No Brasil, nem metade dos restaurantes doa comida que sobra
Ao somar desperdício da cadeia de alimentos, prejuízo pode chegar a US$ 1,5 trilhão em 2030 no mundo
Pablo Valler
A equipe da cozinha até que tenta. Afinal, desperdiçar comida incomoda em dois aspectos: moral e financeiro. Entretanto, é difícil prever todos os dois -- exatamente -- quantos clientes vão aparecer.
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Assim, 60% dos restaurantes, lanchonetes e bares tem sobras diárias. Desse tanto, não chegam a 40% os que doam os alimentos preparados a mais. É o que respoderam os 455 mil estabelecimentos-clientes da Ticket, operadora de vales-refeição, que pesquisou em parceria com a startup Comida Invisível.
De acordo com a empresa, apesar de desde 2020 existir uma lei que assegura a distribuição do excedente, muitos empresários ainda desconhecem. Alguns simplesmente discordam e dizem que poderiam ser estimulados com via impostos, com descontos.
Somando domicílios, indústrias e produção rural, desperdício de alimentos pode chear a US$ 1,5 trilhão em 2030 no mundo
A cada ano, em vez de diminuir, só aumenta o desperdício de alimwentos. Em 2030, estimas-se que o mundo pode perder, fazer mal uso ou dispensar no lixo 2,1 bilhões de toneladas. O equivalente a US$ 1,5 trilhão. O estudo é da Boston Consulting Group e foi publicado na 6ª feira (21.ago).
O relatório não só aponta o tamanho do problema como especifica por onde ou como ocorre, com cinco pontos-chave, que se forem trabalhados podem reduzir as perdas:
- Falta de conhecimento:
Quem trabalha com os alimentos, seja na produção ou distribuição, desconhece a dimensão do problema. "As empresas são boas opções para educar e conscientizar ao longo de toda a cadeia de valor. Governos e organizações sem fins lucrativos também podem tomar medidas para promover a conscientização".
- Má infraestrutura da cadeia de suprimentos:
Seja na logística ou no armazenamento, falta infraestrutura pública e até privada para evitar que uma grande quantidade de alimentos seja perdida ou estrague antes de chegar aos consumidores. É preciso priorizar a produção local, além de construir infraestrutura mais adequada, sugere o Boston Consulting Group.
- Ineficiência da cadeia de suprimentos:
É preciso repensar e projetar melhores estruturas. Tanto de espaço e ferramentas, como de práticas humanas e também de incentivos por parte do poder público. Um exemplo é a digitalização, que vai permitir um gerenciamento mais ágil e com menos falhas, pontua a consultoria.
- Falta de coordenação:
A cadeia de produção, incluindo fornecedores de matéria-prima e a indústria processadora, tem ainda falhas decorrentes de falta de informação e liderança nas decisções, alera o estudo.
- Políticas públicas e regulamentação ruins:
"Geralmente, as políticas regulatórias e fiscais não penalizam empresas e consumidores pelos resíduos que geram. Subsídios e outros programas estruturais podem criar incentivos perversos aos produtores para cultivarem em excesso. As datas de validade tendem a refletir maior conservadorismo, as empresas não têm os mecanismos certos para doação e os padrões cosméticos são arbitrariamente restritivos em certos mercados", entrega o relatório.
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