Mercado recupera parte das perdas com saída de Mantega da Transição
Falas sobre PEC da transição chacoalham a bolsa, o dólar e os juros: "Paciência", disse Lula
Guto Abranches
No primeiro pregão após a apresentação da proposta para a PEC da Transição, o mercado financeiro voltou a esticar a corda como forma de pressão para saber quem será o timoneiro da economia, a ser definido pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A justificativa da vez --- já que os operadores lançaram mão da mesma estratégia ao longo da campanha presidencial --- foi o impacto causado sobre o humor da finança geral por conta da entrega da proposta da PEC da transição, que chegou a relacionar um total próximo a R$ 200 bilhões como "o furo" do teto de gastos.
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Quando e quanto
E ainda iria piorar. A proposta da proposta de emenda ainda trouxe no pacote a possibilidade de essa licença para gastar --- ainda que destinada a suprir as medidas de caráter social, como o novo Bolsa Família --- se tornasse permanente. Tudo isso junto, apresentado ao Congresso na noite da quarta-feira (16.nov) pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), o combo fiscal era uma bomba relógio com efeito contratado para explodir na abertura do mercado no dia seguinte. Não deu outra. Na manhã desta quinta-feira (17.nov), o Ibovespa já caía 2,40%. Dólar em alta de 1,77%, cotado para a venda a R$ 5,47. Para um movimento que iniciou o dia sob a frase dita por Lula na Cop 27, era uma confirmação. O presidente eleito disse " Vai cair a bolsa, vai subir o dólar? Paciência", ao falar sobre o respeito à "responsabilidade social", que desagradaria aos investidores.
Medida da tensão
Os analistas de mercado também se debruçaram ao longo do dia sobre um indicador menos comum para a maioria do público, mesmo o que já atua no mercado financeiro. O horizonte da curva de juros. É esta trajetória que aponta quanto de stress os detentores de papéis do governo -- em outras palavras, quem financia a dívida pública --, vão transformar em "preço", na forma de juros, a ser exigido para continuar a rolar as contas do governo. E essa curva empinou fortemente. Os juros futuros de títulos com vencimento em janeiro de 2023, saltaram 2 pontos, para 13,73% às 15h41. As taxas que vencem em jan/25, subiam nada menos do que 17 pontos, para 16,61%. Um sinal inequívoco, exibido de investidores para ser visto pelos demais investidores, de que a configuração proposta para a PEC pode significar um problema a mais para o governo, no longo prazo.
"A curva como um todo estressa na perspectiva de falta de clareza e pegar R$ 175 bilhões emprestado fora do teto, para pagar o Bolsa Família, terá um gosto salgado que é difícil de precisar no momento", apontava no meio da tarde o economista André Perfeito.
Nome à frente
O chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, Pedro Serra, lançou mão de um termo bastante emblemático para traduzir o dia do mercado financeiro.
" É uma decepção. O mercado comprou a ideia de um Lula mais ao centro, respeitando o teto de gastos e com um condutor da fazenda mais alinhado com a responsabilidade fiscal. Mas até agora não anunciou ninguém......", analisou.
Mais uma estocada na forma da pergunta que há tempos o mercado não vê respondida: quem será o Ministro? No fundo, no fundo, os operadores querem ter mais clareza sobre onde fazer suas apostas, de forma minimamente mais sólida: o nome do ministro da Fazenda, sem dúvida, seria um tiro certeiro. "Enquanto o mercado não ouve o chefe da economia, o mercado ouve o Lula. Aí dá nisso", já tinha dito na semana passada o economista chefe do Banco BV, Roberto Padovani.
De concreto
Já mais para o final do dia os investidores estavam atentos a um zum-zum-zum que torciam pra ver confirmado. Na verdade dois. O primeiro, dava conta de que o ex-ministro Guido Mantega deixaria a equipe de transição; e o segundo, apontando que o furo no teto poderia se um pouco menor, na casa dos R$ 150 bi. Este, ainda por conferir. O fato é que, diante das notícias - ou dos boatos -, o Ibovespa reduziu as perdas e fechou em baixa de 0,49%, aos 109.702 pontos. O dólar também subiu menos: 0,45% para ser cotado a R$ 5,40 para a venda. Amanhã tem mais.
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