Bolsa fecha com forte queda puxada pela preocupação com juros nos EUA
Inflação ao consumidor americano acumula alta de 8,6% em doze meses, a maior marca em quarenta anos
O fenômeno da "inflação mundial" exibe sinais claros de que resiste, insiste...e assusta. Os dados divulgados nesta 6ª feira (10.jun), nos Estados Unidos, são um sinal deste processo. Saiu o CPI, que na sigla em inglês significa Índice de Preços ao Consumidor. O dado veio com alta de 1,0% em maio, número fortemente superior aos 0,3% do mês anterior, e bem acima das expectativas na média do mercado, que rondavam 0,5% a 0,7%. Os preços da energia subiram nada menos que 34,6% agora, sobre maio de 2021. Alimentos: mais 10,1%. Outra cifra que impressiona: em doze meses, a inflação acumula 8,6%, contra os 8,3% registrados para o mesmo período em abril. É a maior marca em quarenta anos e não deixa muito espaço para uma política folgada nos juros, dizem os economistas.
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"A política americana para os juros está muito frouxa", avalia José Márcio Camargo, Economista chefe da Genial Investimentos. Na opinião dele, o mercado americano está super aquecido, com salários crescendo acima da meta. "E tudo pra fazer a população comprar muito, uma demanda que pode gerar esta inflação que está aí", diz. Na mesma linha está Alex Agostini, da Austin Ratings: "Eles vivem uma situação de pleno emprego, recuperação da renda. Não há como os juros não subirem pra conter o custo de vida", avalia ele. Diante das pressões por parte do consumo, toda sinalização vai mesmo no sentido de um aperto do cinto por parte do Federal Reserve (FED), o banco central americano. "Isso levou os mercados de juros nos EUA a colocar novamente a expectativa dos Fed Funds [referência dos juros americanos] a terminarem o ano em torno de 3,0% e chegarem a 3,5% em 2023", aponta Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset.
E a trajetória aos poucos vai se definindo, na opinião dos economistas. Já para a próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto dos EUA (FOMC), na semana que vem, as análises apontam um provável aumento de 0,50 ponto percentual nos juros básicos. E outra dose igual na reunião de julho. Com isso, a taxa de referência nos Estados Unidos sairia dos atuais 0,75% para 1,75% já no mês que vem. Mesmo assim, para fazer frente a uma inflação nos níveis atuais, cada vez mais economistas acham que é pouco. Tanto que as apostas para uma escalada nos juros parando depois de agosto começam a ficar para trás. Nas contas, os analistas já falam até em mais 0,50 pp na reunião de setembro.
Risco
A questão é que, se as grandes economias mexem nos fundamentos com a mão pesada, as consequências ganham escala, e a aversão ao risco se esparrama sem fronteiras. Na 5ª feira (9.jun), o Banco Central Europeu já tinha deixado no ar a possibilidade de subir os juros em 0,5 ponto em setembro. "Na Europa a coisa está correndo mais solta ainda. A reação está sendo mais lenta do que nos Estados Unidos. Vão ter que aumentar os juros", diz Camargo. De qualquer forma, são economias grandes o suficiente para que suas ações pra segurar inflação tenham repercussão no mundo inteiro. Até antes de se tornarem medidas concretas. Foi saírem as notícias sobre os possíveis aumentos nas taxas e os mercados virem abaixo.
Nos Estados Unidos, o Índice Dow Jones caiu 2,73% nesta 6ª feira (10.jun). O Nasdaq - 3,52%. E o S&P 500 baixou 2,91%. A bolsa brasileira, a B3, também não resistiu. Queda de 1,51%. E o dólar, no Brasil, ficou em R$ 4,99.
Palavrão
As bolsas de valores antecipam decisões -- e a leitura dos cenários. E já têm "botado no preço" de seus papéis o risco de um cenário ainda pior. Entre os analistas, as altas de juros nas economias fortes até devem segurar a inflação. Mas a exemplo do que se teme no Brasil, também nos Estados Unidos o efeito siamês é refrear a atividade econômica. Se a parada for muito brusca é recessão. Se a inflação continuar alta... é estagflação. O pior dos mundos, dizem os economistas. "Os efeitos potenciais negativos atingem a todos os países", sentencia o economista Odair Abate. O desafio é calibrar a dosagem dos juros, segurar os preços e soltar a performance econômica. Qual a dose certa? A conferir.