FGV: pandemia agravou o enfraquecimento da atenção primária à saúde
Redução de equipes médicas e transferência de recursos afetaram os procedimentos
A pandemia de covid-19 intensificou a tendência de queda de procedimentos realizados na atenção primária à saúde no Brasil. Segundo levantamento do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão da Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), de 2019 a 2022, a redução de rastreio foi de 42,5%, enquanto as consultas médicas registraram queda de 41,2%. No caso dos diagnósticos, a cifra ficou em 28,9%.
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No geral, o crescimento exponencial de casos graves de covid levou ao colapso mesmo de sistemas de saúde com boa infraestrutura hospitalar. Por outro lado, países que envolveram a atenção primária na testagem, rastreamento de contatos, proteção de grupos populacionais mais vulneráveis, manutenção de atendimentos de rotina e vacinação tiveram melhor resposta.
No caso do Brasil, políticas de redução de equipes médicas e de transferência de recursos voltados à saúde impactaram nos procedimentos. Com a falta de coordenação federal na resposta à pandemia, os autores apontam que as gestões municipais assumiram as despesas para manter os serviços ativos, o que aumentou as desigualdades regionais, uma vez que as prefeituras apelaram às próprias fontes de financiamento.
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"O governo federal relegou o papel da atenção primária à saúde ao segundo plano, embora as equipes de Estratégia de Saúde da Família tenham tido historicamente papel importante no controle de doenças transmissíveis. O rastreamento e o tratamento de contatos são atividades de rotina dessas equipes ao lidar com casos de tuberculose e meningite, por exemplo", argumentam os autores.
Em meio ao cenário, a pesquisa aponta que, para recuperar a resiliência do Sistema Único de Saúde (SUS), é preciso tornar os serviços de atenção primária à saúde mais acessíveis à população. Alguns caminhos são aumentar o financiamento federal e a participação dos governos estaduais na distribuição de recursos, bem como desenvolver uma estratégia de valorização dos recursos humanos, com remuneração e condições de trabalho atrativas.