Publicidade

O que será do Copom?

De olho em quebras de bancos lá fora, pressões da inflação e exigências políticas, BC decide como ficam os juros

O que será do Copom?
Decisão sobre os juros
Publicidade

De um lado, os problemas bancários com o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank (SB), nos Estados Unidos, e o Credit Suisse, na Europa - pra não chamar de problema a injeção de US$ 30 bilhões no First Republik Bank, também nos EUA -; do outro, a contagem regressiva para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mais pressionada dos últimos tempos.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News 

Entre um e outro, o mercado financeiro, observadores, analistas e investidores buscando uma fonte confiável que aponte -- e de preferência acerte -- o rumo que vai tomar a política monetária no Brasil a partir dos dias 21 e 22 de março.

Apostas há em profusão, mas argumentos também, sobretudo para defender a necessidade de um corte de juros; se resta alguma dúvida, é só em relação a quando se dará o primeiro corte.

A maior parte dos economistas acha que vem agora um sinal de flexibilização do aperto, para ocorrer um corte efetivo somente na próxima rodada de Copom, nos dias 2 e 3 de maio.  Vale lembrar que, no mesmo dia, o Federal Reserve decide no Comitê de Mercado Aberto (FOMC - na sigla em inglês) como ficam os juros nos EUA. 

Quebra da banca

Difícil é manter o equilíbrio "distante" entre taxas de juros e valor dos títulos públicos absorvidos pelos bancos. Subir os juros como o Federal Reserve fez, em curto espaço de tempo -- situação idêntica a do Brasil, com a diferença de que o Copom iniciou as puxadas na Selic antes das principais economias do mundo -- é mortal para quem está abarrotado de papeis do governo, mesmo que sejam os " mais seguros ativos do mundo", como é o caso dos títulos americanos.

Quanto mais treasuries na carteira, mais sujeito a solavancos fica o banco, no caso de os juros subirem rapidamente: juros sobem, os " preços" dos papéis caem fortemente. Na hora de botar a balança em equilíbrio, o banco tem que ter recursos suficientes pra isso, considerando a diferença de valor. Ou seja, tem que botar dinheiro para zerar a conta.

O SVB não tinha... e quebrou. Daí analistas de toda parte chamarem a atenção para o risco constante para as instituições financeiras conviverem com uma carteira pesada em papéis do tesouro, durante períodos de taxa de juros altas e mantidas altas por longo prazo. 

Estica e puxa

Não faz muito tempo o próprio presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) deitou reclamação na forma de críticas diretas ao chefe do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto: sem economizar no palavreado, Lula mais de uma vez disse não haver justificativa para que o Brasil seja dono da maior taxa de juros reais do mundo. (Veja ranking abaixo). 

ranking juros reais
Tabela dos juros reais Infinity Asset / fev 2023 | Reprodução/SBT

Foi Lula falar e o centro financeiro da Faria Lima reclamar. Não sem antes assistirmos a flutuações na bolsa e no câmbio que, por óbvio, não aconteceriam sem o embate de opiniões - mesmo que não se pretendesse descobrir quem está com a razão.

Eis que entrou em cena o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o compromisso assumido de entregar a proposta de nova âncora fiscal. Inicialmente, o novo "arcabouço " sairia até o final do semestre.

Não à toa, Haddad resolveu antecipar a apresentação da proposta para esta sexta-feira (17.mar). Corações e mentes antenados, o presidente Lula recebeu a proposta, conheceu os detalhes, e agora define quando a tornará pública. " Está nas mãos dele", desferiu Fernando Haddad. " A Fazenda cumpriu o cronograma que propôs cumprir", completou. 

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Equilíbrio e terremotos

É no compromisso e principalmente na postura do ministro Haddad que os dinheiristas gostam de apostar. É como se ele assumisse o papel de ser o anteparo entre as exigências mais para ideológicas de parte do núcleo político do PT que, à volta de Lula, faz peso sobre o que foi um dia compromisso de campanha: priorizar o resgate social.

Ajuste no fiscal, principalmente se for pela lado da redução de despesas, é sinalizador considerável para ser levado em conta. Equilíbrio maior das contas, rima perfeitamente com patamar menor de juros.

