Comitê de Política Monetária mantém juros em 13,75% ao ano
Decisão veio em linha com expectativa de mercado e deixa distante início de cortes na Selic
Em decisão unânime de sua diretoria, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil (BCB) optou por manter inalterada a taxa de juros referência da economia, a Selic, em 13,75% ao ano.
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O comunicado emitido pela autoridade monetária nesta quarta-feira (1º.fev) menciona alguns motivos que determinaram o direcionamento da decisão. Entre eles fatores de risco para a inflação:
"Em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se 1) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; 2) a ainda elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais que implicam sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e 3) um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho.
A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária - comunicado Copom
A ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, como referência de longo prazo para observar os efeitos da restrição monetária, também foi citada pelo Copom. Com a observação que aponta que a taxa Selic, mantida constante no período mais largo de tempo, revela projeções ligeiramente inferiores para a inflação: 5,5% para 2023; 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para 2024. "Essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", o que pode ser lido como maior estabilidade da economia e impulso ao mercado de trabalho. E ao final sentencia: "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado". Tanto a decisão, ela própria, quanto este posicionamento por parte do Copom terão repercussão durante o dia do Ibovespa nesta 5ª feira (2.fev), uma vez que ambos foram conhecidos com mercado financeiro já fechado no Brasil.
Na visão dos analistas
Nicolas Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, Acrefi. " O balanço de riscos ainda tem uma incerteza elevada. Há até possibilidade de que a desinflação em direção às metas não ocorra e isso pode levar até a uma subida dos juros. Não é o cenário central, mas o BC se coloca em posição de perseguir a convergência das metas.É uma forma de o BC dizer que vai trabalhar dentro do papel institucional dele. Temos de acompanhar de fato a política fiscal, que ainda estimula náo só o déficit alto e uma demanda, um gasto fiscal adicional que se mantém dentro de um ambiente onde a capacidade de produção e oferta e demanda estão mais próximos [ risco de pressão inflacionária a partir do consumo] ".
Cristiane Quartaroli, economista chefe do Banco Ourinvest. " BC vai continuar acompanhando indicadores para as próximas decisões porque embora inflação tenha diminuído, ainda está em patamar elevado. As projeções para o final deste e do próximo ano ainda estão acima da meta e subiram mais recentemente, de forma que ainda é cedo para o Copom sinalizar qualquer mudança na trajetória de curto prazo da Selic. O principal ponto destacado pelo BC continua sendo o impacto negativo que a condução da política fiscal possa ter sobre as projeções futuras de inflação, e esse é o principal motivo para manter as apostas de que a Selic vai permanecer em nível elevado por algum tempo. Somado a perspectiva de uma política menos restritiva por parte do FED tende a ser positivo para a nossa taxa de câmbio no curto prazo".
Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos - " A gente tem observado há sete semanas consecutivas uma revisão das expectativas de inflação para cima, em 2023 e para os anos seguintes. Dessa vez o BC citou pela primeira vez que a conjuntura particularmente incerta, no Âmbito fiscal, está fazendo com que as expectativas de inflação se distanciem das metas, principalmente no horizonte e tempo mais longo, e isso demanda maior atenção com a política monetária. Agora o Focus [ boletim do BC] está em 5,74% para 2023. Mas há um mês era de 5,13%, cada vez mais distante da meta de 3,5% e do teto de 5,0%. Para 2024, a projeção do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] passou de 3,84% para 3,90% mas há um mês era 3,66%, sendo que a meta é 3,0%, um recado claro de que a taxa deve ficar elevada por um período prolongado".
A decisão de manter os juros saiu com o mercado financeiro nacional já fechado.
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