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ENGANOSO: Vídeo em posto de gasolina não prova crime por parte do PT do Piauí

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

ENGANOSO: Vídeo em posto de gasolina não prova crime por parte do PT do Piauí
Divulgação/Projeto Comprova
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ENGANOSO: É enganoso o tuíte que afirma que o Partido dos Trabalhadores (PT) cometeu crime eleitoral ao ter distribuído gasolina para que a população de Curimatá, no Piauí, participasse de uma passeata de motos e carros a favor da legenda. A distribuição de combustível de fato ocorreu, mas o Comprova não conseguiu identificar os responsáveis pelo ato ? o diretório do PT no Piauí nega participação. Ainda assim, de acordo com especialistas ouvidos pelo Comprova, o vídeo sozinho não configura crime eleitoral por ter ocorrido antes do período eleitoral e por não haver evidências de que a distribuição esteve condicionada a um pedido expresso de votos.

Conteúdo investigado: Tuíte exibe vídeo de 45 segundos que mostra uma fila de carros e motos em um posto de gasolina. A gravação é narrada por um homem que pergunta às pessoas quanto irão receber de combustível e quem está organizando a distribuição. O conteúdo é acompanhado por legenda que afirma que o PT do Piauí está pagando gasolina à população para conseguir apoiadores para uma motociata. O texto também cita que o autor da filmagem foi ameaçado por denunciar crime eleitoral.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem de um pré-candidato a deputado federal do Piauí que afirma ter havido crime eleitoral em um episódio ocorrido em um posto de combustível localizado no centro de Curimatá, no Sul do Piauí, no dia 17 de julho. O tuíte traz um vídeo gravado no local pelo jornalista Efrém Ribeiro, que, em contato com o Comprova, afirmou ter havido distribuição de gasolina para que as pessoas pudessem se deslocar até um evento político de dois pré-candidatos pelo PT ao governo do Piauí e ao Senado.

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Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, mesmo que a distribuição tenha ocorrido, o ato não configura crime eleitoral, pois aconteceu antes do período eleitoral e porque não há nenhum elemento na postagem e no vídeo verificados, ou mesmo nas matérias que repercutiram o episódio e em afirmações dos envolvidos no evento, que confirme a suposição de compra de votos.

Em outro vídeo feito no posto, publicado nas redes sociais de Ribeiro, há uma entrevista com um motociclista que aguarda na fila, em que ele confirma o recebimento do combustível para participação no evento. No entanto, segundo especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo Comprova, o episódio configuraria crime eleitoral somente se a distribuição de combustível estivesse condicionada ao pedido expresso de votos em determinado candidato.

Procurada, a assessoria do PT do Piauí negou ter cometido crime e disse não ser responsável pela organização de nenhuma motociata no estado ? o Comprova não localizou registro do evento no dia 17 de julho, como afirma a postagem. "Não fizemos carreata ou motociata. Nós temos consciência de que a lei proíbe. Temos feito apenas eventos em espaços fechados, conforme orientação jurídica."

Quando questionado se o partido distribuiu gasolina no Piauí, João de Deus, presidente do PT no Estado, disse: "Nunca criamos esse tipo de situação em nenhum dos municípios".

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de agosto, o vídeo teve 182,2 mil visualizações, 7,9 mil compartilhamentos e 19,7 mil curtidas.

O que diz o autor da publicação: Daniel Pereira da Silva Monteiro Rosa é engenheiro civil e, atualmente, pré-candidato a deputado federal do Piauí pelo partido União Brasil. Em 2020, foi candidato a vereador de Teresina (PI) pelo PSL. Teve 1.121 votos, mas não foi eleito.

Ao Comprova, Pereira afirmou que recebeu o vídeo do jornalista Efrém Ribeiro e que o objetivo da publicação foi mostrar à população "mais um crime eleitoral cometido pelo PT".

Como verificamos: O primeiro passo foi analisar os frames do vídeo, por meio dos quais foi possível identificar o nome do posto. Fazendo uma busca no Google pelos termos "Auto Posto Gety" e "Piauí", descobrimos que o estabelecimento fica na cidade de Curimatá, Piauí.

Em seguida, pesquisamos no Google pelos termos "Curimatá PI", "gasolina" e "PT", e encontramos matérias de dois sites (Oitomeia e Ponto e Vírgula) que traziam a informação de que o autor do vídeo era o jornalista da TV Piauí Efrém Ribeiro.