Assim, um corte na Selic cumpriria o papel de documentar a atitude de Lula e do seu governo em busca de resgatar o que foi prometido, de quitar essa conta.

Ao menos deste início de governo e, preferencialmente, antes de se completarem os primeiros 100 dias do Lula 3. Sem corte dos juros neste Copom, este prazo já não poderá ser respeitado.

Mas se houver uma sinalização de que o ciclo de aperto monetário tende a ser rompido, já não será em vão. 

Do lado da argumentação amparada pelos ditames da economia, também não faltam elementos a favor da redução da Selic. Mesmo que o movimento se inicie com a "não subida" da taxa na próxima reunião.

Sim, ainda que não seja uma unanimidade, alguma preocupação com a possibilidade de uma alta de juros agora está colocada......ou esteve, até recentemente.

Veja a seguir, depoimentos de economistas sobre o encaminhamento da questão dos juros no Brasil. 

Marília Fontes, sócia da Nord Research 

"Se tinha alguma chance de subir juros (atenção que os núcleos de inflação por aqui estão acelerando), agora parece que não tem mais. Quando o Copom tiver que decidir sobre os juros, já vai saber sobre o arcabouço fiscal ( se veio bom ou não) e se há mais desdobramentos sobre a crise dos bancos americanos --- e agora do Credit Suisse.  Até lá é esperar". 

"Nesse momento o BC no Brasil não tem informações suficientes para mudar sua estratégia. Por um lado a gente ainda não conhece a totalidade dos desdobramentos da crise bancária na Europa e nos Estados Unidos e por outro lado tem muitas pressões inflacionárias no Brasil fazendo com que a convergência da inflação do IPCA à meta seja muito lenta. Então nesse momento o BC tem que aguardar mais informações antes de fazer qualquer mudança de estratégia. Dito isso, na próxima reunião do Copom el , como todo mercado espera, mantém a taxa básica em 13,75% e deve comunicar que está aguardando maiores informações. Acho que não deve haver grandes novidades no Copom apesar do 'terremoto'que se viu esses dias na Europa" - Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV.  

José Francisco Lima Gonçalves, - professor de Economia da Universidade de São Paulo

O Fomc tem reunião na próxima semana. Assim como o Copom. O Fomc deve continuar o ciclo de alta da taxa referencial, embora com 25 pontos [0,25 pp], ao invés dos 50 [0.50pp] esperados até outro dia.

Vai buscar cautela, isto é, movimentos de rápida reversão, sem abandonar a meta de inflação. Difícil não haver alta. A reunião do Copom se encerra depois da reunião do Fomc e da entrevista coletiva de Powell, com o mercado ainda aberto lá, fechado aqui.

Pode ser cedo para cravar a expectativa das decisões dos dois comitês. Mas um ambiente global mais incerto, com viés desinflacionário (veja commodities) e inflação resistente serão tomados como referência, o que enseja moderação no ciclo de alta de juros pelo mundo. Aqui, o ambiente é mais complicado.

A avaliação do Copom sobre a inflação corrente e esperada, a atividade, e o balanço de riscos pode ser afetada pela desinflação global. Mas, enquanto o PLC do arcabouço fiscal não virar lei... Por outro lado, o comportamento recente dos juros, inclusive pelo andamento do projeto de lei, apoia sinais de queda da Selic. 

André Perfeito, economista

"Não acredito que o Banco Central do Brasil (BCB) não vá sinalizar cortes em breve (não corta nessa reunião, mas na de maio).
Alguns motivos:

  • Com as commodities em queda, o iBovespa naturalmente já sofre por conta da grande participação de empresas de materiais básicos, se os juros se mantiverem altos empresas sensíveis ao crédito e ao consumo doméstico irão sofrer muito mais fazendo o índice cair;
  • Se mesmo com a quebra do SVB e dos problemas com o Credit Suisse o BCB não sinalizar que irá cortar os juros em breve, não precisa ser um grande estrategista político para saber que o Planalto e o PT irão colocar toda sua artilharia sobre o BCB e aqui temos o grande problema.
  • Adicionalmente se o BCB não sinalizar um corte de juros em breve mesmo depois que a Fazenda apresente o novo Arcabouço Fiscal , seria como se a Autoridade Monetária tivesse jurado de morte a proposta antes mesmo de ser levada ao Congresso, fazendo sua aprovação quase impossível.

