11 de setembro foi dia de trégua entre Trump e Biden
Data que relembrou os 19 anos do atentado terrorista nos Estados Unidos foi marcada por uma pausa nas acusações diárias entre Donald Trump e Joe Biden
11 de setembro foi dia de trégua entre Trump e Biden
Patrícia Vasconcellos
• Atualizado em
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As ruas no entorno do Memorial 11 de Setembro, na região sul de Manhattan, estavam cercadas por policiais. O céu azul entre nuvens refletido na torre espelhada e gigante do edifício One World dava uma sensação de paz não fosse o pensamento do que tudo ali representa. "Vá até a Liberty Street. Ali é a entrada da imprensa", disse o oficial enquanto apontava com o dedo a direção correta a seguir. A poucos metros dali, parentes das vítimas do maior atentado terrorista da história acompanhavam a cerimônia que se repete há 19 anos.
Quase 3 mil pessoas perderam as vidas nos 4 ataques suicidas que aconteceram simultaneamente em 2001. Dois aviões derrubaram as torres gêmeas em Nova Iorque, um avião atingiu o Pentágono e outro que tinha como alvo a Casa Branca caiu na Pensilvânia. Perto de uma das grades que cercava o Memorial em Manhattan, na última sexta-feira, uma jovem carregava um buquê de rosas brancas. "Eu estava atrasada naquele dia, ia para o trabalho. Eu teria que passar pelo World Trade Center porque uso o trem que vem de Nova Jersey onde moro. A minha chegada ali deveria ser mais ou menos a hora em que o primeiro avião atingiu a torre mas me atrasei", me disse Michelle Bloom. Com os olhos mareados, ela contou que foi prestar homenagem aos bombeiros, policiais e colegas de trabalho que morreram no local. "Nas semanas seguintes ao atentado eu usei uma máscara como esta porque era muito pó na região. Até hoje não entendo o que me fez não estar aqui naquele dia", disse Michelle.
Michelle Bloom, planejadora de eventos. Foto: Patrícia Vasconcellos
A trégua nas acusações
Junto aos familiares das vítimas de Nova Iorque, duas personalidades políticas chamaram a atenção pela cena de cordialidade. O vice-presidente americano Mike Pence usava máscara e cumprimentou o candidato democrata à presidência Joe Biden, que também cobria boca e nariz, com o cotovelo - prática segura em tempos de pandemia.
Seria um ato comum de gentileza não fossem as acusações diárias entre democratas e republicanos. Horas antes do evento, no dia anterior, Biden encerrou o dia no twitter com uma publicação num tom de insulto à Donald Trump. Joe Biden escreveu: "Trump disse que queria ser um líder como o de uma torcida organizada. Não precisamos disso mas de um presidente". Já o presidente americano que frequentemente se refere ao adversário na corrida eleitoral como "sleepy Biden" (Biden sonolento), tweetou na noite de 10 de Setembro que: "se Biden for eleito, lunáticos de esquerda não só vão liderar cidades democratas falidas, eles vão liderar o Departamento de Justiça, de Segurança e a Suprema Corte". Palavras sempre defendidas e apoiadas pelo vice, Mike Pence. Foi o dia virar para 11 de Setembro para que os dois lados adotassem mensagens que fizessem referência apenas às vítimas do atentado ocorrido há 19 anos.
Joe Biden falou no dia 11 que em memória às vítimas todos devem à eles união. Na Pensilvânia, Donald Trump visitou o Memorial construído no lugar onde o avião do voo 93 da United Airlines caiu depois de ser sequestrado durante os ataques de 11 de setembro de 2001. No discurso, o presidente chamou os passageiros de heróis. Segundo o governo americano, ao perceber o sequestro do avião, os passageiros invadiram a cabine onde estavam dois terroristas, um deles no comando da aeronave que caiu antes de atingir o alvo, a Casa Branca. "Quando os terroristas correram para destruir a sede da nossa democracia, os quarenta passageiros do voo 93 fizeram a mais americana das coisas. Juntos eles atacaram a cabine e enfrentaram o mal. Em seu último ato nesta terra, salvaram nossa capital" disse Donald Trump no discurso da Pensilvânia.
Em Nova Iorque, enquanto aguardava o fim da cerimônia no Memorial World Trade Center, chequei os detalhes da reabertura do Museu 11 de Setembro que aconteceu de forma exclusiva para os parentes das vítimas nesta sexta-feira. O público voltará a ter acesso ao museu a partir deste sábado, dia 12. Por conta da pandemia, há uma limitação máxima de visitantes de até 25 por cento da capacidade total. A precaução existe mesmo com a redução radical no número de turistas em Nova Iorque. No site do museu em homenagem às vítimas do 11 de Setembro que ficou fechado por quase seis meses, o destaque é o pedido de doações para a instituição.