O Caminho da Indústria: globalização e a concorrência internacional
Ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil ficou para trás em termos tecnológicos e de infraestrutura
Simone Queiroz
No quarto episódio da série de reportagens especiais "O Caminho da Indústria", o SBT Brasil mostra como a globalização e a concorrência internacional impactaram o setor.
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Ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil ficou pra trás em termos tecnológicos e de infraestrutura, e hoje os produtos nacionais não conseguem competir de igual para igual em mercados mundiais.
"A gente perdeu concorrência pra China, principalmente, Indonésia, Índia, Turquia, por vários itens que influenciam no custo de um produto, que seria o custo Brasil hoje", afirma Jean Cesar Marques, diretor de uma fábrica de sapatos em Franca, no interior de São Paulo.
A fábrica em que Jean trabalha conta com 300 trabalhadores. Dos 35 mil pares de sapatos produzidos mensalmente, apenas 25% vão para exportação. No início dos anos 2000, mais da metade iam para os mercados europeu e americano.
Compare: o preço médio de um sapato brasileiro exportado é de 8,50 dólares. Já o chinês é vendido por um 1,70 dólar. Difícil competir, por isso, muitas empresas de Franca não resistiram às dificuldades.
A concorrência internacional impactou duramente as exportações das fábricas de Franca, conhecida como a capital nacional do calçado masculino. Em cerca de 30 anos, caiu de 15 milhões para apenas 3 milhões o número de pares de sapatos produzidos lá e vendidos para fora do Brasil.
O setor calçadista é um só um exemplo de como a globalização pegou a indústria brasileira despreparada para competir nos mercados mundiais.
No ano 2000, os produtos industrializados representavam 75,5% das exportações brasileiras. Em 2022, a participação deles encolheu para 43%. Ocuparam o espaço, produtos agropecuários. Nenhum problema em vendê-los, mas é fato que os bens agrícolas têm menor valor agregado. Historicamente são os países mais industrializados e globalizados que impactam positivamente no nível de vida dos seus habitantes.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considera que a China e outros países da ásia se prepararam para essa virada e o Brasil não.
"A gente perdeu a estrutura de planejamento e os fluxos estão aí. Enquanto diversos países do sudeste asiático fizeram essa passagem de um país pobre, para um país de renda média, depois de renda alta, o Brasil ficou nessa chamada armadilha da renda média, que é um país de renda média", diz Igor Rocha.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou um plano com estratégias para reindustrializar o país, que inevitavelmente passam por resolver os gargalos tecnológicos e de infraestrutura, que amarram o Brasil ao passado.
"Nós temos um estoque de investimentos públicos em infraestrutura e hoje o governo não aporta nem os recursos necessários a manutenção desse estoque de investimento já realizado. Nos últimos anos a contribuição de recursos públicos foi se reduzindo, ela hoje tá entre 1,5% e 2% do PIB, deveria pelo menos 4% do PIB", diz Lytha Spíndola, diretora de Desenvolvimento Industrial e Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
As consequências estão no aumento dos gastos com logística, afetando o custo de vida interno e a viabilidade das exportações. É o famoso custo Brasil. Um sapato, por exemplo, no ponto de venda, mais os encargos, mais a operação do lojista, ele às vezes dobra ou triplica de preço. Mas o cenário não é só de problemas, e o Brasil tem como virar o jogo.
Concentrar a produção de determinados itens em poucos países é um enorme problema, principalmente em momentos de crise. Lembra da falta de máscaras e respiradores no início da pandemia, porque a China não dava conta de abastecer as encomendas vindas de todo o planeta? A dificuldade recente abre novas perspectivas para o Brasil, por que não?
"Nós estamos vivendo um cenário global bem conturbado, nós estamos vendo muitos movimentos de transferências de empresas de países pro outro, portanto hoje temos uma oportunidade única de atrair investimentos industriais pro Brasil", diz Lytha.
Um ponto a nosso favor é o enorme potencial energético, e a biodiversidade, matéria-prima fundamental, por exemplo, para a indústria de remédios. É sobre isso que vamos falar na reportagem de amanhã.
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