Luis Miranda diz que não gravou encontro com Bolsonaro
Segundo o deputado, porém, as investigações irão comprovar tudo o que ele e o irmão disseram
O deputado Luis Miranda (DEM-DF) negou nesta 2ª feira (12.jul) que tenha gravado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na reunião em que, juntamente com seu irmão -- o servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda --, teria apresentado irregularidades no contrato de compra de doses da vacina indiana Covaxin. O parlamentar disse ainda não possuir qualquer gravação do suposto encontro, mas que pode provar o que foi falado caso Bolsonaro venha a tentar desmenti-lo sobre o conteúdo.
As declarações foram feitas em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. "Eu jamais gravaria um presidente da República, mas eu não estava sozinho na sala, e nem todo mundo que estava presente na sala confia no presidente", pontuou Miranda. Em outro momento, acrescentou: "Eu não gravaria um presidente da República, por um milhão de motivos. Primeiro que eu acho antiético e naquele momento confiava nele".
Porém, o deputado afirmou ainda entender que Bolsonaro não o desmentiu sobre o que teriam falado e estaria apenas minimizando a denúncia, e, pensando em um eventual cenário no qual o chefe do Executivo rebata suas declarações, falou: "eu vou clamar para quem me ama que não deixe que isso siga dessa forma". Da suposta reunião com Bolsonaro para tratar sobre o contrato da Covaxin, além de Miranda e o irmão, segundo o deputado, participou também -- por um tempo mais breve -- o ajudante de ordens do presidente Diniz Coelho.
Ele não confirmou na entrevista se o irmão fez alguma gravação do encontro. Mas, em suas palavras, "certamente as investigações irão comprovar que tudo que nós dissemos, idependentemente de nós termos um áudio ou não, é verdade". Miranda disse aos jornalistas também que, na reunião com Bolsonaro, o presidente demonstrou ter entendido como sendo grave o que estava sendo apresentado.
Conversa com Eduardo Pazuello
O presidente Bolsonaro vem afirmando que repassou informações sobre irregularidades na compra da vacina Covaxin, reveladas pelos irmãos Miranda, ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Este, inclusive, pediu para a Procuradoria-Geral da República (PGR) arquivar notícia-crime contra o chefe do Executivo, alegando que 48 horas depois de um encontro com o deputado Luis Miranda e o servidor Luis Ricardo, Bolsonaro lhe pediu providências.
Entretanto, Luis Miranda disse na entrevista desta 2ª feira que nunca foi informado por Bolsonaro sobre o aviso a Pazuello e que esteve com o então ministro no dia 21 de março, data seguinte ao encontro com o presidente. "Nós voltamos para São Paulo, para buscar vacinas que estavam chegando. E tanto na ida como na volta o Pazuello não toca no assunto. Eu que toco no assunto com ele", disse o deputado.
Na ocasião, Pazuello teria dito apenas que estava de saída do Ministério e que uma "pessoa poderosa da política" havia lhe apontado o deto no rosto e afirmado que lhe tiraria do cargo de titular da pasta se não cedesse emendas de final de ano as quais o então ministro considerava descabidas. "Ele deixa issso de uma forma bastante insatifesito que, por ele não ter cedido, a cadeira dele tinha sido colocada em jogo", pontuou Miranda, que não quis revelar o nome de quem teria pressionado Pazuello, pessoa esta que o deputado diz ter passado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 em reunião sigilosa e não ser integrante do seu partido, o Democratas.
Também na conversa com o ex-ministro, diz Miranda, Pazuello lhe afirmou que vinha sendo travado por um grupo de pessoas que queriam mandar na pasta. Em momentos diferentes na entrevista ao Roda Viva, o deputado acrescentou que seu gabinete está recebendo denúncias de irregularidades em ações do Ministério da Saúde e ter a percepção de que, na condução deste, Bolsonaro "atende a pedidos que não necessariamente são do interesse do próprio presidente".
Mais para o final da entrevista, o parlamentar disse estar processando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), pela forma como agiu após as denúncias dos irmãos Miranda. "Apresenta documento falso, chantageia, ameaça, ataca e comete calúnia", completou.