"Não devem cortar já a taxa muito por conta de toda a discussão que surgiu no início do ano entre o Planalto e o BCB e aqui cabe a máxima, quando se recua um exército em campo de batalha não se deve fazer isso nem tão devagar que pareça provocação nem tão rápido que pareça covardia" - André Perfeito, economista.

À espera das decisões -- e de olho nos bancos pelo mundo -- os mercados fecharam com tendência de queda. Confira.

  • Dow Jones: -1,20%
  • S&P 500: -1,10%
  • Nasdaq: -0,74%
  • CAC (Paris): -1,43%
  • DAC (Alemanha): -1,33%
  • FTSE (Londres): - 1,01%
  • Ibovespa: - 1,40% / 101.982 pontos
  • Dólar (no Brasil):  + 0,61% cotado para venda a R$ 5,27%

Leia também 

+ Em comitiva disputada, Lula deve fechar cerca de 20 acordos na China

Publicidade
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
sbtnews
economia
juros
copom
guto abranches

Últimas notícias

Ao falar sobre invasões de terra, Lula diz que agronegócio deve temer bancos e não o MST

Ao falar sobre invasões de terra, Lula diz que agronegócio deve temer bancos e não o MST

Segundo o presidente da República, "faz tempo" que os sem-terra não invadem terras no Brasil
Turistas são encontrados após desaparecerem em caverna de Goiás

Turistas são encontrados após desaparecerem em caverna de Goiás

Grupo visitava o Parque Terra Ronca quando entrou numa caverna sem guia turístico e apenas com os celulares; Eles foram localizados na manhã desta segunda (1°)
Dia 9 de Julho é feriado em todo o Brasil? Saiba quem folga e o que é celebrado

Dia 9 de Julho é feriado em todo o Brasil? Saiba quem folga e o que é celebrado

Data homenageia a Revolução Constitucionalista, quando paulistas lutaram a favor de um governo democrático, em 1932
Lula nega desvincular reajuste de benefícios do salário mínimo

Lula nega desvincular reajuste de benefícios do salário mínimo

Presidente afirmou que é preciso cuidado para mexer em questões relacionadas aos mais pobres
Suprema Corte dos EUA decide que Trump pode ter imunidade parcial

Suprema Corte dos EUA decide que Trump pode ter imunidade parcial

Corte devolveu processos para a 2ª instância, atrasando os julgamentos para depois das eleições de novembro
SC: Em ameaça à ex, homem invade e destrói estabelecimento com carro

SC: Em ameaça à ex, homem invade e destrói estabelecimento com carro

De acordo com a vítima, autor do crime não aceitava o fim do relacionamento; ameaça foi cometida no local de trabalho da mulher
Corregedor nacional de Justiça arquiva processos contra juízes da Lava Jato

Corregedor nacional de Justiça arquiva processos contra juízes da Lava Jato

Para o ministro Luis Felipe Salomão, do STJ, há "ausência de justa causa para abertura de processo administrativo disciplinar"
Polícia investiga caso de fisiculturista encontrado morto na Bahia

Polícia investiga caso de fisiculturista encontrado morto na Bahia

Corpo de Salomão Magnin estava enrolado em lençol, no estacionamento de uma cabana de praia em Porto Seguro
Verme causador da meningite é encontrado em caramujo

Verme causador da meningite é encontrado em caramujo

Instituto Oswaldo Cruz confirmou presença do “parasito” em molusco coletado no município da Baixada Fluminense
Empresário que agrediu esposa é preso por tentativa de feminicídio

Empresário que agrediu esposa é preso por tentativa de feminicídio

Chorando, homem afirmou "não ter nada para se arrepender" na delegacia; crime foi cometido em Goiás
Publicidade
Publicidade