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Divergência sobre guerra não deve afetar relação econômica entre os Brics

Enquanto Brasil votou a favor da condenação da Rússia, China, África do Sul e Índia se abstiveram

Divergência sobre guerra não deve afetar relação econômica entre os Brics
Presidentes dos países do Brics em foto tirada no último encontro do grupo
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Desde o início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro, o Brasil já aprovou mais de uma vez resoluções contra a Rússia. No Conselho de Segurança da ONU, o país se posicionou a favor da condenação a ofensiva, pedindo a retirada imediata das forças militares do território ucraniano. Reforçou o seu posicionamento em sessão de emergência na Assembleia Geral da ONU e, na 6ª feira (4.mar), votou a favor da resolução apresentada pela Ucrânia no Conselho de Direitos Humanos, que pede a investigação de violações dos direitos humanos que teriam sido praticadas pela Rússia na invasão.

Brasil e Rússia, no entanto, são parceiros comerciais e integrantes dos Brics, um agrupamento econômico atualmente composto por cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Diante da posição brasileira, como fica a relação entre os Estados?

+ Leia as últimas notícias sobre a guerra na Ucrânia

Segundo Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), o fato de o agrupamento ser mais econômico do que político tira da agenda de assuntos pautas das quais os países não têm convergência.

"Não houve uma convocação dos Brics para a questão da guerra porque os Brics, a convergência deles, está em questões financeiras e econômicas. Em questões de segurança -- que envolve questão nuclear, a guerra, o Conselho de Segurança --, os Brics não tendem a ter convergência", comenta Menezes, que acrescenta: "No momento, os Brics estão mais do ponto de vista da geoeconomia do que da geopolítica."

A possibilidade de uma retaliação ou descontentamento de Moscou com o posicionamento brasileiro também é descartada pelo professor de Relações Internacionais das Belas Artes e Pontíficia Universidade Católica (PUC) de São Paulo Augusto Rinaldi. "Nossas relações com a Rússia não são tão diversificadas quanto com outros países -- China e Estados Unidos, por exemplo. É mais uma relação comercial centrada nos fertilizantes e em tecnologia para a área cibernética do que um estreitamento político mais denso. Nesse sentido, não acredito que Moscou vá "retaliar" o Brasil em outras áreas sensíveis aos nossos interesses  -- como a nossa pretendida vaga no Conselho de Segurança da ONU ou nos casos envolvendo a questão da Amazônia", expõe. 

"O Brics tem uma face 'voltada para dentro', com muitas áreas de aproximação e coordenação de esforços; e há uma face 'voltada para fora', que é justamente aquela em que os países atuam juntos como um bloco. Nessa face 'para fora', eles atuam em temas muito específicos, mas que encontram consenso para agir -- por exemplo, reformar as instituições internacionais (FMI e Banco Mundial). Acho bem possível que, no encontro anual no final do ano, no comunicado final, não haja nenhuma condenação aos atos russos, mesmo o Brasil votando favoravelmente agora. Isso porque eles separam o que um país faz 'fora do Brics -- como um país soberano -- e o que faz 'dentro' do Brics, isto é, atuando juntos. Isso já aconteceu em 2011 no caso da Líbia -- Rússia e China votando favorável e os demais se abstendo -- e não houve nenhum prejuízo diplomático ou econômico para a relação entre eles", acrescenta o docente.

Mais do que um dilema em relação ao posicionamento brasileiro, que, segundo Rinaldi, é condizente com nossa tradição diplomática pacifista, os Brics vivem o dilema de tentar blindar o Banco dos Brics (NDB) -- que tem um rate, uma classificação, muito melhor do que a média dos cinco membros -- de uma possível sanção, avalia Menezes.

"O ponto é o seguinte: o governo brasileiro, o que ele tem feito em relação à guerra, é colocar um pé em cada canoa. Essa é a orientação da Casa Civil, e agora quem fala sobre a guerra na Ucrânia é o Ministro da Defesa, o Braga Neto. O Brasil, nesse momento, é claro, com Marcos Troyjo -- presidente do Banco dos Brics -- e o vice-presidente, que é russo, vêm trabalham junto com os demais membros para a Rússia conseguir efetivar US$ 2 bilhões em empréstimos. Parte desse dinheiro que os Brics vão emprestar para a Rússia, ela não vai tirar do caixa dela, ela vai pegar em um terceiro agente -- fora dos Brics, no sistema financeiro mundial -- a uma taxa menor e repassar esse dinheiro aos seus sócios (os outros integrantes do grupo). Onde é que está o problema principal? Como o Brics busca dinheiro em outros agentes do mercado financeiro internacional, o receio é justamento infrigir as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela Europa e com isso ser identificado como um banco que furou as sanções e, portanto, merece ser bloqueado parcialmente ou totalmente do sistema financeiro internacional", pontua. 

Na 5ª feira (4.mar), o New Development Bank, mais conhecido como Banco dos Brics, emitiu um comunicado informando que, "à luz do desdobramentos das incertezas e restrições, o NBD suspendeu novas transações na Rússia." O banco não citou o atual conflito.

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