Copom mantém taxa de juros básicos em 13,75% ao ano
Decisão veio dentro da expectativa da maior parte dos agentes de mercado; apostas agora são sobre início da queda da Selic
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa de juros básicos da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano. O patamar é o mesmo atingido em 3 de agosto deste ano, e o ponto mais alto da escalada de juros promovida pelo BC desde março de 2021, quando o índice estava na casa de 2,00% ao ano.
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Entre os observadores do mercado a maioria contava com a manutenção da Selic. É bastante comum a avaliação, pelos economistas, de que o início mais cedo da escalada de juros no Brasil -- antes de muitas das principais economias que hoje se veem às voltas com índices de inflação ascendentes -- acabou por resultar em: 1) enfrentamento mais direto e mais ágil da elevação de preços que, à esta altura, apresentaria os seus melhores efeitos; e 2) criar a perspectiva de encerrar o ciclo de elevação dos juros igualmente antes dos demais países. Sobre este ponto, debruçam-se as apostas dos analistas e agentes de mercado na tentativa de estimar --- leia-se, fazer preços sobre as ações, por exemplo -- quando terá início o processo efetivo de queda dos juros no Brasil. Aos poucos, vai se formando maioria que aponta o final do primeiro semestre de 2023 como data de referência para começarem os cortes.
Jogo contra
Mas até sair a decisão pelo Copom muita discussão foi colocada na mesa. A chance de uma elevação de 0,25 p.p. não estava totalmente descartada... mas quase. A interrupção da série de deflações na economia, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) apontando alta de 0,16% em setembro, contra uma previsão do mercado na casa de 0,09% em média, reacendeu o alerta. Sinal de pressão inflacionária ainda resistente, a partir de setores determinantes como Serviços, principalmente.
Para não perder de vista
Para manter olhos e ouvidos atentos, a difusão dos preços mostrou, dentro do IPCA-15, que nada menos do que 62,76% dos itens pesquisados subiram de preço. O indicador anterior tinha apontado alta em 59,95% desses itens. Quer dizer, observam os economistas, inflação ainda esparramada. Tanto que as casas de análise e investimento andaram refazendo contas. No caso da Ativa Investimentos, a projeção da inflação fechada do mês de outubro subiu de 0,33% para 0,48%. Efeito direto sobre os cálculos para o 2022 inteiro: nova alta, 5,2% para 5,4%.
Mas, mesmo diante da apreensão com os números do custo de vida, a posição fixa para os juros na reunião desta quarta-feira (26.out) do Banco Central foi majoritária no mercado. Até mais que isso. "É unanimemente esperado que não deveremos assistir alterações na taxa de 13,75%", vaticinava ainda cedo Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos. E isso ainda que considerando as declarações recentes a partir do BC, de que estaria atento para, se fosse o caso, promover novos aumentos. O que não tem cara de ser agora. "Mercado andou falando em mais 0,25 pp caso a situação apertasse", recorda Piter Carvalho, economista chefe do Valor Investimentos. Para o momento, a ideia era mesmo a manutenção, até pela proximidade do desfecho da eleição, quando diminui a frequência de oscilações acentuadas. Não que a política não influencie. Muito pelo contrário.
"Os 0,25 pp podem ficar pra 2023, principalmente se aumentar o risco fiscal -- a gente vê dois candidatos que prometem gastos e isso deve apertar o calo do nosso fiscal"
Piter Carvalho
Mercado financeiro
Antes da divulgação da nova taxa, o Ibovespa cedeu 1,62% até os 112.763 pontos. Na ponta oposta, o dólar subiu 1,22% e foi cotado para venda a R$ 5,38, máxima do dia.
Repercussões
Tatiana Nogueira, economista da XP : " Decisão e comunicado do BC em linha com o esperado. Nota sensibilidade com o fiscal, também no cenário externo, notadamente no Reino Unido. Faz todo sentido manter a observação à cerca disso mas nada que mude a condução da política monetária. Manteve projeção de inflação de 2022 e subiu 23 e 24 mas apesar disso, 2024 permanece abaixo de 3% que é a meta ( subiu de 2,8 pra 2,9). Sinaliza manutenção até junho do ano que vem quando deve começar o corte de juros levando a Selic pra 10pp no final de 2023".
Nicola Tingas, economista chefe Acrefi - Assoc. Nac. Inst. Crédito
" Comunicado aponta que queda de inflação fica mais pra frente, já que há indicadores internos pressionados, apesar de combustíveis, por exemplo, estarem cedendo por conta das medidas de desoneração de tributos. Mantém a atitude da reunião passada, quando achou que essa taxa em horizonte prolongado deverá fazer com que a inflação recue. E também com que as expectativas possam convergir em direção às metas de inflação principalmente pra 2024. Banco Central vai continuar observando cenário de riscos fiscis importantes, inclusive fora do Brasil, aumentos de taxas de juros internacionais que podem inibir capital para o Brasil e ainda muita incerteza com preços de commodities".
George Vidor, jornalista e economista: " A economia brasileira é regida por mercados, daí alcançar exatamente o objetivo central é uma tarefa quase impossível. Seja como for, o BC age mirando no alvo central.
Para 2022, embora a inflação esteja declinando, na melhor das hipóteses o índice que mede a inflação oficial ficará no topo do intervalo de tolerância. Para 2023, as expectativas do mercado financeiro ainda apontam para uma inflação acima do alvo central de 3,25%. Por isso, o Copom continua a manter as taxas básicas de juros muito elevadas,em 13,75% ao ano. Só deve reduzi-las , em princípio quando as expectativas para 2023 convergirem para o alvo central".