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Terceira dose: é chegada a hora?

Reforço tem eficácia e respaldo de especialistas, mas OMS defende primeiro ampliar a cobertura vacinal

Terceira dose: é chegada a hora?
Aplicação da terceira dose contra covid-19 ainda gera divergências | Agência Brasil
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Discussões acerca da aplicação ou não de uma dose de reforço contra a covid-19 têm sido frequentes ao redor do mundo. No Brasil, a imunização de idosos acima de 70 anos e pessoas imunossuprimidas -- aquelas que possuem o sistema imunológico comprometido por algum motivo específico -- com a terceira dose teve início em meados de setembro. Nas últimas semanas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também anunciou a aplicação para profissionais da saúde e pessoas acima de 60 anos, além de manter a disponibilidade para pessoas imunossuprimidas. 

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Apesar das últimas decisões no Brasil e em países como Estados Unidos, Israel e Chile, no início de setembro a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendeu que a prioridade global fosse a ampliação da cobertura vacinal em países mais vulneráveis, onde apenas uma pequena parcela da população tenha sido imunizada. Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a medida seria importante para reduzir a desigualdade mundial na distribuição de imunizantes. O diretor também reforçou que pessoas que possuem o sistema imunológico comprometido devem receber uma dose de reforço, mas que elas representam uma pequena parcela da população.

Estudo realizado por diversos pesquisadores, incluindo membros da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Universidade de Oxford e da Food and Drug Administration (FDA) -- agência reguladora dos Estados Unidos --, publicado na revista científica The Lancet, em 13 de setembro, defende que populações que ainda não receberam a primeira e/ou a segunda dose da vacina devem ser priorizadas neste momento. Para o grupo, mesmo diante da variante Delta, a eficácia das vacinas contra a covid-19 é alta e, ainda que haja vantagens na dose de reforço, estas não são superiores aos benefícios de fornecer a primeira e segunda dose às pessoas que ainda não foram vacinadas: "As vacinas que estão disponíveis atualmente são seguras, eficazes e salvam vidas. O fornecimento limitado destas vacinas irão salvar mais vidas se disponibilizadas para pessoas que estão em risco apreciável de doenças graves e ainda não recebram nenhum imunizante. Mesmo que algum ganho possa, em última análise, ser obtido através do aumento, não superará os benefícios de fornecer proteção inicial para o não vacinado", conclui a pesquisa. 

O SBT News consultou especialistas da área, a respeito da aplicação da terceira dose ou dose de reforço no Brasil. Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), diz que a entidade fica satisfeita e apoia a medida adotada pelo Ministério da Saúde, uma vez que a mesma é pautada em evidências científicas relativas à efetividade da terceira dose da vacina para pessoas acima de 60 anos e imunossuprimidos. "Já temos dados e evidências robustas hoje em dia a respeito da efetividade das vacinas covid-19. Já sabemos que existem alguns grupos que respondem pior ao esquema vacinal primário, caso dos idosos, por conta de imunossenescência e concomitância de comorbidades e os imunodeprimidos. Essa população já responde pior ao esquema primário e tende a ter uma queda de proteção, com o tempo, mais acelerada que outros grupos", afirma a especialista.

Entretanto, Flávia também ressalta a importância de haver vacinas suficientes para que seja possível contemplar segundas doses aos grupos que já estejam no momento de recebê-las e também de ampliar a vacinação em adolescentes mantendo altas coberturas em todos os grupos.

"A partir do momento que tenho doses suficientes e estou ampliando a vacinação para outros grupos com taxas de cobertura maior, é a hora de 'voltar os olhos' pra essa população mais suscetível [idosos e imunossuprimidos]. Para isso, temos dados científicos, evidências, inclusive, de estudos com vacinas. Estudos com a Coronavac, AstraZeneca, vacinas de mRNA, demonstrando que, com a terceira dose, há um estímulo forte com o aumento tanto de anticorpos quanto da imunidade celular e, de um modo geral, isso se correlaciona também com duração de proteção. Então, essa decisão de terceira dose não é pautada só no desespero porque há uma tendência de aumento de incidência de casos graves. Os esquemas com três doses foram avaliados e demonstraram excelentes resultados de "resposta booster" -- resposta de reforço. Tanto do ponto de vista de nível de anticorpo como do ponto de vista de imunidade celular. Então, é uma decisão científica baseada em dados científicos e dados epidemiológicos."

A análise do infectologista e membro da Sociedade Brasileira Infectologia (SBI) Julival Ribeiro vai ao encontro das observações da diretora. O especialista também enfatiza que diversos estudos publicados que analisaram a efetividade de vacinas -- especificamente em idosos --, demonstraram que, com o passar do tempo, essa efetividade diminui, como ocorre também com a vacina contra a gripe (Influenza). 

