Maracanã corre risco de virar elefante branco
Com aquisição de terreno na zona central do Rio pelo Flamengo, estádio pode perder relevância
Alberto Araújo
A possibilidade de o estádio do Maracanã se tornar um grande elefante branco, encravado no bairro do mesmo nome, na zona norte do Rio, é uma realidade não muito distante. O Maracanã, que os brasileiros conhecem e de que se orgulham, pode estar com os dias, meses ou anos contados.
Essa situação surgiu após o Flamengo arrematar em um leilão, por mais de R$ 138 milhões, um terreno no Gasômetro, na região central do Rio, para construção de seu estádio.
Apesar da parceria com o Fluminense na concessão do Maracanã, renovada por mais 20 anos, prevaleceu o sonho rubro-negro de ter seu próprio palco.
O Flamengo, questionado sobre um possível fim da parceria com o Fluminense na administração do Maracanã, limitou-se a dizer que o acordo segue firme e está mantido.
Não é o que pensam os fãs do Maracanã. O temor de que a história de glórias possa virar pó é grande. A dor de cabeça não é apenas por causa do sonho flamenguista de ter seu estádio. O Vasco da Gama anunciou uma ampla reforma de São Januário, com aumento de sua capacidade. O futuro estádio do Flamengo ficará a pouco menos de 3 quilômetros do Maracanã, um perímetro já ocupado pelo Vasco.
O Rio tem quatro grandes clubes. O Botafogo já tem o seu estádio. Dos quatro, somente um deles, o Fluminense, não conta com uma casa própria. O clube tricolor já sinalizou que não tem condições de arcar sozinho com a administração do Maracanã, caso a parceria com o Flamengo seja desfeita.
O governo do Estado ainda não se deu conta do problema que terá pela frente, mas uma coisa é certa, ainda não se tem um plano B.
Maracanaço
O Maracanã sediou duas Copas do Mundo: em 1950 e em 2014. Também sediou a abertura e o encerramento dos jogos Olímpicos em 2016.
O templo do futebol viu ídolos como o Rei Pelé e até a rainha da Inglaterra. Reverenciou astros como Zico, Maradona, Messi, Roberto Dinamite e Romário.
O Maracanã também se consolidou no mundo da música. O estádio recebeu shows memoráveis como o de Frank Sinatra, em 1980, com um público de 170 mil pessoas, além de Madonna e Paul McCartney.
O Maracanã sediou três finais de Libertadores: em 1981, 2020 e 2023. Apesar de tantas glórias, o estádio também foi palco de incidentes vergonhosos. O Caso do goleiro chileno Rojas foi o mais emblemático. Depois de jogarem um sinalizador no gramado, Rojas simulou ter sido atingido na cabeça e chegou ele mesmo a se cortar. O jogador acabou banido do futebol. O episódio ficou conhecido como "Maracanaço".
Outro exemplo foi a partida entre Brasil e Argentina, em 2023, válida pela sexta rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo. O templo do futebol se tornou palco de uma briga generalizada entre torcedores e polícia nas arquibancadas. As cenas lamentáveis aconteceram antes do início do jogo. Na confusão, além de socos trocados, cadeiras foram destruídas e arremessadas de um lado para o outro.