Irã retira câmeras da AIEA e critica resolução "política"
Agência de energia atômica da ONU alertou que remoção pode acabar com negociações
Giovanna Colossi
O Irã retirou vinte e sete câmeras de vigilância de instalações nucleares no país, informou o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, em coletiva de imprensa convocada de forma repentina, nesta 5ª feira (9.jun), em Viena, na Áustria.
O país do Sudoeste Asiático já havia anunciado a medida, mas sem informar números, em resposta à adoção de uma resolução do Conselho de Governadores da AIEA que critica Teerã. Apoiado pela Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, a resolução foi aprovada com o apoio de 30 dos 35 governadores. Rússia e China votaram contra. Índia, Líbia e Paquistão se abstiveram.
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Encarregada de verificar o caráter pacífico do programa nuclear iraniano, a AIEA censurou Teerã pelo o que chama de falha da República Islâmica em fornecer "informações confiáveis" sobre material nuclear artificial encontrado em três locais não declarados no país.
Após a votação, uma declaração conjunta da França, Alemanha, Reino Unido e EUA disse que a censura "envia uma mensagem inequívoca ao Irã de que deve cumprir suas obrigações e fornecer esclarecimentos tecnicamente confiáveis sobre questões pendentes de segurança".
O ministério das Relações Exteriores do Irã criticou a censura como uma "ação política, incorreta e não construtiva".
O Irã e as potências mundiais concordaram em 2015 com um acordo nuclear que viu Teerã limitar drasticamente seu enriquecimento de urânio em troca de levantamento de sanções econômicas. Em 2018, o então presidente Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do pacto em 2018 e restabeleceu as sanções, aumentando as tensões em todo o Oriente Médio e provocando uma série de ataques e incidentes.
Desde o colapso do acordo, o Irã opera centrífugas avançadas e tem um estoque de urânio enriquecido em rápido crescimento. Especialistas em não proliferação alertam que o Irã está próximo de enriquecer urânio aos níveis ideais para fabricar uma arma nuclear. O país nega que tenha intenção de fazê-lo e insiste que seu programa é para fins pacíficos.
Negociações para reativar o acordo começaram em abril de 2021, mas estão paralisadas desde março deste ano. Para Grossi, A decisão do Irã representa um "sério desafio" e "um golpe fatal" para as negociações sobre o acordo nuclear.