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"Brasil se tornou prisioneiro do baixo crescimento", diz Maílson da Nóbrega

Ex-Ministro da Fazenda avalia que país não vai crescer mais do que 2% neste e nos próximos anos

"Brasil se tornou prisioneiro do baixo crescimento", diz Maílson da Nóbrega
Maílson da Nóbrega
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Nem passando a eleição deste ano a economia brasileira deve apresentar sinais mais robustos que apontem para o crescimento de que o país precisa. Este sentimento um tanto desalentador é revelado pelo ex-ministro da Fazenda (jan/88 a mar/90) Maílson da Nóbrega em entrevista ao SBT News: "É tanto problema pra resolver que não vai ser nem tão já que a gente vai ver a luz no fim do túnel", comenta ele. Para Maílson -- hoje sócio da Tendências Consultoria --, quanto mais o tempo passa, mais o Brasil se "apequena" diante dos líderes mundiais, clube que já frequentou com mais distinção.

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Confira os principais assuntos tratados na entrevista:

Como o senhor está vendo o cenário para a economia brasileira?
Tem muito problema para resolver. E não vai levar pouco tempo. A primeira coisa a considerar é que o Brasil se tornou prisioneiro do baixo crescimento. Este ano não vai crescer mais do que 2%, que tem sido uma espécie de média nas últimas décadas. Nesse ritmo o país vai se consolidando como uma economia que cresce menos do que os emergentes, cresce menos do que a média da América Latina, cresce menos do que o mundo. 

Estamos ficando para trás?
Não resta dúvida. E tem um elemento que deixa isso claro. O Brasil já integrou o grupo das dez maiores economias do mundo. Isso tem que estar na lembrança. É preciso também se equiparar ao crescimento das nações mais ricas. E não por vaidade ou coisa que o valha. Mas pelo fato de que, se você não parear aos ricos, ao crescimento maior deles, com o passar do tempo mais e mais o país se apequena. Olha o exemplo da Coreia do Sul. Olha o crescimento de Portugal e Espanha que se valeram do apoio da União Europeia e hoje vivem uma situação econômica muito mais auspiciosa. 

E o que tanto atrapalha o crescimento do Brasil?
Vamos começar pelo equilíbrio das contas públicas. A Constituição de 1988 tem méritos inegáveis do ponto de vista, por exemplo, da consolidação do sistema de freios e contrapesos entre os Poderes. Das liberdades e garantias individuais. Mas bagunçou o sistema tributário. E para o fiscal é um desastre. Veja a limitação que impõe ao orçamento: 96% dos gastos primários são obrigatórios, incluídos aí Previdência, funcionalismo e etc. Restam 4% disponíveis para tudo o mais, incluindo infraestrutura, programas sociais. Não dá. Como é que vai crescer sem poder investir?

Privatizar é um caminho?
O Brasil tem que privatizar todas as estatais. Não tem cabimento manter Petrobras, Banco do Brasil...

O senhor venderia a Eletrobras?
Eu venderia a Eletrobras mas não agora. Nem tem que haver a discussão sobre isso neste momento. O risco é ter um custo muito alto, sobretudo do ponto de vista da turbulência eleitoral. Agora, há áreas onde o Estado não é dispensável. Educação, Saúde, Infraestrutura. Aí não dá para ficar sem o Estado cumprir com o estímulo que o privado não vai exercer.

Para começar a melhorar -- seja lá quando isso for possível --, quais os primeiros passos?
Tem quatro pontos que são fundamentais. Primeiro vem o aumento da produtividade, que é o que gera riqueza no país. Organizar o sistema tributário para torná-lo decente, eficiente. Do ponto de vista distributivo e econômico. Veja a tributação sobre o consumo: é um caos. Do outro lado, o Imposto de Renda é cheio de privilégios. O rico abate uma série de despesas na hora de declarar. A maioria da população arca com os impostos quando faz as compras mais simples. Outro elemento a tratar com respeito é a educação. Que tem melhorado em qualidade, carece sempre de atenção. A infraestrutura é mais um elemento. O país está cheio de obra a ser feita. E para fechar, o equilíbrio fiscal, que possibilite investimentos. Há quarenta anos o Brasil investia 40% do PIB. Este ano vamos investir menos de 2%. Cinco por cento tem sido uma espécie de média absolutamente insuficiente, imagine 2%.

Não dá para ser em nada otimista?
Olha, nem tudo está perdido. O Brasil tem avanços muito significativos. Temos um Banco Central independente. A própria educação tem tido boa melhora. Mas é preciso dar alcance, escala, ser melhor e para muito mais gente. O Sistema Financeiro brasileiro é sólido, como poucos do mundo. E há entre nossas empresas aquelas que têm prosperado imensamente. O país precisa é de líderes pra puxar este desenvolvimento.

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