteria, além de ter sido aplaudido pelo mundo após ter ido para o streaming. Provavelmente, nenhum dos três vai ganhar o prêmio máximo (de acordo com as tendências trazidas pelas outras premiações), mas são produções que trazem torcida, discussões e quem sabe, o público se sinta mais incluído na festa, resultando em uma melhor audiência. 

"Pantera Negra: Wakanda para Sempre", não foi indicado a Melhor Filme, mas aparece em cinco categorias, Melhor Canção Original, Atriz Coadjuvante (Angela Bassett), Efeitos Especiais, Cabelo e Maquiagem e Melhor Figurino.

"Eu penso que é uma forma de tentar se reconciliar com esse público que acabou abandonando o Oscar porque pegava a lista e dizia assim: 'dos 10 indicados eu não vi nenhum, os filmes que eu vi não estão ali então não tem porque eu acompanhar (a cerimônia)'. Eu acho que quando você coloca "Avatar 2" ou "Top Gun - Maverick", nesse momento de retomada que estamos, essa é uma mensagem: estamos em busca de reconciliação", avalia Dalenogare Neto.

Correm por fora

Filmes que são sucesso de crítica e com baixas bilheterias concorrem com esses gigantes do faturamento.

A comédia de ácida crítica social "Triângulo da Tristeza", ganhador da Palma de Ouro em Cannes, arrecadou 24 milhões de dólares nos cinemas no mundo e é considerado um fracasso de público.

Logo atrás vem "Tár", estrelado por Cate Blanchett (uma das grandes favoritas na categoria de Melhor Atriz) rendeu 17 milhões de bilheteria e nem conseguiu pagar os 35 milhões que custou.

"Entre Mulheres" teve alcance ainda mais limitado. Não chegou a render 7 milhões, porém é daquela categoria que traz discussões importantes para a premiação e para o público, modelo de filme que a Academia tem considerado pelo fator social que representa.

Depoimento de quem vota

O cineasta brasileiro Carlos Saldanha é o único brasileiro que teve até agora duas indicações ao Oscar: "A Aventura Perdida de Scrat" (2002) como Melhor Curta de Animação e "O Touro Ferdinando" (2017), Melhor Animação.

Saldanha já dirigiu diversas animações que se tornaram sucesso de bilheteria, como "Rio", "Rio 2" e os longas de "A Era do Gelo". O diretor é membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas há 20 anos, desde que recebeu a primeira indicação e também defende que a resposta do público tem que estar na festa.

"Eu acho importante ter essa opinião pública do cinema. Parte do sucesso do cinema não é só o filme ser bom, mas também o filme ter público, você levar pessoas ao cinema. Saímos de uma pandemia, que os cinemas ficaram fechados, e você vê filmes que conseguem trazer de novo esse público, mesmo com medo, mesmo com a transição que estamos tendo agora, do cinema voltando. Ver esses blockbusters, é muito bom. São muito bem feitos, conseguiram dar uma roupagem nova, trazer os atores que a gente tanto gosta. No caso do "Top Gun" foi uma vitória incrível do filme, foi feito durante a pandemia, ficou parado por um tempo, eles decidiram lançar depois, e foi uma sacada de mestre que eles fizeram. O avatar é um colosso tecnológico, uma coisa incrível, que tem que estar no cinema, você tem que ver no cinema, porque é um filmaço", disse o cineasta em entrevista exclusiva ao SBT News

(Acompanhe na 6ª feira (10.mar) Carlos Saldanha, Rodrigo Santoro e Daniel Rezende falando sobre o processo de votação no Oscar e os desafios do cinema brasileiro para entrar na festa).

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