O Caminho da Indústria: os motivos da redução de emprego no setor
A abertura às importações, a mudança do perfil do trabalhador e a falta de investimento são alguns
Simone Queiroz
No segundo episódio da série de reportagens especiais "O Caminho da Indústria", o SBT Brasil mostra os motivos da redução do emprego no setor ao longo dos anos.
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A abertura às importações no início da década de 90, a mudança do perfil do trabalhador e a falta de investimento em tecnologia são alguns deles.
Você pega o carro, ou o transporte público, escolhe uma roupa, toma um café, sintoniza a TV ou o celular no SBT, nem paramos para pensar, mas em cada uma dessas atividades geramos vários empregos a começar na indústria.
A indústria é marcante na história do país, mas também das famílias brasileiras, e de uma em especial que a reportagem mostra: Seu Altair, Alessandro, Maria Eduarda. Se nós somarmos o tempo de trabalho deles, em uma fábrica, são quase 60 anos trabalhando na mesma linha de montagem.
Seu Altair já se aposentou, mas estava na ativa durante a greve dos metalúrgicos do ABC Paulista, em 1980, que projetou para o mundo o operário e sindicalista, três vezes presidente da República.
"Tudo que eu tenho na vida foi construído nessa empresa. Daqui eu estudei meus filhos, comprei minha casa, comprei meu carro", conta Altair Flores dos Santos.
Alessandro, o filho, visitava a fábrica desde criança: "sonhava, eu quero trabalhar aqui, e eu com 18 anos eu entrei aqui na Volkswagen. Muitas pessoas tinham vontade de trabalhar aqui", conta.
A indústria é o setor que mais provoca inovações na cadeia produtiva, estimula outras atividades e gera os empregos que estão na média da economia.
As máquinas levaram a uma redução de mão de obra, mas não só elas. Uma queixa recorrente é a concorrência com os produtos importados, que chegaram em peso a partir do governo Fernando Collor de Mello em 1990.
O presidente da CUT, Sergio Nobre, recorda, sem saudade, o período em que a economia brasileira se abriu em nome de uma maior competitividade: "as empresas brasileiras não tiveram tempo de se programar para a competição. Na época se dizia que a melhor política industrial era não ter nenhuma, e foi determinante para impulsionar o processo de desindustrialização no nosso país".
Inverter o processo exige muitas frentes de trabalho, e uma delas aponta para os juros. Atualmente, a taxa está em 13,75% ao ano. Reduzi-la é uma das bandeiras da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp.
"Não tem como a indústria de transformação sobreviver e ter exito com juros tão altos. Ela é muito sensível a crédito, tanto para as pessoas comprarem bens da indústria, como eletrodoméstico, carros. Uma indústria precisa de crédito para ter uma boa técnica, que esteja na fronteira tecnológica", afirma Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp.
A modernização do parque industrial brasileiro depende de investimento tecnológico, mas também naqueles que estão à frente, atrás, comandando as máquinas: os trabalhadores. Nas últimas décadas, é evidente a mudança de perfil dos operários.
O nível de escolaridade exigido hoje é maior. Na indústria automobilística, por exemplo, estima-se que metade dos empregados tenha nível superior.
"Com o avanço tecnológico que a gente tem aqui na indústria, tem se demandado mais qualificação profissional, qualificação técnica, na operação do dia a dia, de eletrônica, de digital", afirma Douglas Pereira, vice-presidente de RH da Volkswagen.
O economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas ensina: é fundamental apostar na educação. "Se o governo quer realmente estimular a indústria, o setor produtivo, tem que ir junto estimular a formação das pessoas, então, o ensino técnico de qualidade para essas pessoas, que vão depois poder ser contratadas, pra indústria, o ensino médio profissionalizante, tudo isso é fundamental. O apagão de mão de obra, ele vai aparecer quando a economia crescer mais e ele não se resolve de um dia pro outro", diz.
Nada é de um dia para o outro, e um problema que se arrasta há anos é a carga de impostos que recai sobre o setor produtivo. Para a indústria, a reforma tributária é mais que urgente, e é tema da reportagem de amanhã.
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