O Ministério da Saúde recomenda que, preferencialmente, seja utilizada a vacina da farmacêutica Pfizer para a dose de reforço e que a mesma seja aplicada seis meses após o idoso ter completado o ciclo vacinal e, no caso de imunossuprimidos, após 28 dias de ter recebido a segunda dose ou dose única. A especialista Flávia Bravo alerta: "Esta decisão [de preferencialmente ser utilizada a vacina da Pfizer] baseia-se também em dados científicos que já foram publicados. Não significa que terceira dose ou dose de reforço com outra marca, de outra tecnologia não seja recomendada ou não tenha resultado. Os resultados que nós já temos hoje é de que há uma resposta muito boa quando se usa essa terceira dose com vacina de plataforma de RNA mensageiro".

Também em relação a essa questão, Julival Ribeiro lembra que países como Reino Unido, EUA e Chile estão utilizando este imunizante para a terceira dose: "Estudos demonstraram que o uso dessa vacina, como terceira dose, aumenta muita imunogenicidade, o que significa maior proteção". 

Na última 3ª feira (28.set), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu uma solicitação da farmacêutica Pfizer para que a terceira dose fosse incluída na bula de seu imunizante contra a covid-19. Atualmente, a bula só prevê aplicações de duas doses da vacina.

Em nota, a Pfizer informou que a farmacêutica e a BioNTech iniciaram, em julho, um estudo de dose de reforço de três fases que avalia uma terceira dose da vacina ComiRNAty contra a covid-19 com voluntários dos Estados Unidos, África do Sul e Brasil que haviam sido imunizados com a mesma vacina há pelo menos 6 meses. Dados iniciais da pesquisa apontaram que uma dose de reforço da vacina da Pfizer e BioNTech, administrada pelo menos seis meses após a conclusão da série de vacinação primária com o mesmo imunizante, é capaz de aumentar a taxa de anticorpos protetivos contra covid-19, incluindo boa resposta às variantes de preocupação.

Baseado nesses dados, em 22 de setembro, a Pfizer recebeu autorização do Food and Drug Administration (FDA ) -- agência reguladora americana -- para a aplicação de uma terceira dose do imunizante em pessoas acima de 65 anos e indivíduos com idades entre 18 e 64 anos dentro de certas condições de risco. Desta forma, o pedido realizado pela Pfizer à Anvisa foi baseado nos mesmos dados apresentados à agência americana, e referente à avaliação da segurança e da eficácia para aplicação de uma terceira dose do imunizante. 

A Anvisa confirmou o recebimento do pedido e informou que o prazo de avaliação é de 30 dias, desde que não haja necessidade de novos esclarecimentos. Além disso, a agência disse que a proposta envolve todas as faixas etárias atualmente incluídas na bula, ou seja, pessoas com 12 anos de idade ou mais.

Intercambialidade

Outra discussão frequente acerca da terceira dose ou dose de reforço é a intercambialidade entre diferentes marcas, ou seja, o "cruzamento" de imunizantes distintos. O infectologista Julival Ribeiro afirma que "há estudos mostrando que há aumento da imunogenicidade usando intercambialidade das vacinas" e que países como a Inglaterra realizam a intercambialidade entre vacinas da Pfizer e AstraZeneca no esquema inicial de vacinação.

Dados preliminares de uma pesquisa realizada no Uruguai -- que está sendo conduzida pelo Instituto Pasteur e pela Universidade da República (Udelar) -- mostram que o reforço com uma terceira dose da Pfizer, após duas doses da CoronaVac, aumenta em 20 vezes o nível de anticorpos contra o coronavírus.

A diretora da SBIM, Flávia Prado, afirma que, do ponto de vista científico, esses resultados já eram esperados em relação à intercambialidade, uma vez que estão sendo utilizadas vacinas de plataformas tecnológicas diferentes e, desta forma, o sistema imune apresenta uma boa aceitação e tem um estímulo melhor. Além disso, a especialista também chama a atenção para a vantagem da intercambialidade de vacina no sentido de suprir a falta de imunizantes ao redor do mundo.

"Vivemos em uma situação de limitação de doses em nível mundial com uma necessidade evidente de ter cobertura vacinal em todos os países. Com a ocorrência de desabastecimentos, atrasos e interrupções de fornecimento de vacinas de mesmo fabricante, não apenas no Brasil, como ao redor do mundo [...] ter essa maleabilidade favorece o planeta como um todo diante dessa escassez de vacina. Se eu tenho segurança e eficácia fazendo essa intercambialidade, posso acelerar em situação de dificuldade de completar esquemas com a mesma dose e utilizar uma outra dose", arrematou. 

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