"O maior líder popular deste país", diz Alckmin sobre Lula
Ex-governador discursou em evento no qual sindicalistas entregaram ao petista um conjunto de propostas
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) chamou nesta 5ª feira (14.abr) o ex-presidente Lula (PT) de "o maior líder popular deste país". Alckmin, que já foi crítico do petista, teve confirmada na 4ª feira (13.abr), pelo diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, sua indicação para compor como vice a chapa de Lula à Presidência da República. O elogio do integrante do Partido Socialista Brasileiro ao antigo adversário político veio, agora, em discurso num evento, na Casa de Portugal, em São Paulo, no qual centrais sindicais entregaram ao ex-chefe do Executivo federal a chamada Pauta da Classe Trabalhadora - uma série de propostas para um eventual novo governo dele.
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"Quando o Brasil precisava de uma Constituição cidadã, lá estava Lula, Ulysses, Florestan Fernandes, Mário Covas, Fernando Henrique. O Brasil está aqui unido neste momento grave onde nós temos um governo que odeia a democracia. Um governo que tem admiração pela tortura, que faz o povo sofrer. É neste momento de desemprego, de estômago vazio, de inflação, de fome, de morte, 662 mil mortos, que o Brasil se agiganta aqui hoje nessa reunião histórica com as mais importantes centrais sindicais. E quero dizer que venho somar o meu esforço, pequeno, humilde, mas de coração e entusiasmo em benefício do Brasil. A luta de vocês, a luta sindical deu ao Brasil o maio líder popular deste país. Lula, Lula, viva Lula", afirmou Alckmin, animando o público, que passou a entoar "olê, olê, olá, Lula, Lula".
O clima do evento foi de plena aceitação da chapa do petista com Alckmin que se desenha. Diferentes sindicalistas que discursaram chamaram o ex-governador de "companheiro", e o próprio integrante de PSB falou "companheiro Lula, companheira [deputada federal] Gleisi [Hoffmann]". Segundo o ex-governador, o dia é "histórico". "Reúnem-se as maiores centrais sindicais do país. É um exemplo que se remete à nossa história. Todas às vezes que o Brasil estava em risco, o Brasil se uniu, não se apequenou", completou.
Lula, por sua vez, disse que a Pauta da Classe Trabalhadora entregue a ele "é quase um programa de governo"; o documento foi aprovado na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) de 2022, em 7 de abril. De acordo com o petista, é necessário "sentar e conversar" tanto com os sindicalistas como com os demais setores da sociedade para poderem "construir um programa de reconstruir este país".
Como de costume, em sua fala, relembrou acontecimentos da época em que governava, como criação de 22 milhões de empregos com carteira assinada, estabelecimento do Programa Minha Casa, Minha Vida, e aumento real do salário mínimo, e criticou o governo Bolsonaro (PL). Segundo Lula, a atual gestão do Palácio do Planalto não conversa com sindicatos, negros e mulheres, por exemplo, mas, se for eleito, o "país vai ter um governo que conversa com todo mundo".
Em um eventual novo governo Lula, disse, levará empresários e sindicatos para discutirem temas, em uma mesa de negociação, que pode ser coordenada pelo vice. "A gente não vai fazer nada na marra", pontuou. Prometeu ainda, entre outras coisas, reajustar o salário mínimo a cada ano de acordo com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além da reposição inflacionária; e atuar visando à realização de reforma tributária "que leve em conta que quem ganha mais tem que pagar mais".
Outro tema abordado por Lula foi o Congresso Nacional. Conforme o político, para "fazer as mudanças necessárias", é preciso elegerem maioria de deputados e maioria de sanadores. Atualmente, acrescentou se referindo a deputados, "raposas" estão cuidando "do galinheiro". Em determinado momento do discurso, o ex-presidente falou também estar vivendo uma "novidade" em sua trajetória na política, porque nunca antes houve uma campanha em que todas as centrais, com exceção da CSB, estiveram juntas para apoiar. A CSB é presidida por Antônio Neto, pré-candidato a deputado federal pelo PDT, que tem Ciro Gomes como presidenciável.
Entre as centrais representadas no encontro com Lula nesta 6ª, estiveram, por exemplo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT). Paulinho da Força, presidente de honra da segunda, estava presente, mas não discursou. Porém, quando colegas se referiram a ele, em diferentes momentos, foi vaiado por parte do público; alguns o chamaram de "traidor". O motivo é que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Vários sindicalistas falaram, para, em especial, apresentar temas abordados na Pauta da Classe Trabalhadora. Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, fez uma comparação do atual cenário da categoria com o que se observava em 2011, quando o petista havia acabado de deixar a Presidência da República. Segundo ele, naquele ano, havia 107 mil trabalhadores no setor no ABC, ante 68 mil de fevereiro deste ano. "Portanto, perdemos 37% dos empregos que nós tínhamos em 2011", afirmou. Além disso, disse que, no governo Lula, houve aumento real de 11% no salário da categoria, ante uma queda de 14% no salário médio em 2020. Ao final da fala, pontuou: "O compromisso que os metalúrgicos do ABC trazem aqui é que você vai votar ao poder, Lula".
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Araújo, falou que, "durante o governo do Partido dos Trabalhadores, a educação era tratada com uma visão sistêmica: da creche à pós-graduação". De acordo com ele, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o qual chamou de golpe, e o teto de gastos, instituído no governo Temer, destruíram "o sonho da inclusão social e escolar no nosso país". Ainda no discurso, disse ser necessário pensar a educação como "direito humano" e chamou Lula de "o melhor presidente que esse país já teve".
Aristides dos Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) criticou a reforma trabalhista: "prejudicou os assalariados. Gerou trabalho escravo". Posteriormente, Sandra Regina, ligada à UGT, falou da importância de creches 24 horas para que mulheres deixem os filhos -- para serem bem cuidados --, para poderem trabalhar, além da licença parental -- visando ao mesmo objetivo --, e disse que trabalhadores neste momento estão "aniquilados com a reforma trabalhista e a reforma previdenciária" e precisam de Lula "para corrigir todas essas maldades". Já conforme Edson Carneiro Índio, da Intersindical, o país precisa de uma "verdadeira reforma trabalhista" e, para superar a miséria, reverter o teto de gastos. Segundo a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a última, do governo Temer, gera miséria.
A entidade ainda pediu para Lula investir na educação, moradia e segurança. Já Chiquinho Pereira, presidente do Sindicato dos Padeiros de São Paulo, afirmou que o maior problema do país, o qual faz muitas pessoas não terem acesso aos direitos básicos, é os governantes não terem "caráter". Alckmin e Lula, de acordo com ele, tem caráter. Também no discurso, pontuou que um eventual governo Lula precisará reconstruir "tudo aquilo que destruíram" e retirar o "nosso povo da rua".
De acordo com Lula, "loucura é a gente deixar um brasileiro dormir embaixo da ponte como estão dormindo em São Paulo hoje". Em um eventual governo, falou, haverá subsídio para que os mais pobres tenham casa. O petista aproveitou o discurso também para dizer que trabalhadores empreendedores devem ter os mesmos direitos de um CLT. Do lado de fora da Casa de Portugal, um carro de som agitava os convidados que chegavam para participar do encontro. Entre eles, o vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT). Este, antes de o primeiro discurso ter início, subiu ao palco para animar o público. Muitas pessoas vestiam camisetas de centrais sindicais ou do PT.