Juro neutro: no que pensam os diretores do BC na hora do Copom
Debate sobre a taxa de juros segue em alta no Brasil após nova manutenção da Selic em 13,75% ao ano
Guto Abranches
As discussões sobre a taxa de juros no Brasil não cessam -- mesmo depois da decisão de não alterar a Selic, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na última 4ª (21.jun). Na verdade, o assunto não sai de cena exatamente por isso.
Mesmo diante de uma pressão intensa, e de uma expectativa gerada não propriamente pelo corte dos juros agora, mas de ao menos uma sinalização por parte do BC quanto a uma possível redução da taxa básica em agosto. Ou setembro. Ou ainda em 2023, pelo menos. E nada.
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Confira aspectos ressaltados pelo Copom para a decisão de manter a Selic inalterada.
- O ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento.
- Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024.
- Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
A economista explica ainda como a combinação dos juros aplicados sobre a alta de preços mexe com a vida das pessoas, de maneira até didática. O fundamental é considerar os cinco instrumentos da política monetária. Confira:
"1) Mudança de vontade de consumir e passar a poupar: quanto maior o juro, mais você se sente estimulado a poupar e não a consumir.
2) Muda a taxa de câmbio. Quanto maior a Selic, quanto mais o nosso governo paga aqui, mais os gringos vão ficar com vontade de investir aqui e não lá fora, principalmente se o juro lá de fora for bem pequeno. Então aumentando a Selic aqui, atrai mais investimentos e esses investimentos valorizam a nossa moeda. Quando você valoriza a moeda a população de um país se sente mais rica em dólar e começa a consumir mais lá fora, diminuindo a demanda sobre os produtos nacionais. E isso é uma pressão baixista para a inflação, vocêc reduz a demanda agregada local.
3) Muda o preço dos ativos. Imagina que uma ação é um fluxo de dividendo descontado a valor presente por uma taxa X. Se essa taxa aumenta, você traz a valor presente por uma taxa muito maior, o preço desse ativo cai então tem um efeito riqueza negativo aí diminuindo a sua confiança, a sua riqueza, e portanto a sua vontade de consumir. Então aumento de taxa de juros causa um efeito riqueza negativo.
4) O aumento de taxa de juros torna o crédito mais caro. E, portanto, desestimula o consumo. Menos pessoas vão pegar crédito e portanto menos pessoas vão consumir.
5) Aumento de taxa de juros muda as expectativas, gera uma expectativa de que a inflação lá na frente vai ser controlada , que a atividade vai estar um pouco mais fraca, então você investe menos, você já consome menos, vai se preparando e assim joga a demanda agregada pra baixo".
Causa e efeito
O aumento da taxa de juros acima do neutro, através desses cinco instrumentos de política monetária, desaquecem a demanda, desaquecem a economia e jogam a inflação em torno da meta, rumando pra meta. Quando chegar na meta , aí você tem que apertar o botão do piloto automático. Você tem que voltar o juro pro juro neutro e ficar lá na taxa de juro neutra. Hoje, no Brasil, a taxa de juro neutro é estimada em aproximadamente 6,5%. É o parametro para permitir crescimento sem que os ciclos econômicos sejam socialmente danosos. Pra que a população não pague o preço.
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