"Se a gente não subisse os juros, a inflação seria 10%", diz Campos Neto
Presidente do BC diz que empresas e pessoas ricas conseguem se adaptar à inflação alta, mas os pobres não
O presidente do Banco Central do Brasil (BC), Roberto Campos Neto, respondeu nesta 6ª feira (21.abr) às cobranças sobre cortes de juros. Em encontro organizado pelo grupo Lide, em Londres, Campos Neto afirmou que o custo de combater a inflação -- leia-se, decidir subir os juros -- é alto, mas deixar de fazer o combate aos preços tem custo muito mais alto e mais perente. A apresentação do chefe do BC soou como resposta às pressões por cortes de juros, sobretudo agora que o governo entregou ao Congresso o projeto de regramento fiscal - o que abriria espaço para desaperto monetário.
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No mesmo espaço em que esteve Campos Neto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, tinha falado no dia anterior. O senador se dirigiu a Campos Neto e disse que com esses juros o país não cresce.
"A inflação, meu caro Roberto Campos Netto, contida. Nossa moeda estável. Agora, nós precisamos crescer o Brasil. E nós não conseguiremos crescer o Brasil com a taxa de juros a 13%" - Rodrigo Pacheco, pres. Senado Federal Brasileiro
Hoje foi a vez de o presidente do Banco Central do Brasil apresentar os argumentos e motivos que levaram a autoridade monetária a sustentar os juros nos atuais 13,75% ao ano desde agosto de 2022. Veja abaixo os principais pontos da apresentação de Roberto Campos Neto a uma platéia de empresarios e autoridades brasileiros e europeus.
Autonomia do Banco Central
O BC sempre atuou de forma autônoma, e fez grande subida de juros em ano de eleição [em 2022]. Se o BC não tivesse feito isso teriamos provavelmente inflação muito descontrolada e um custo pra sociedade, de trazer a inflação de volta [aumento de juros] muito maior. A inflação é o imposto mais regressivo que existe; transfere poder de compra das pessoas para o governo e é um causador de desigualdade.
Campeão de juros reais
O Brasil sempre teve juros reais mais altos, mas agora são inferiores à média mundial e precisamos trabalhar para que caiam mais. O Brasil tem diversas causas específicas que explicam isso.
Ações do BC
As reformas estruturais feitas nos mercados de crédito fizeram com que o spread caisse muito nos últimos quatro anos. O BC teve a maior agenda inclusiva da história, com cooperativismo, microcrédito, educação. E nos últimos cinco anos promoveu a maior revolução financeira que a gente viu nesse país através do PIX, que é só o começo porque tem outras coisas que estão vindo em seguida.
Decisões
O BC é um orgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos e transparentes . O timing técnico é diferente do timing político, e é por isso que a autonomia é importante, pra dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos, tomando as decisões técnicas, sem viés político. O custo de combater a inflação é alto e é sentido primordialmente no curto prazo.
Mas o custo de não combater a inflação é muito mais alto e perene. Se a gente não tivesse subido os juros a inflação não seria 5.8% seria 10%; no ano seguinte seria 14% e se isso tivesse acontecido, a gente teria que estar com juros de 18,75% - para o mesmo objetivo - hoje e ter que subir mais os juros no ano que vem colocando o Brasil numa recessão de 3% ou 4% . Foi um pouco o que aconteceu da ultima vez em que o Brasil tentou cair os juros sem condições de credibilidade.
Que inflação é essa
Tem um argumento que eu escuto muito " a inflação é de oferta, se é de oferta não precisa juros". Bom, primeiro quando a gente compara oferta e demanda a gente chega a conclusão de que hoje tem muito mais componentes de demanda do que de oferta. E mesmo que a inflação fosse de oferta, os Bancos Centrais tem o dever de combater o que a gente chama de efeitos secundários: que é quando os efeitos da inflação de oferta se propagam na cadeia.
Pior pra quem
Tem vários estudos sobre processos hiperinflacionários brasileiros que mostram que as empresas brasileiras se adaptam rapidamente à inflação mais alta, que os ricos, as pessoas que tem recursos, se adaptam rapidamente, mas os pobres não.
"A inflação é um grande instrumento de desigualdade e de aumento de pobreza. A gente precisa passar a mensagem de que a inflação é um imposto regressivo, o governo ganha dinheiro porque abre mais espaço fiscal, as pessoas perdem , quem tem dinheiro se protege quem não tem dinheiro não se protege " - Roberto C Neto, pres. BC
Juros básicos
Sempre escuto que a gente tem que cair os juros porque a gente tem que estimular o crédito. Bom, o juros só funciona no crédito se ele tiver credibilidade. Porque os juros atuam nas condições financeiras, condições gerais de liquidez da economia. Já tivemos ocasião de cair os juros e o crédito caiu, porque ele não tinha credibilidade naquele momento pra cair os juros. Lembrando que os juros que o BC decide é o juros de um dia, todos os outros juros quem decide são as pessoas e as empresas que emprestam pro governo. E elas fazem o preço de acordo com o risco que elas entendem que o governo tem. Se a gente faz um ajuste nos juros sem ter as condições, o resultado é muito desastroso no crédito.
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