Preços dos combustíveis: por que a paridade internacional é importante?
Especialistas explicam motivo para governo federal não alterar precificação e se existe alternativa para segurar inflação
Muito se fala que a Petrobras não deveria seguir a Paridade de Preço Internacional (PPI) para definir os valores cobrados pelos combustíveis no Brasil. Mas economistas e analistas do mercado de eneriga explicam que se o parâmetro for abandonado, a situação pioraria muito.
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"Se o combustível vendido pela Petrobras for mais mais barato que o internacional, alguns importadores (postos de combustíves) vão preferir não negociar o diesel lá de fora. Teriam que comprar mais caro lá e vender barato para competir aqui", esclarece Bruno Cordeiro, analista de energia da StoneX.
Ou seja, a demanda pelo diesel da Petrobras aumentaria e a possibilidade do produto acabar ficaria ainda mais próxima da realidade. O risco já é preocupante, como disse o ex-presidente José Mauro Coelho antes de deixar o cargo na 2ª feira (26.mai). Então, o PPI ajuda a equilibrar o mercado.
Sobre a possibilidade de faltar diesel, Bruno analisa que, provavelmemnte, acontecerá nos postos de bandeira branca, que não tem contratos com grandes refinarias, como a Petrobras. O analista também pondera que nem todas as regiões devem sofrer o desabastecimento. O sudeste está entre as privilegiadas.
O fator frota
Há mais um fator prejudicial, que aumentou a demanda por diesel no Brasil. A frota de caminhões e ônibus está maior. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em 2021 houve um crescimento de 43% em emplacamentos. Além da revnovação, os usados também foram mais comercializados, alta de 18,6% em um ano.
O aumento foi impulsionado pelo agronegócio, com mais uma safra recorde que precisava ser escoada. A consequência, Bruno conta: "no primeiro trimestre desse ano a gente teve o maior consumo de diesel da história do país".
Não seria para menos. "A frota aumentou bem mais que o PIB. Faltou dar condições para a categoria, agora, pagar pelo combustível", provocou o economista professor da Universidade de São Paulo, Roberto Troster.
O subsídio errado
A aprovação do teto de 17% no ICMS cobrado pelos estados seria uma manobra eleitoreira, "mais uma política econômica ruim para o Brasil", afirma Troster.
O economista concorda com o que muitos especialistas tem dito, de que a decisão pode - e nem dão garantia - diminuir os preços dos combustíves e, o pior, em um curto prazo.
É que logo os preços devem ser reajustados de novo. Está faltando no mercado o petróleo da Rússia, que instalou guerra na Ucrânia. "A gente tá vendo uma deterioração dos estoques de diesel influenciadas principalmente por essa dificuldade dos centros de procesamento. Tanto na Europa quanto nos EUA. Isso tem efeito direto no Brasil", lembra Bruno.
Se a mais atual "solução" não funciona diante do tamanho do problema, o que o governo federal poderia ter feito então? Troster avalia que, "em vez do controle sobre o ICMS, que vai ajudar principalmente os mais ricos, pois são os que mais utilizam veículos automotores, poderia ser criado um subsídio para os serviços de transporte coletivo ou de cargas". Assim, sobraria mais recurso, que poderia ser concentrado em uma categoria importante.
Os caminhoneiros continuam indignados. O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace "Chorão" Landim, acredita que "o ICMS não vai resolver. É um paliativo. Também não tem fiscalização, os postos não vão reduzir. Concordo com o subsídio, que o governo poderia dar com o que lucrou com a Petrobras". Só em 2021, o Palácio do Planalto recebeu R$ 37,3 bilhões da estatal.