Bolsa de valores: só 16% das empresas têm metas de inclusão social
Mesmo com tendência ESG, pesquisa revela que faltam programas de diversidade
Apenas 16% das empresas listadas na bolsa de valores do Brasil, a B3, tem e apresentam em seus materiais de comunicação metas de inclusão social com mulheres, pessoas não-brancas e com deficiência (PCD). Quase a mesma porcentagem trata o tema vagamente e 59% não têm.
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A B3 tem na carteira 404 companhias de capital aberto, as quais 61 (15%) possuem metas específicas de inclusão de mulheres, 21 (5%) traçam uma estratégia para a inclusão de pessoas não-brancas e 7, (2%) consideram PCD nas metas.
A pesquisa que usou relatórios de sustentabilidade e documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é da consultoria Luvi One em parceria com a fintech Arara.io.
"Estamos falando de empresas de capital aberto que são vistas como as mais relevantes em seus setores. Com o tanto que se fala do tema hoje, é impressionante. Quando cruzamos, então, os diferentes tipos de inclusão, a taxa dessa ausência de estratégia sobe para 95%", afirma Felipe Gutterres, CEO da Luvi One e da Arara.io
Isso que a análise ainda descartou outros recortes, como classe social de origem, idade ou orientação sexual. Por causa de uma conhecida carência de dados despadronizados que não permitem comparações.
Os 5% de empresas que contemplam todas as categorias são aquelas que lidam diretamente com o público. Portanto, o pedido por justiça social bate à porta com maior frequência. No caso do setor de alimentos e bebidas estão Carrefour, Assaí e Ambev. Em vestuário há C&A e Renner. Em serviços financeiros se destaca apenas a XP.
Guterres alerta para o risco que essas empresas correm de perder valor de mercado. Ainda mais com as exigências surgindo mundo afora.
No contexto internacional, a bolsa norte-americana Nasdaq permitiu o estudo e planejamento de objetivos de inclusão nos recortes de raça, gênero e orientação sexual, que devem ser implementados em breve. Já o Parlamento Europeu anunciou que vai obrigar empresas de capital aberto a ter um mínimo de 33% de mulheres nos conselhos administrativos até 2026 - uma evolução pouco trabalhosa, pois 30,6% já possuem.
No Brasil, a presença delas é pequena. Principalmente quando se observam mulheres negras. Uma pesquisa do jornal O Estado de São Paulo revelou que entre 1.505 posições executivas em companhias de capital aberto, somente duas eram ocupadas por mulheres negras.
ESG
Uma pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 52 empresas de capital aberto e fechado revelou uma relação entre a presença de mulheres em cargos executivos e seus desempenhos em índices ESG. As de score baixo, 31% delas, não tem mulheres líderes. Mas elas estão presentes em 83% das companhias de "alto ESG".
Gutterres chama a atenção para outro fator: evitar o risco da má reputação. "Não basta que as empresas façam uma reestruturação dentro de casa. Existe um risco enorme nas cadeias de suprimento. Se um fornecedor apresenta más práticas, ele transfere o risco para o topo da cadeia", analisou ele sob a ótica de que ESG, assim como tudo que preza pela sustentabilidade, é um trabalho coletivo.