Número 2 de Haddad no Ministério da Fazenda defende autonomia do Banco Central
Dario Durigan disse que a independência das decisões garante "que não haja oposição política, que haja diálogo técnico, que haja entendimento"
Carlos Catelan
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, o número 2 de Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (6) ser favorável a gestão autônoma do Banco Central (BC), uma mudança aprovada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — posição contrária a adotada pelo atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Ainda, Durigan defendeu uma transição no comando da autarquia “sem arroubo [êxtase] político”. O atual presidente do BC é Roberto Campos Neto, principal alvo de Lula nas críticas à instituição, que foi indicado pelo Executivo anterior e termina seu mandato em 31 de dezembro. Em sua visão, a independência das decisões do banco garantem a isonomia e impedem imbróglios políticos.
“Garante que não haja oposição política no Banco Central, que haja diálogo técnico, que haja entendimento, isso é muito importante", declarou o secretário da Fazenda em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A declaração foi dada durante um painel realizado pela Confederação Nacional da Indústria, em que Durigan representou o titular da Fazenda, Fernando Haddad.
Lula X Campos Neto
O governo, desde quando tomou posse, vem tendo embates com as definições da Selic, a taxa básica de juros do país, que influencia outras taxas do país, como empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras e é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlar a inflação. Acontece que a trajetória de cortes (atualmente, interrompida há duas decisões) é considerada tímida e o valor (10,5%) avaliado como exorbitante por governistas.
Lula e seus aliados (mas também representantes da indústria e do comércio/varejo) argumentam que a Selic está para além do dobro da inflação (4,23% em junho no acumulado de 12 meses, com expectativa, segundo boletim Focus do BC, de 4,12% em 2024), vide outras taxas básicas de juros. No exterior, por exemplo, a alta dos preços nos EUA está em 3,5% (maio), com esperança do Fed (Reserva Federal em tradução livre, o banco central dos norte-americanos) em levá-la a 2% no final do ano, já a taxa básica de juros foi definida em até (lá, divulgado como intervalo) 5,50% (em julho).
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Entretanto, como anunciado também nesta terça (6) em ata que manteve o valor da Selic, o BC "não hesitará em elevar a taxa de juros" para manter a meta da inflação. Na justificativa, a autoridade monetária do Brasil disse estar preocupada com a alta do dólar e as reações do mercado.
Resumo: de um lado, justifica-se o dólar como um sinal de que é preciso ser mais cauteloso com a inflação, freando o consumo, do outro, de que o valor é exorbitante e limita o crescimento do país.
"Foi aprovado pelo Congresso , a independência do Banco Central. Foi indicado o cidadão pelo governo passado. Eu tenho que ter muita paciência na hora de indicar outro candidato e ver se a gente consegue, sabe, com a maior autonomia possível — que é decência política das pessoas — que o presidente do Banco Central olhe um pouco este país do jeito que ele é, e não do que jeito que o sistema financeiro fala", disse Lula no começo de julho, "quem quer o BC autônomo é o mercado", completou.
Como alegado por Lula, em seus mandatos anteriores os presidentes do Banco Central tinham autonomia. A mudança então seria apenas um interesse do mercado especulativo de ativos. “Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?", questionou o petista na mesma época à imprensa.
O atual líder da União não indicou ainda seu substituto com a saída programada de Neto.