Americanas: ex-gestores fraudaram contabilidade, aponta investigação
Assessoria jurídica constatou que números do patrimônio e operações financeiras eram mentirosos
Guto Abranches
A assessoria jurídica da Americanas apresentou relatório ao conselho de administração do grupo, onde são detalhados procedimentos adotados pela companhia e que deixam claras as condutas irregulares na rotina contábil da empresa. Cinco meses depois de divulgados publicamente a crise e o rombo financeiro da empresa, a Americanas admite que ocorreu fraude na demonstração das obrigações financeiras.
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Em fato relevante enviado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite desta 2ª (12.jun), a Diretora Financeira e de Relações com Investidores, Camille Loyo Faria, comunica os resultados encontrados. "Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas", afirma. A data do início do processo de fraude não foi identificada pelo comitê independente de investigação.
Confira íntegra do documento abaixo:
Doc Americanas by João Carlos Coutinho on Scribd
Maquiagem dos balanços
Ponto relevante destacado no levantamento da área jurídica da Americanas aponta que houve esforços para mascarar a realidade financeira e patrimonial da companhia. Tudo a cargo da diretoria anterior da Americanas, afirma o relatório. A origem das irregularidades estaria em verbas publicitárias não existentes na realidade que, por prática de mercado, são apontadas mesmo antes de serem efetivamente recebidas. No cálculo entrariam verbas de propaganda artificialmente criados para "melhorar os resultados operacionais da companhia". Ao longo do tempo, a prática teria resultado em saldo preliminar e não auditado de R$ 21,7 bilhões de reais em setembro do ano passado. As contrapartidas, igualmente não auditadas e sem lastro associado que as garantissem, se deram na forma de lançamentos nas contas de fornecedores (redutores).
Para fazer caixa a fim de assegurar a continuidade dos negócios do grupo, a Americanas teria lançado mão de uma série de financiamentos no mercado, sem aprovação societária e inadequadamente contabilizados. Foi a partir destes procedimentos que, por não apresentar contabilização devida, não foi possível desde o início que a empresa apresentasse a real dimensão das dívidas e da proporção do rombo financeiro, entre outros efeitos.
Nomes
O relatório apresentado pela assessoria jurídica da Americanas relaciona ainda os nomes dos supostos responsáveis pelos procedimentos fraudulentos. São eles:
- Miguel Gutierrez, ex-CEO ( que se desligou da companhia em 31 de dezembro de 2022)
- José Timótheo de Barros - diretor (afastado em 03 de fevereiro de 2023 que apresentou renuncia em 1º de maio de 2023)
E os colaboradores que foram afastados de suas funções executivas na companhia em 03 de fevereiro de 2023:
- Anna Christina Ramos Saicali - diretora
- Márcio Cruz Meirelles - diretor
- Fábio da Silva Abrate
- Flávia Carneiro
- Marcelo da Silva Nunes.
A Americanas afirma manter negociações com seus credores, conforme já comunicado ao mercado.
Mercado financeiro
O mercado financeiro recebeu bem as informações sobre a varejista. Em dia de alta forte, os papéis da Americanas chegaram a saltar 19%, para depois fechar em 6% positivos. Os analistas de mercado enxergam a possibilidade de uma recuperação importante da companhia, a partir da identificação dos responsáveis pela crise.
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