COP27: Necessários US$ 2 trilhões ao ano a países em desenvolvimento
Recurso de petroleiras e países ricos seria usado para transição energética e tecnologias de adaptação ao clima
Temas discutidos mais nos bastidores da agenda climática e, principalmente, por países em desenvolvimento estão ganhando força na 27ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27). São aquelas demandas evitadas por países desenvolvidos e um dos setores mais ricos da economia mundial, o petrolífero. Os motivos para evitarem? No caso dos países ricos, o financiamento da mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) nos países mais pobres, com menos culpa sobre o aquecimento global -- porém, os mais prejudicados. Já para o setor petroleiro, seria a necessidade tanto de repassar recursos como de investir para tornar os combustíveis fósseis menos nocivos ou, simplesmente, mudar de ramo.
US$ 2 trilhões ao ano aos países em desenvolvimento, indica novo estudo
Um novo estudo encomendado por Reino Unido e Egito foi apresentado na COP27. Para ajudar os países em desenvolvimento a mitigar as emissões de GEE e investir em adaptações para enfrentar as mudanças climáticas, os países desenvolvidos devem doar US$ 2 trilhões -- aproximadamente R$ 10 trilhões -- por ano até 2030.
O dinheiro seria usado para investir na transição energética, abandonando os combustíveis fósseis e adotando fontes renováveis, além de outras tecnologias de mitigação nas produções industriais e agropecuárias.
Países que mais sofrem as consequências do aquecimento global fazem apelos
Além das temperaturas oscilantes e desastres naturais, há países que já sentem o aumento do nível do mar e correm risco de sumir do mapa. Os chamados estados insulares apelaram no terceiro dia de COP27.
Tuvalu, representado pelo primeiro-ministro Kausea Natano, disse uma participação por telefone que "o aquecimento dos mares está começando a engolir nossas terras centímetro por centímetro. Mas o vício do mundo em petróleo, gás e carvão não pode afundar nossos sonhos sob as ondas".
"A indústria de petróleo e gás continua a ganhar quase US$ 3 bilhões diariamente em lucros. Já é hora dessas empresas pagarem um imposto global de carbono sobre seus lucros como fonte de financiamento para perdas e danos. Produtores perdulários de combustíveis fósseis se beneficiaram de lucros extorsivos às custas da civilização humana. Enquanto eles estão lucrando, o planeta está queimando", afirmou em uma apresentação, Gaston Browne, primeiro-ministro de Antígua e Barbuda.
Ranil Wickremesinghe, presidente do Sri Lanka, reclamou do porquê os governos ocidentais enviarem bilhões de dólares para a guerra na Ucrânia, porém, são lentos em gastar com as mudanças climáticas. "Padrões duplos são inaceitáveis. Não é nenhum segredo que o financiamento climático falhou a meta? Como muitas nações desenvolvidas consideram adequado esperar por suas contribuições de financiamento climático, esses países também estavam em ambos os lados da guerra na Ucrânia e pareciam não ter escrúpulos em gastar por uma guerra".
O discurso foi endossado por Emmanuel Macron, presidente da França, um país de primeiro mundo: "Os países ricos devem se conciliar com a noção de que solidariedade financeira é necessária em um momento no qual a confiança entre o Norte e o Sul globais está frágil. Os países em desenvolvimento estão certos em suas demandas por perdas e danos, possivelmente o principal assunto desta conferência ambiental".
E em mais um duro discurso, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, indignou-se o com fato do principal motivo das mudanças climáticas ser tão pouco discutido nas COPs e pediu a todos os países que tributem as empresas de combustíveis fósseis: "Vamos redirecionar o dinheiro para as pessoas que lutam com o aumento dos preços dos alimentos e da energia e para os países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática".
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