Megacorporações, cyborgs e dilemas éticos: o que esperar de “Alien: Earth”
Nova série estreia nesta terça-feira (12); criador e roteirista da obra conversou com o SBT News em Los Angeles

Cleide Klock - Los Angeles
A nova série “Alien: Earth”, criada por Noah Hawley (Fargo, Legion), chega como um dos lançamentos mais ousados do ano. Ambientada em 2120, dois anos antes dos eventos do clássico de 1979, “Alien: O Oitavo Passageiro”, a produção troca o vazio do espaço por um planeta controlado por megacorporações e obcecado pela busca da imortalidade.
O SBT News participou, com exclusividade para o Brasil, de um bate-papo com Hawley, em Los Angeles. O criador e roteirista traz na bagagem o poder de transformar um filme conhecido com fãs ávidos em série de televisão de sucesso.
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"Fargo", sua releitura do filme dos irmãos Coen, foi indicado a 70 prêmios Emmy em suas cinco temporadas e ganhou o prêmio de melhor minissérie em 2014, além do Globo de Ouro em 2014. Nessa nova produção traz à mesa uma das maiores discussões da atualidade.
“Eu não estou apostando contra o capitalismo. Acho que o poder das corporações vai se concentrar cada vez mais. Pensei, no contexto da história na Terra, naquele momento da virada do século 20, quando tínhamos Edison, Tesla e Westinghouse, e ninguém sabia ao certo quem iria controlar a eletricidade nos Estados Unidos. Então imaginei se tivéssemos um momento parecido, mas em que a disputa fosse entre aprimoramentos cibernéticos, inteligência artificial, transumanismo", contou o criador da série.
No centro da trama está a disputa entre as megacorporações e tecnologias que competem pelo domínio nas áreas dos cyborgs (humanos mecanicamente aprimorados), synths (formas de vida robótica) e híbridos, que levam o conceito ao limite ao transferir a consciência humana para corpos sintéticos.
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A protagonista Wendy (Sydney Chandler) é a primeira híbrida desperta da empresa Prodigy, resultado da mente de uma criança com câncer implantada em um corpo artificial adulto. Sua existência abre debate sobre identidade, ética científica e o custo de brincar de Deus.
"A natureza humana é, sem dúvida, o elemento central. Ao discutir moralidade e por que as pessoas agem como agem umas com as outras, percebi que, se a pergunta é ‘a humanidade merece sobreviver?’, não existe ninguém mais humano do que uma criança. Elas não sabem fingir que não estão com medo, são péssimas mentirosas e, de certa forma, as mais puras", conta. “Mas eu ainda quero todo o horror corporal, a repulsa, todos esses elementos estão lá”.
Visual e narrativa unem nostalgia e inovação
“Alien: Earth” mantém o retro-futurismo que tornou a franquia icônica, mas inova ao apresentar essas criaturas desenvolvidas pela Prodigy, sem deixar de lado a ameaça do xenomorfo. A série combina suspense, horror e essa reflexão profunda sobre tecnologia, inteligência artificial e a manipulação da vida.
A narrativa também surpreende ao usar metáforas de Peter Pan, os híbridos são chamados de “Garotos Perdidos” e dialoga com clássicos como Blade Runner, explorando memórias artificiais, depressão existencial e o vazio por trás da imortalidade corporativa.
“Um filme de Alien é uma história de sobrevivência condensada em duas horas, um clássico filme de monstro. Já uma série de TV precisa ser mais extensa, com personagens e dinâmicas nos quais o público possa realmente se envolver. Mesmo que 60% do conteúdo seja a melhor ação de terror, os outros 40% devem se dedicar à história e ao desenvolvimento dos personagens", diz Noah Hawley.
“Queremos que o público sinta o mesmo medo e ansiedade do primeiro filme. Como não podemos reproduzir o efeito de ver o ciclo de vida do alienígena pela primeira vez, criamos novas criaturas misteriosas que trazem tensão e surpresa", complementa.
Recepção
Com aprovação de mais de 94% no Rotten Tomatoes, para alguns críticos "Alien: Earth" já é considerada a melhor produção da saga desde Aliens (1986). Embora alguns apontem um ritmo mais lento, o consenso é que a série amplia o universo de forma rara na TV: unindo ação, terror e questionamentos sobre o futuro da humanidade diante de um capitalismo descontrolado e de uma inteligência artificial cada vez mais autônoma.
A nova série "Alien: Earth" estreia no Disney+ nesta terça-feira, 12, às 21h, com os dois primeiros episódios disponíveis simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos. A primeira temporada inicial tem oito episódios, lançados semanalmente às terças-feiras, sempre às 21h.