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Como apps de transporte deixaram de ser atrativos para clientes e motoristas

Avanço de 51% no preço dos combustíveis e baixos reajustes são os maiores desafios enfrentados pelo setor

Como apps de transporte deixaram de ser atrativos para clientes e motoristas
Para motoristas, escolha de corridas faz parte de uma manifestação silenciosa | Divulgação
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Após receber vários relatos de insatisfação tanto por passageiros como por funcionários, os aplicativos de transporte Uber e 99 anunciaram o reajuste dos ganhos dos motoristas pelas corridas realizadas. A medida, no entanto, não foi suficiente para barrar as inúmeras ocorrências de reclamação.

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A aposentada Edeli Alves, de 71 anos, por exemplo, relata que sempre foi muito bem atendida pelos motoristas de ambos os aplicativos, mas que nos últimos dias está precisando chamar as corridas cerca de 15 minutos antes do que costumava. "Eu tenho consultas no médico e às vezes essa demora pode me prejudicar", diz ela. "É uma pena, porque as pessoas vão abandonando esses serviços que faziam e ainda fazem tão bem para pessoas com problemas de mobilidade como eu", completa.

A situação não é muito diferente para o estudante universitário Gabriel de Assis. Ele conta que se locomoveu até o trabalho apenas por meio da Uber ou 99 durante cinco meses, mas que agora passou a optar pelo transporte público. "Hoje realmente demora muito para aparecer um motorista. Quando algum aceita [a corrida], sempre pergunta onde eu estou indo e normalmente acaba cancelando, o que não acontecia", relata.

Para entender melhor a situação, o SBT News conversou com alguns motoristas vinculados aos aplicativos de transporte, que ressaltaram a mudança tímida do reajuste e a falta de lucro devido à alta inflação, resultando no constante cancelamento de corridas.

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"Estávamos sem reajuste havia praticamente seis anos", diz um motorista que prefere não se identificar. "Esses dias eles [as empresas] resolveram fazer um reajuste, mas a grande verdade é que foi vergonhoso. Então, infelizmente, se não tocar uma viagem que pague meu combustível, minha manutenção e minhas contas, eu não vou ficar rodando 5 km para ganhar R$ 6", enfatiza.

Para Eduardo Lima de Souza, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp), a maior dificuldade está na alta do preço do combustível, que, apenas este ano, já sofreu um aumento de 51%. Além disso, ele reforça que o reajuste das empresas no repasse de lucro aos motoristas foi de até 35%, o que acaba, muitas vezes, não cobrindo os gastos diários.

"Esse 'até' está fazendo toda a diferença, porque para o motorista conseguir 35% de reajuste em uma corrida, ele depende de local, demanda, horário e dia específico", pontua Souza. "A dificuldade que os passageiros estão enfrentando não é algo que os motoristas gostariam que estivesse acontecendo, mas é um tipo de manifestação silenciosa por parte dos trabalhadores."

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No ramo há pouco mais de três anos, Osvaldo Bacelar afirma que também percebeu as mudanças no faturamento ao longo dos meses. "Isso acaba dificultando bastante para o motorista se manter e ele acaba tendo que procurar outros recursos, trabalhando no aplicativo somente para complementar a renda", reflete.

A avaliação é reforçada pelo vereador Marlon Luz, que tem como principal bandeira a defesa a categoria na cidade de São Paulo. Para ele, muitos funcionários deixaram de trabalhar para as empresas nos últimos meses, e um dos principais motivos é o preço das corridas, que não acompanha a inflação atual: "Inevitavelmente, os aplicativos querem concorrer com o transporte público no preço da passagem, digamos assim, tendo valores de corrida no transporte privado a preço de passagens do transporte coletivo, o que não é mais sustentável".

Marlon esclarece ainda que a demora enfrentada pelos passageiros para conseguirem uma corrida está relacionada diretamente à seleção feita pelos motoristas, que avaliam os percursos que serão mais lucrativos. "O motorista só vai ganhar pela distância percorrida com o passageiro, e não pelo percurso até o passageiro", explica.

"Nós motoristas fazemos esse mercado girar", ressalta Lilian Cristina Moreira Gomes, que dirige para os aplicativos há cerca de quatro anos. Assim como os demais motoristas, ela ressalta que o ato de aceitar as corridas que mais compensam para o bolso é uma manifestação silenciosa por parte da categoria.

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Segundo o presidente da Amasp, muitos motoristas estão trabalhando mais de 14 horas por dia apenas para suprir os gastos diários e obter um pouco de lucro. "Hoje, o motorista precisa aumentar a sua carga horária para ter uma margem de lucro como ele tinha em 2016, por exemplo, quando trabalhávamos de 8 a 10 horas por dia e tínhamos um bom ganho."

O que as empresas dizem?

Procurada, a Uber afirmou que busca "sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda que é fundamental para a plataforma".

Já a 99 disse que "reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25%. O aumento revisa os ganhos dos parceiros e foi definido levando em consideração a manutenção do equilíbrio da plataforma, para possibilitar que a população continue tendo acesso a um meio de transporte financeiramente viável, seguro e eficiente". 

A empresa ressaltou ainda que "os motoristas parceiros são trabalhadores autônomos e podem escolher a jornada de trabalho como definir quais viagens pretendem fazer". 

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