Economia americana cresce consistentemente, para o bem e para o mal
Atividade produtiva e empregos no 4º TRI sustentam apostas de crescimento moderado, em lugar de recessão
A economia americana cresceu 2,7% no 4º TRI do ano passado. As estimativas do mercado apontavam para uma alta de 2,9%. Os números foram divulgados nesta semana, pelo Departamento do Comércio dos Estados Unidos.
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Apesar de ter saído 0,2 ponto percentual abaixo do previsto pelos economistas, o fato de a economia ter se movimentado no plano positivo mexeu favoravelmente com os ânimos do mercado. Para boa parte dos observadores, um crescimento, mesmo que revisto para baixo, em meio a um cenário que considera ainda o mercado de trabalho aquecido - os pedidos de seguro desemprego vieram muito baixos - é um sinalizador de que o fantasma da recessão pode até estar ficando para trás. Ou, na pior das hipóteses, de que ela será menos intensa do que se imaginava.
"O PIB americano segue forte mesmo revisado pra baixo [de 2,9% para 2,7%] o PIB anual ainda muito forte (2,1%) mostra que a economia americana segue muito forte puxada principalmente pelo setor de serviços. E também com alta no número de emprego, maior número da geração em cinquenta anos, é recorde histórico da economia americana. Mas no momento em que o Banco Central quer baixar a inflação e vem subindo os juros para desaquecer a economia, ela segue pujante com bons números e batendo recordes", avalia Piter Carvalho, economista chefe da Valor Investimentos.
Juros sobre juros
De uma forma ou de outra, os analistas parecem dar cada vez mais como certo que o Federal Reserve (FED), o Banco Central americano, irá manter a política de restrição via juros elevados por mais tempo. É que o mesmo mercado de trabalho que consta positivamente como elemento a apresentar uma economia ativa, "pressiona" os preços via consumo acelerado. Isso quer dizer, inflação. O Comitê de Mercado Aberto (FOMC - na sigla em inglês) do Fed volta a se reunir nos dias 21 e 22 de março e na sequência em 02 e 03 de maio, ambas reuniões em coincidência com as datas do Copom brasileiro. Nos dois encontros, a maioria dos economistas crava novas altas de 0,25 ponto percentual sobre a taxa de juros. Se confirmadas, as altas levarão a taxa de referência da economia americana para o intervalo entre 5,0% e 5,25% ao ano. Mas a ponta final das altas pode chegar aos 6% a.a., nas contas de alguns analistas mais apreensivos.
Preços do consumidor
Na 6ª feira (24.fev) saiu o índice do custo de gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) do mês de janeiro. Descontadas as variações com alimentos e energia, consideradas mais voláteis, mais sujeitas a flutuações intensas, o núcleo do indicador avançou 0,6%, contra a média das projeções e contra o mês anterior, ambas marcas em 0,4%. Com o resultado, o núcleo dos preços subiu 4,7% no ano, acima dos estimados 4,3%. Em doze meses, a alta bateu em 5,4%, também acima de uma previsão de mercado que ficou em 5,3%,
Na 5ª feira (23.fev) tinha sido divulgado o correspondente ao 4º TRI de 2022: alta de 3,7%. Quando excluídas as variações de energia e alimentos, o avanço do núcleo do indicador foi de 4,3%. "A alta [do PIB] não foi tão forte como a do trimestre anterior, principalmente pela desaceleração dos gastos com consumo das famílias. O Fed espera que isso aconteça como efeito da política monetária contracionista", avalia o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, José Francisco Lima Gonçalves, que tem larga experiência também no mercado financeiro. A dubiedade dos números fica estampada também no duplo desafio do Federal Reserve - como em geral, de todos os principais bancos centrais na atualidade: qual a calibragem da taxa de juros para não desacelerar demais a economia e segurar a inflação?
"O PCE, a inflação ao consumidor aí embutida, teve alta nos preços dos serviços e queda nos de bens. Assim, seu núcleo acelerou. O Fed acha isso ruim, porque a economia cai e a inflação não cai", diz José Francisco Gonçalves.
Ao final da 6ª feira (24.fev), os mercados nos Estados Unidos reafirmaram a preocupação com os resultados da macroeconomia. Confira os fechamentos.
- Dow Jones: - 0,80%
- S&P500: - 0,95%
- Nasdaq: - 1,61%
No Brasil, o Ibovespa seguiu a trilha do cenário internacional. No caso brasileiro, pesou também a divulgação do IPCA-15, que subiu 0,76% em fevereiro, acima do esperado (0,72%). O maior peso veio das despesas com educação (+ 6,41%). O Ibovespa fechou em baixa de 1,61%, aos 105.864 pontos. Já o dólar subiu frente ao real: + 1,23% cotado para venda a R$ 5,20.
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