O Comprova então buscou pelas redes sociais de Ribeiro e encontrou no Instagram oito vídeos sobre o episódio.

A equipe também reuniu informações através do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da legislação brasileira e consultou dois especialistas em direito eleitoral, o advogado Alberto Rollo e a professora Lara Ferreira, para entender se o caso retratado no vídeo configuraria crime eleitoral.

O Comprova conversou com o TSE, a assessoria do PT do Piauí, Efrém Ribeiro, autor do vídeo, Daniel Pereira, responsável pela publicação do conteúdo no Twitter, um comércio próximo ao Auto Posto Gety e a Polícia Militar do Piauí.

Por fim, a equipe tentou entrar em contato, sem sucesso, com a administração do Auto Posto Gety, o vereador Lorisvan Dias Duarte (MDB), que aparece no vídeo, e a prefeitura de Curimatá.

A localização do vídeo

Para entender o contexto do vídeo e o que estava acontecendo na ocasião, era preciso descobrir qual o posto que aparece na gravação e sua localização. Pelas imagens, o Comprova identificou que se trata do Auto Posto Gety e, fazendo uma busca no Google pelo nome do estabelecimento e "Piauí", descobriu que o local fica no centro de Curimatá, cidade 778 km distante de Teresina, capital do estado.

| Detalhe do vídeo em que aparece a marca do posto

Detalhes que aparecem no vídeo em comparação com imagens postadas no Instagram do posto confirmam que o vídeo foi gravado no local.

Frame do vídeo:

Postagem no Instagram do posto:

A partir da utilização do Google Street View, foi possível encontrar outra correspondência: a fachada de uma loja em cor laranja.

Frame do vídeo:

A mesma fachada aparece no Google Street View (imagem de 2019). Do outro lado da rua, um posto em construção, com uma placa em que se lê: "Em breve em Curimatá, auto posto Gety. Aguarde":

Detalhe da placa:

Contexto do vídeo

A partir de pesquisa no Google pelos termos "Curimatá PI", "gasolina" e "PT", encontramos matérias de dois sites (Oitomeia e Ponto e Vírgula) que traziam a informação de que o autor do vídeo era o jornalista da TV Piauí Efrém Ribeiro.

Após buscar o contato do jornalista com a assessoria da TV Piauí, o Comprova conversou com ele por WhatsApp. No diálogo, Ribeiro contou que, no dia 17 de julho, ele e o cinegrafista Rafael Gomes faziam uma reportagem sobre as condições da rodovia PI-225, que liga os municípios de Corrente, Parnaguá, Curimatá e Avelino Lopes, quando os dois perceberam a movimentação no Auto Posto Gety.

De acordo com Ribeiro, os motociclistas que estavam na fila do Auto Posto Gety afirmaram que estavam abastecendo para participar de uma carreata que partiria do centro de Curimatá, onde fica o posto, para o clube da AABB, onde ocorreria evento político com participação de Rafael Fonteles e Wellington Dias, ambos do PT.

| Distância entre o Auto Posto Gety e o clube da AABB de Curimatá

Em um dos oito vídeos publicados pelo jornalista no Instagram, um motociclista diz que teve o nome colocado na lista para receber a gasolina. Ribeiro pergunta: "E depois vai para a carreata?". Em seguida, o homem responde: "Para a AABB". Na mesma gravação, o jornalista questiona outro motociclista sobre a quantidade de gasolina que iria receber. O homem diz: "Até R$ 40 né?". Ribeiro, no entanto, não soube informar quem estava pagando pelo combustível.

Ao Comprova, o jornalista confirmou a ameaça mencionada no tuíte investigado. Ribeiro afirmou que foi ameaçado de ser encharcado de combustível pelo frentista e "o pessoal que fazia a distribuição" ao documentar o episódio, mas não registrou queixa. Procurada, a Polícia Militar do Piauí informou que não foi acionada para ir ao local na data da ocorrência.

O vereador Lorisvan Dias Duarte, conhecido como Lorin (MDB), que é apontado nas imagens como a pessoa que estaria coordenando a distribuição de combustível, e o proprietário do posto foram questionados sobre o episódio, mas não houve resposta.

Por meio da assessoria, o PT nacional afirmou não ter conhecimento do caso, enquanto o PT do Piauí disse se tratar de conteúdo enganoso. "Não fizemos carreata ou motociata. Nós temos consciência de que a lei proíbe. Temos feito apenas eventos em espaços fechados, conforme orientação jurídica."

Evento político na AABB-Curimatá

Tanto as matérias dos sites Oitomeia e Ponto e Vírgula quanto o jornalista Efrém Ribeiro afirmam que a distribuição de combustível seria para que as pessoas seguissem até a sede do clube da AABB de Curimatá, para evento das pré-candidaturas de Rafael Fonteles ao governo do Estado do Piauí, e de Wellington Dias ao Senado, no dia 17 de julho. As candidaturas foram oficializadas seis dias depois, em um outro evento, em Teresina.

No Instagram de Rafael Fonteles, é possível constatar que o evento político de fato foi realizado na AABB-Curimatá. Características do local (telhado e pilares), verificadas na postagem do político, conferem com imagens do clube publicadas no site da Prefeitura de Curimatá (aqui).

| Imagem de evento na AABB-Curimatá que ilustra notícia no site da prefeitura local

Não há crime eleitoral

Segundo o TSE, crime eleitoral é "toda conduta praticada durante o processo eleitoral e que a lei reprime, impondo pena aos autores, por atingirem ou macularem a liberdade do direito de voto, em sentido amplo, ou mesmo os serviços e o desenvolvimento das atividades eleitorais".

Conforme disposto no art. 41-A da Lei no 9.504/1997 (Lei das Eleic?o?es), "constitui captação de sufrágio, vedada por esta lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição".

Consultado pelo Comprova, o advogado Alberto Rollo, especialista em direito eleitoral, afirma que o episódio de distribuição de combustível no Piauí não configura crime eleitoral por ter ocorrido em 17 de julho. Portanto, antes do período de registro de candidaturas, iniciado no último 20 de julho e que termina em 16 agosto, início do período eleitoral.

"Ainda assim, teria que haver pedido explícito de votos em determinado candidato para a caracterização do crime eleitoral", diz Rollo.

Porém, o advogado explica que o evento pode configurar crime de abuso de poder econômico, disposto no artigo 22 da Lei Complementar 64/1990. "Caso um episódio semelhante se repita no período eleitoral, este outro ocorrido anteriormente pode ser usado para fortalecer o entendimento do crime de abuso de poder econômico".

O Comprova também conversou sobre o tema com Lara Ferreira, professora e especialista em direito eleitoral, que chegou à mesma conclusão apontada por Alberto Rollo. Segundo Ferreira, como não houve pedido explícito de voto no episódio em Curimatá, a distribuição de gasolina não configura ilícito.

"Durante as campanhas eleitorais, distribuir combustível para viabilizar a realização de carreatas ou motociatas não configura ilícito eleitoral, nos termos já decididos pelo TSE. No caso em análise, não se trata ainda de campanha eleitoral, mas de pré-campanha. Ademais, o vídeo, em si, não apresenta qualquer elemento minimamente indicativo da prática alegada", afirma.

Não há nenhuma menção a uma suposta compra de votos no vídeo verificado, ou nos sites que repercutiram o episódio. Em entrevista ao Comprova, o jornalista Efrém Ribeiro, autor do conteúdo, também não cita o suposto ato.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que viralizaram nas redes sociais. O vídeo aqui verificado induz a uma interpretação enganosa e faz associações, sem comprovação, entre o partido de um candidato à presidência da República e um suposto crime eleitoral. Conteúdos como esse podem influenciar a decisão de eleitores, que têm o direito de votar com base em informações verídicas, não boatos.

Outras checagens sobre o tema: A três meses das eleições presidenciais, o sistema eleitoral tem sido tema frequente de peças de desinformação nas redes sociais. Nos últimos dias, o Comprova demonstrou que não há provas de fraudes em "apagões" nas eleições de 2014 e 2018, que Lei sancionada por Lula para imprimir votos foi derrubada pelo STF em 2013 e que contagem de votos é feita pelo TSE e não por empresa terceirizada.

Em verificações recentes envolvendo o PT, o Comprova mostrou que postagem engana ao associar o PT e Lula a apreensão de drogas no Mato Grosso do Sul, que protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT e que é falso que PT seja responsável por drone que lançou produtos químicos em Minas Gerais.

Investigação e verificação

O Plural, Estadão, CNN e O Dia participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Correio Braziliense, Folha, Piauí, Metrópoles, Imirante.com, Rádio Band News, Correio de Carajás, CBN, O Popular, Grupo Sinos, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Agora, na quinta fase, o Comprova segue verificando conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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