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Copom mantém taxa de juros em 13,75% ao ano

Banco Central não emite sinais de possível flexibilização do aperto monetário, como esperava o mercado

Copom mantém taxa de juros em 13,75% ao ano
Copom mantém juros
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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), manteve inalterada a taxa de juros referencial da economia brasileira em 13,75% ao ano. É a sexta reunião consecutiva com a Selic neste patamar, desde agosto de 2022. A permanência da taxa em valor elevado já tinha suscitado críticas até por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), semanas atrás, em pressão aberta direcionada ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ainda na 3ª feira (21.mar), um novo ranking dos maiores juros reais do mundo foi divulgado pela Infinitiy Asset. O Brasil figurou uma vez mais no topo da lista, com taxa real de 6,94% a.a.

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A decisão de manter a Selic estacionada foi unânime - uma vez mais - entre os diretores que compõem o colegiado. No comunicado do BC divulgado conjuntamente com a decisão, a diretoria do Copom manifesta que houve deterioração do ambiente externo desde a reunião anterior do Comitê, em fevereiro/23. Diz o documento que " os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista", em alusão ao cenário de reação das principais economias às pressões inflacionárias, elevando os juros. 

Cenário Doméstico

No Brasil, os indicadores recentes apontam para desaceleração da atividade econômica, relata o Copom. E com inflação resistindo. " As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente". No cenário de referência da autoridade monetária, as projeções da inflação para 2023 elevaram-se para 5,8%; e para o ano que vem se situraram em 3,6%. Ao falar em horizonte "relevante", o relatório menciona uma vez mais os seis trimestres à frente. Outra citação importante: "A incerteza em torno das suas premissas [do BC] e projeções atualmente é maior do que o usual". 

São motivos relacionados pelo Comitê como riscos de alta da inflação os seguintes fatores: 

- Maior persistência das pressões inflacionárias globais

- A incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública

- Uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Entre os riscos de baixa, ressaltam-se uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. (...) O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado" - Comitê de Política Monetária/BC 

Abaixo as repercussões da decisão do Copom.

André Perfeito, economista e consultor

"O recado é simples; se a inflação não cair, o BCB não irá cortar os juros. Não sabemos o quanto seria necessário cair para dar o sinal verde para algum corte uma vez que para o BCB a questão na mesa é a inflação e somente essa. Dito isso, está praticamente descartado um corte em maio e junho, apenas se as expectativas ancorarem. Está claro outro aspecto da decisão. O Planalto irá reagir e como já argumentei em comunicado recente isso irá se retroalimentar inflamando os ânimos". 


Enrico Cozzolino, head de analise e sócio da Levante Investimentos

"Banco Central notou a piora do ambiente global e vai observar se a manutenção nesse patamar elevado [da Selic] vai dar conta da inflação. Manutenção dentro do que a gente tava esperando, colocando uma tranquilidade do lado fiscal, com a reoneração dos combustíveis alivia um pouco o lado fiscal mas não totalmente tranquilo com ancoragem dessas expectativas. Ele vai se manter elevado até a desinflação começar a acontecer de forma sustentável". 

Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos 

"A decisão pela manutenção era consenso no mercado financeiro. O Copom reforçou a preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação e reafirmou que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas. 
Se havia expectativa de que o Banco Central pudesse ceder às recentes pressões do governo, suavizando o comunicado ou dando sinais sobre futuros cortes de juros, isso não aconteceu. A postura fortalece a percepção de autonomia do Banco Central. 
As recorrentes correções para cima nas projeções de inflação preocupam o Banco Central, que segue avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. Inclusive, o Comitê reforçou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

"Hoje, não há elemento para sair de política monetária restritiva para expansionista. Se na próxima reunião (2 e 3 de maior) houver resolução fiscal, o Copom poderia alterar as sinalizações. Portanto, a antecipação do corte da Selic é condicional aos termos do novo arcabouço fiscal" - Camila Abdelmalack, Veedha Investimentos 

Nicolas Tingas, economista chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento)

"Se a desinflação perseguida e a ancoragem de expectativas perseguida, não forem atingidas, o Banco Central não vai hesitar em retomar o ciclo de aperto monetário. É um compromisso por perseguir a meta. Apesar do texto hawkish do Banco Central , ele está sinalizando que aperta o juros se precisar , mas implicitamente ele falou que os passos futuros, se for necessario, serão ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso a desancoragem não ocorra. Agora, ele não falou que se a desancoragem e a desinflação forem obtidas no próximo trimestre, não falou que tecnicamente eu posso considerar que ele pode baixar os juros  no Copom de maio ou junho."

Jason Vieira, economista chefe da Infinity Asset 

" A falta de um plano fiscal crível, adiado agora para abril, tão somente descortina o quão ideologizado está o tema nas fileiras do governo, pois pelo pouco que se sabe, ele seria fiscalmente responsável, quase um palavrão dentro do PT. (...) Isso tudo somente significa que o Banco Central não tem como emitir o tão desejado sinal de início do afrouxamento monetário, sem antes o governo cumprir seu papel e apresentar o plano fiscal, o qual pode não ser suficiente, caso embarque todas as demandas do governo". 

Rodolfo Margato, economista da XP

"A sinalização foi até um pouco mais dura do que a maioria do mercado imaginava, entre atores políticos, de mercado e da sociedade como um todo. 
Uma sinalização firme do Copom em meio a um quadro de elevação de expectativas de inflação especialmente para médio prazo. Houve o reconhecimento ainda dos choques adversos do sistema financeiro internacional (...) e mercado de crédito e setor bancário, mas é isso, uma linguagem dura, compatível com um quadro de desancoragem de expectativa de inflação e de uma política monetária mantida no terreno contracionista por mais tempo, inclusive com um cenário para inflação subindo um pouco mais do que se imaginava, no modelo do Banco Central." 

Cláudiio Frischtak, CEO da Inter B Consultoria

"Nesse momento, com a decisão do Fed [ que elevou os juros em 0,25 pp], vc tem uma pressão adicional no sentido de manter os juros. Porque uma redução de juros pelo BC neste momento, além de afetar a credibilidade do Banco Central do Brasil, depois de toda essa pressão externa, política e etc, tambem será uma pressão sobre o real, no sentido de desvalorizar o real; porque o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos tá se reduzindo, e se o nosso BC reduzir ainda mais [os juros aqui], você pode ter uma fuga do real, o que é mais um elemento de pressão inflacionária [no sentido de que a busca pelo dólar, que desvaloriza o real, tende a 'importar' inflação para o país]. 

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