Como a bioeconomia, baseada em produtos florestais, geraria R$ 1,2 trilhões
Valor seria somado ao PIB mundial. Mas precisa de incentivos, como as commodities. Confira no Foco ESG
Pablo Valler
O sucesso de um país está muito atrelado ao seu desenvolvimento econômico, certo? Mas, com o tempo, a economia se transforma e os negócios da atualidade podem não ter a mesma importância daqui uns anos. Um exemplo são as fontes de energia. O petróleo perde cada vez mais espaço, seja por interesse do consumidor ou com subsídios dos governos. Enquanto isso, as renováveis são incentivadas. São aquelas geradas a partir de plantas, de água, do vento ou de processos de fabricação limpos, como o que acontece com o hidrogênio verde.
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Além do energético, outros setores passam por modificações. Provavelmente, o de alimentos é o mais comum. Quase banalizado. Por isso, pouco lembrado. Você já reparou quantos tipos de iogurtes existem agora? Integral, semidesnatado, desnatado, zero lactose, tipo quaker - que, na verdade, é queijo; bebida láctea - que, na realidade, nem é iogurte; uma quase infinidade de opções. Tem ainda aqueles que até certo tempo não eram alimentos. Ao menos não em escala industrial. É o caso do açaí. De exótico, encontrado apenas no norte brasileiro, a produto de exportação difundido em todos os continentes.
O açaí é só o começo. Há uma variedade grandiosa em nossas florestas, como lembra a pesquisadora e gerente do programa Florestas de Valor, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Helene Menu: "A gente trabalha tentando identificar mercados para esses produtos. Por exemplo, o Cumaru - uma fava parecida com a baunilha, original da Amazônia. Como a gente organiza um mercado que pague preço justo? Uma negociação direta, já que agora tem como levar pelo rio. O que há 20 ou 30 anos era difícil".
A evolução dos meios de transportes ajuda, mas falta muito. Muito para que as cadeias, inclusive, se formalizem a ponto de fazer com que os produtores percebam a valorização de seus produtos. "Muitos sistemas florestais geram mais de R$ 5 mil por ano por hectare. Compare com a pecuária. São R$ 500 por ano por hectare. Então, faz todo sentido fazer chegar nos mercados mundiais. Vamos torcer para que aconteça como aconteceu com o açaí, que mudou a vida de mais de 500 mil pessoas na Amazônia", atesta Helene.
A formação de um novo mercado como esse favorece também o combate ao desmatamento. Hoje em dia, muitas famílias são sustentadas pelo crime por não terem outras oportunidades de renda em meio às florestas. Mas a "bioeconomia" poderá mudar essa situação por completo. Manter as árvores em pé pode gerar R$ 1,2 trilhões até 2030 ao PIB mundial. É o que mostra uma pesquisa do economista Bráulio Borges, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Um grande e positivo diferencial econômico que contribuiria com o planeta. Imagine o que não pode fazer com os povos que vivem nas florestas. "O grande potencial econômico da floresta Amazônica é mantê-la de pé e explorar a riqueza da biodiversidade. Inclusive, nós chamamos de sociobiodiversidade. Para valorizar o conhecimento dos povos indígenas, das comunidades locais", lembra Carlos Nobre, pesquisador-sênior da Universidade de São Paulo (USP) e da Royal Society (Reino Unido).
Ele também é idealizador do projeto Amazônia 4.0, nome que remete a floresta à tecnologia. É o que o Brasil e o mundo precisam, diz o pesquisador. Existe país desenvolvido que não seja industrializado? Não. Nós vamos nos tornar uma economia primária, pobre. Temos que industrializar a Amazônia. Já desenvolvemos um laboratório, uma pequena biofábrica na cadeia do cacau, do cupuaçu. Vamos levar para Santarém, para a reserva Tapajós. Vamos capacitar as comunidades".
Após 20 anos de trabalho, Carlos conta que está "bastante otimista" e continua: "Senti claramente que a maioria dos países amazônicos querem encontrar esses caminhos. Então, nós temos que trabalhar juntos para encontrar. Esses produtos só tem preços elevados porque as distâncias são longas, a logística é complexa. Mas pode e deve mudar. Porque esses produtos oferecem serviços ecossistêmicos, tem um benefício para a sociedade, para o planeta. Enquanto as commodities promovem o desmatamento, esses produtos, o contrário. Pena que as commoditties tem subsídio dos governos e esses produtos não", critica.
Confira a entrevista completa no Foco ESG:
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