Mercado financeiro em queda "reprecificando" nomes para economia
Especulações sobre nomes para comandar Petrobras e BNDES puxam cotações para baixo no Ibovespa: dólar sobe
O mercado financeiro nacional teve dia negativo influenciado diretamente pelo cenário da política. Ao longo da 2ª feira (12.dez), o Ibovespa chegou a descer mais de 4% por conta das discussões de investidores e analistas quanto aos nomes que podem compor o ministério do governo Lula.
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Entre vários nomes e posições, alguns são mais iguais que os outros. Têm mais peso por encerrarem áreas de atuação de largo alcance -- seja na economia, seja na movimentação do tabuleiro político, seja nos dois. Um dos nomes cotados para assumir posições estratégicas no novo governo é o do ex-senador Aloizio Mercadante, ele próprio coordenador dos trabalhos técnicos na equipe de Transição. Mercadante seria o favorito para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou até a Petrobras. O mercado reagiu de maneira negativa.
Lei das Estatais
Um dos elementos que mexem com as opiniões do mercado é o fato de Mercadante ser integrante em tempo integral da cúpula das decisões do petismo. E mais. Ter feito parte da campanha eleitoral que elegeu Lula, e estar à frente da coordenação técnica dos grupos de transição, ainda no presente momento. Não é mera antipatia. A Lei das Estatais veda participação em seus quadros de egressos de campanhas eleitorais e de postos de comando político-partidário por um período de até 36 meses antes da nomeação.
Daí a preocupação de fundo: a de que o presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva (PT), edite uma medida-provisória para alterar essa legislação, de modo a acomodar indicações políticas em posições decisivas. Todo movimento com sinal negativo no mercado por estes dias responde a esta possibilidade. " O mercado está refazendo suas contas, suas apostas no governo eleito. Está reprecificando as perspectivas para Lula", revela um analista de mercado que prefere não ter o nome divulgado. Reprecificar, aqui, é outro nome para "desconfiar"....e cobrar mais caro para aceitar.
Repercussões
" A preocupação com a economia brasileira é fiscal. O ano vai fechar com 76% de dívida/PIB. A opção do governo eleito por antecipar os gastos e adiar o ajuste, cria saltos anuais de 3 ou 4 pontos percentuais do PIB por ano para a dívida. Fazer o ajuste primeiro traria convergência da inflação, juros baixos e mais crescimento. Aparentemente a cabeça PT, 'gasto é vida', está prevalecendo. Boatos sobre Lei das Estatais e Mercadante no BNDES indicam que está em desmontagem a parte boa do governo Bolsonaro - a melhora da eficiência das estatais e do resultado primário. É um roteiro Dilma? Meirelles avisou e Lula está confirmando. Lula 3 é Dilma 3?. O resultado tende a ser parecido", aponta o economista em caráter de confidencialidade.
Foi o tipo de sentimento que puxou o Ibovespa para fechar a segunda-feira (12.dez) em queda de 2,00% aos 105.325 pontos. Na ponta oposta, o dólar avançou 1,26% até ser cotado para venda em R$ 5,35. Veja abaixo mais avaliações de especialistas do mercado.
Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research - "O Aloizio é político e pela lei das estatais ele não poderia ser presidente do BNDES, entrar nesse cargo e portanto, a Eurasia [Group, consultoria e análise política] cogitou que teria alteração na Lei das Estatais. Mas o Mercadante e o Nelson Barbosa desmentiram a informação dizendo que eles não teriam interesse em alterar a lei e que, portanto, o Mercadante não poderia estar no BNDES....ficou na verdade esquisito a informação, de qualquer forma o mercado não gostou. Os outros nomes cotados para os outros postos são do PT, quem pensa uma política econômica de mais gastos, mais estímulos e mais inflação. E o mercado responde a mais inflação com maior taxa de juros. Então hoje o dia foi bem ruim com aumento das taxas de juros e queda na bolsa. Quanto mais rápido ele divulgar os nomes da equipe, mais rápido o mercado se estabiliza caso sejam bons nomes, claro".
Étores Sanchez, Economista chefe da Ativa Investimentos - "Mercadante é defensor do intervencionismo, inclusive sugerindo que o Banco de Desenvolvimento saia do comando do Ministério do Planejamento e passe para a Indústria. Nessa linha depreende-se que, por mais uma vez, o BNDES possa vir a ser utilizado como um banco comum, concorrendo com a iniciativa privada, em paralelo a sua atribuição original de fomentar o desenvolvimento. Como se sabe, com recursos escassos haverá uma preferência por alocação, o que pode desviar o propósito do banco. Retomar a utilização do BNDES aos moldes do que se fazia no governo Dilma também reduz a eficácia da política monetária e eleva o juro neutro da economia".
Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos - Faz sentido quando você pega o receio do mercado por conta do Mercadante. Em relação a Petrobras ele fala em aumentar a política de refino, é um cara mais estadista então teoricamente aumenta um pouco mais o poder da Petrobras sobre o mercado de petróleo. Gera um certo receio porque o mercado quer menos estado pra isso, né.....E quando vc fala em BNDES o medo é ele voltar com uma política à la Dilma, né ... volta a questão das campeãs nacionais e um esforço maior para distribuição [de recursos] para empresas que já são bem capitalizadas e têm acesso a mercado de capitais. O receio do mercado é em relação a isso, entrar um cara que vai reforçar uma política mais nacionalista.
George Vidor, economista e jornalista de economia - " Paulo Guedes, goste-se dele ou não, teve o mérito de montar uma equipe essencialmente técnica no Ministério, embora tenha engolido bolsonaristas em áreas sob sua supervisão, mas nas quais o presidente queria ter ingerência. Felizmente nós últimos dez, quinze, vinte anos, formaram-se bons gestores nas áreas técnicas federais relacionadas à economia. Se Fernando Haddad tiver boa cabeça, também buscará nesse corpo técnico boa parte da equipe que o auxiliará na Fazenda. No entanto, sabe-se que há cargos políticos a serem preenchidos. Presidências do BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, etc. Enquanto Lula e o próprio Haddad não divulgarem esses nomes, o mercado ficará especulando. Quando o nome agradar, a bolsa sobe. Desagradando, cai. É por aí até o dia da posse...
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