Bolsa Família: especialista alerta para distorções cadastrais
Governo lançou novo programa com valor mínimo de R$ 600,00

SBT News
Um dos desafios do Governo Federal na execução do novo Programa Bolsa Família, lançado nesta 5ª feira (2.mar), é evitar que indivíduos de uma mesma família se dividam no cadastro para ganhar um benefício maior. A análise é do doutor em economia Marcelo Neri, diretor do FGV Social.
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"É uma coisa que herdaram do Auxílio Brasil. Fez com que famílias de uma só pessoa, chamadas famílias unipessoais, aumentassem de 15% para 26%, porque a pessoa, se forem duas famílias em vez de uma, recebe duas vezes R$ 600,00, e esse é um grande problema. Mas o governo está tentando atacar isso, restringindo as famílias unipessoais, só a população de rua que se encaixaria", pontuou o especialista, em entrevista ao SBT News.
Em suas palavras ainda, "o programa é relativamente barato, mesmo na sua versão atual, três vezes mais caro do que antes, mas é um efeito três vezes maior sobre a pobreza, está mais ou menos em linha com países desenvolvidos, só que foi introduzida essa distorção, desde a época do Auxílio Emergencial, depois Auxílio Brasil, que é por família. Se as pessoas se dividem em mais de uma família, elas ganham um benefício maior, então é um mau desenho, que acaba desperdiçando metade dos recursos".
Na avaliação de Neri, o Bolsa Família funciona como uma grande plataforma, mas faltam "ações de inclusão produtiva e o desenvolvimento de agentes sociais que reconheçam os potenciais e as carências de cada família". "Eu acho que esse também foi um aspecto que foi perdido nos últimos tempos".
Entretanto, o especialista acredita que a volta do programa, de maneira geral, é "bem-vinda em termos de combate à pobreza, seja no curto, seja no longo prazo". Ele relembra que o novo Bolsa Família revaloriza "a questão das condicionalidades, do acompanhamento de vacinação, de presença escolar, matrícula, que são importantes dado os efeitos da pandemia. A gente tem essa plataforma que ajuda a trazer as pessoas de volta para a saúde, para ações de educação".
Outro ponto positivo do programa, ressalta, é o fato de não ser burocrático para um ex-beneficiário voltar caso perca o nível de renda que o fez sair. Também conforme Neri, "a desigualdade no Brasil era maior antes desses programas, do Bolsa Escola, do Bolsa Família, do que depois, mas é um processo que exige um constante aprimoramento, principalmente inclusão produtiva e na identificação das necessidades da população".
*Com colaboração de Guilherme Resck
Assista à entrevista completa: