Consequências da invasão russa à Ucrânia devem refletir no Brasil e mundo
Entre os impactos, está o aumento no barril de petróleo, produto exportado pela Rússia
SBT News
Com a invasão russa à Ucrânia, o mundo questiona os impactos econômicos trazido pelo conflito. Em entrevista ao SBT, a professora de Direito Internacional da Universidade de São Paulo (USP), Maristela Basso, comentou o cenário, afirmando que sanções, aplicadas direta ou indiretamente à Rússia, trarão reflexos em todos os países.
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Quais são as consequências econômicas que os ataques podem trazer para o Brasil a medio e longo e prazo? Ou, talvez, de imediato?
"O Ocidente nos vendeu a esperança de que a Rússia não invadiria a Ucrânia. O Putin já vinha se preparando há muito tempo - havia restringindo a circulação de dólar na Rússia, vinha se preparando no que diz respeito às reservas russas para enfrentar a economia. Internamente, economicamente, ele se preparou e deu sinais ao mundo. Agora estamos vendo as sanções. A Rússia é um dos maiores produtores de milho e trigo, de gás e o segundo maior de petróleo, qualquer sanção que chegar contra a Rússia diretamente ou indiretamente atinge o mundo. Qualquer empresa que exporta ou importa da Rússia, vai ser atingida. Putin preparou a Rússia para o momento, nós que não nos preparamos", afirmou a docente".
O barril de petróleo já está custando U$ 100 doláres hoje. Esse valor pode chegar aos consumidores brasileiros?
"Se pensarmos só no barril de petróleo, há uma consequência gigantesca. Todos nós precisamos de petróleo. Vamos importar de outros países, como a Arábia Saudita, que também será procurada pelos demais. Haverá recursos para todos os países do mundo? A União Europeia tem o problema do gás. 1/4 do gás que chega à Europa vem de Moscou. É inverno, eles precisam do aquecimento. A invasão na Ucrânia é um símbolo e um aviso do que vem pela frente".
Qual é a percepção da senhora sobre os próximos passos da Rússia? O que mais a Rússia pode fazer?
"Putin deixava bem claro que tem todas as condições de invadir a Ucrânia e aguentar os resultados, tanto na perspectiva militar quanto econômica. Havia muito mais espaço para a diplomacia. Houve o compromisso por parte dos Estados Unidos, e da Otan, de que a organização não se expandiria ao Leste Europeu, sobretudo aos países vizinhos da Rússia. O acordo foi negociado durante muito tempo, no governo de Ronald Regan [ex-presidente dos EUA] e Mikhail Gorbachev [ex-líder da União Soviética]. Quando a Guerra Fria terminou, o compromisso era fundamental. A União Soviética se desmantelaria, Rússia ficaria com o seu território e seguriria a vida. Em contrapartida, a Otan não cresceria em direção ao Leste Europeu. O que vimos foi o contrário. A Otan foi crescendo, absorvendo países do Leste Europeu e Europa Central e está muito perto da Rússia. Estrategistas dos anos 90 chamaram a atenção da Casa Branca de que a Otan estava descumprindo os acordos feitos com a União Soviética. Bill Clinton estava no poder [nos Estados Unidos]. Ele consultou o Senado para dizer se os Estados Unidos e a Otan poderiam continuar crescendo em direção ao Leste. O Senado concordou".
O que dá para entender em torno da solução do problema?
"A diplomacia é feita com concessões. Não se fala em diplomacia se não estiver disposto em conceder. Antes, era mais fácil fazer concessões agora, que já estamos falando de guerra. O Putin sabe que a Ucrânia ele toma ainda hoje. Terminado o dia, ele já pode estar em Kiev e tomado o poder, anexado o território da Ucrânia ou declarado um país independente, mas aliado à Rússia. Ele tem gente e equipamento. Nesse momento, ele está com a força, porque os aliados, que subestimaram e achavam que Putin ia recuar, não se preparam suficientemente. O contigente militar da Otan que está lá [nas fronteiras da Ucrânia] é pequeno. Cada país que entra para a Otan dá um número de soldados que são os que vão trabalhar pela manutenção da paz. O pessoal que está lá, hoje, em nome da aliança, não faz frente para Putin, mas ele sabe que, como invadiu hoje, o exército da Otan, apenas simbólico de manutenção da paz, será reforçado. Esse é o perigo agora".