Cientistas criticam ideia de eliminar covid por "imunidade de rebanho"
Manifesto publicado na revista The Lancet diz que adotar imunidade coletiva como horizonte é uma "falácia sem evidência científica"
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Sem perspectiva de início da vacinação contra a covid-19, a segunda onda do vírus já se consolidou na Europa. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Um grupo de cientistas e professores classificou como "falácia sem evidência científica" a possibilidade de usar a ideia de "imunidade de rebanho" para vencer a covid-19. O manifesto assinado por 80 professores e doutores de universidades de várias partes do mundo foi publicado hoje na revista científica britânica The Lancet.
Sem citar nomes, o documento relata que muitos países não souberam aproveitar o período em que estiveram sob lockdown: "Mesmo que tenha afetado a saúde mental e física das pessoas e que tenha causado muitos danos à economia, os efeitos são piores em países que não usaram o tempo durante e depois do lockdown para estabelecer sistemas de controle da pandemia".
Nestes lugares, dizem os cientistas, as restrições tiveram que durar mais e "compreensivelmente levaram a uma desmoralização generalizada e a uma quebra de confiança". O documento cita, porém, os casos de Japão, Nova Zelândia e Vietnã como exemplos de países que tiveram uma reação robusta de controle da transmissão, "permitindo que a vida voltasse a um quase-normal".
Os cientistas reforçam o que a Organização Mundial da Saúde voltou a confirmar nesta semana. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, classificou qualquer tentativa de usar essa estratégia sem uma vacina como antiética.
"Imunidade de rebanho é alcançada protegendo a população do vírus, não expondo as pessoas", afirmou. "Nunca na história da saúde pública, a imunidade de rebanho foi usada como estratégia para combater um surto, muito menos uma pandemia". Ele lembrou que o conceito se aplica à vacinação apenas. "No caso do sarampo, é preciso vacinar 95% da população para que os outros 5% fiquem protegidos".
Ainda sem perspectiva de início da vacinação contra a covid-19, a segunda onda do vírus já se consolidou na Europa. Boa parte dos novos contágios, segundo o escritório europeu da OMS, aconteceu em ambientes fechados, onde as pessoas passam muito tempo juntas, como em casa e em bares e restaurantes.
As novas medidas de restrição adotadas por vários governos tentam diminuir essa possibilidade. Na França, o toque de recolher entre 9 da noite e 6 da manhã começa no sábado. Vale em Paris e em outras oito grandes cidades do país. O golpe na vida noturna dos franceses, segundo o governo do país, pode ser um golpe no vírus também.
Bares e restaurantes foram fechados na Bélgica, República Tcheca, Holanda e tiveram os horários limitados em Portugal e na Espanha. A partir de sábado, Londres será colocada no grupo de risco alto para o novo coronavírus. A principal mudança é justamente a proibição de reuniões entre quem mora em endereços diferentes. A nova regra vale para bares, restaurantes e inviabiliza, inclusive, uma visita à casa de amigos ou familiares.
O sistema de cálculo epidemiológico da OMS estima que elevar o uso da máscara para 95% da população européia e reduzir drasticamente as reuniões em lugares públicos e privados pode salvar a vida de pelo menos 280 mil europeus até fevereiro de 2021. Relaxar as medidas, no entanto, pode significar até cinco vezes mais mortes do que no início do ano.
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