Funai pede desculpas por nota de 2022 sobre Bruno Pereira e Dom Phillips
Segundo órgão, texto divulgado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro trazia "série de inverdades"
Guilherme Resck
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) pediu desculpas, nesta 3ª feira (28.fev), por uma nota divulgada pelo órgão, em 10 de junho de 2022, sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Segundo o comunicado do órgão desta 3ª, a nota ameaçava a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) de processo judicial e trazia "uma série de inverdades" contra Bruno e Dom - que foram assassinados em 5 de junho último, no Vale do Javari, no Amazonas, quando apuravam atividades ilegais de madeireiros e garimpeiros na Amazônia.
Naquela data na qual o texto foi publicado, fazia cinco dias que o jornalista e o indigenista estavam desaparecidos, e a Funai era presidida pelo delegado Marcelo Xavier; atualmente, sua presidente é Joenia Wapichana.
Conforme o comunicado de hoje, a nota foi retirada do site da Funai por ordem da Justiça Federal do Amazonas, que a considerou "violadora de direitos humanos", "inoportuna", "indevida" e disse que o conteúdo não era "compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor".
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas pontua que a divulgação do texto tratou-se de um "capítulo lamentável" de sua história e classifica como importante o trabalho da Univaja, "organização indígena cuja colaboração é fundamental para a proteção e promoção dos direitos indígenas na região do Vale do Javari e sem a qual os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips não teriam sido, pelo menos em parte, solucionados".
No novo comunicado ainda, a Funai elogia Bruno Pereira e Dom Phillips. De acordo com a fundação, o primeiro "era um indigenista dedicado, de seriedade e compromisso amplamente reconhecidos, que sofreu perseguição dentro do órgão que o deveria proteger e foi exonerado de suas funções por incomodar criminosos, ou seja, por cumprir o seu dever como funcionário do Estado. Pagou com a vida pelo comprometimento inabalável que tinha com os povos indígenas".
Já sobre Phillips, afirma: "era um jornalista que devotava seu trabalho à proteção da Amazônia e de seus povos e também pagou com a vida por essa dedicação".
"Por isso tudo, hoje pedimos desculpas às famílias de Bruno e Dom. Os nomes deles foram insultados por autoridades públicas no momento mais difícil da vida de suas famílias e é dever do Estado brasileiro reconhecer a violência difamatória que sofreram, se desculpar com seus familiares e nunca mais permitir a repetição de atos dessa natureza", conclui a Funai.