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Governistas estão sendo "advogados do diabo", diz senador da CPI

Otto Alencar critica aliados de Bolsonaro em comissão que investiga conduta do governo na pandemia

Governistas estão sendo "advogados do diabo", diz senador da CPI
Senador Otto Alencar
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Médico, ex-professor e ex-governador da Bahia, o senador independente Otto Alencar (PSD-BA) integra o "G7", grupo de parlamentares da oposição e independentes ao Palácio do Planalto, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. Em entrevista ao SBT News, o congressista criticou as atitudes e o discurso dos membros governistas do colegiado, que tentam blindar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para Alencar, estão sendo "advogados do diabo" em meio à crise da covid-19 no Brasil.

Durante suas interações na CPI na última semana, o senador ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter após praticamente ensinar ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que ocupou a pasta por 10 meses durante a pandemia, informações científicas básicas acerca do novo coronavírus. Além de criticar a conduta do general, Alencar afirmou que, em menos de um mês de investigação do colegiado, já identificou ao menos dois crimes cometidos pelo Executivo no enfrentamento à crise sanitária. 

Entre os principais delitos, segundo Alencar, está a omissão do governo na busca por vacinas. O gerente-geral da Pfizer, Carlos Murillo, contou aos senadores, durante depoimento, que o governo federal ignorou cinco ofertas da farmacêutica norte-americana em 2020 e uma proposta ainda em 2021. O Ministério da Saúde só foi fechar contrato em março deste ano. "Está muito claro os crimes que o governo cometeu. Pensou que podia fazer uma imunidade de rebanho que não aconteceu. O presidente não quis comprar as vacinas e, na minha opinião, é crime. Tem pessoas morrendo por falta de imunizantes", disse o senador.

Leia a entrevista completa:

Durante sua fala na última sessão da CPI, o senhor perguntou ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello informações básicas e científicas sobre o coronavírus e ele não soube responder. O que o senhor achou disso?

Pois é, o ex-ministro [da Saúde Eduardo] Pazuello não conhece nem as coisas mais incipientes, simples, de uma doença tão grave como essa. Tanto que o meu questionamento, eu fiz porque ele pediu para se aprofundar nas manifestações clínicas, nas complicações da doença. Ele sequer sabia que o novo coronavírus é do grupo beta. Dos coronavírus, são aqueles que dão as manifestações clínicas mais graves. Ele não conhecia essas cepas que realmente já se manifestaram em outros lugares do mundo, como é o caso da síndrome respiratória do Oriente Médio, que aconteceu em 2012 e 2013. Ele não conhecia isso, não sabia que tinha tido no mundo uma manifestação de um coronavírus. 

Ele foi o ministro que ficou por mais tempo na Saúde. Foram 10 meses no cargo justamente durante a pandemia...

Ninguém pode ser ministro da Saúde sem conhecimento médico, científico. O governo não fez nenhuma barreira sanitária lá atrás, desde, inclusive, a época do primeiro ministro [Luiz Henrique Mandetta], sobretudo durante a gestão do Pazuello. Agora, nós estamos com uma nova cepa, que veio da Índia, e uma cepa indiana, que se manifestou lá no estado do Maranhão. O que é que o governo deveria fazer lá? O ministro [da Saúde], Marcelo Queiroga, deveria fazer uma barreira sanitária e conter as pessoas que estão na local. Ninguém entra, nem sai, como fizeram em Yuhan, na China. Esse é o caminho, não tem como fazer outra coisa enquanto não tiver vacina para imunizar as pessoas. É a máscara e o isolamento físico. E nesse caso, de novas cepas, é isolar completamente o local, para que essa cepa não se propague mais ainda. Ela pode vir até com uma virulência maior do que as atuais e comprometer mais vidas. É isso que o governo precisa fazer. O presidente da República não pode orientar protocolo de medicina para cuidar da covid como ele fez com o Pazuello, que aceitava tudo. Jamais a ciência pode se dobrar a uma decisão que não seja compatível com aquilo que você vai tratar o doente para ele ficar bom. A ciência não se ajoelha, não faz flexão. Jamais um ministro da Saúde poderia obedecer a ordem de um presidente. "Olha, pode ter aglomeração, não precisa usar máscaras. É a cloroquina a cura". Isso é um problema gravíssimo. Já são mais de 440 mil mortos. 

Na visão do senhor, o governo, depois de um ano de pandemia, com uma CPI acontecendo, ainda não está agindo da melhor maneira para tentar conter a doença? 

Olha, o atual ministro Marcelo Quiroga está propondo mais vacinas, está correto. Isolamento físico, está correto. É cuidar, usar máscaras... mas tudo o que ele está fazendo, que é sintonizado com os procedimentos médico científicos, o presidente da República não segue. O presidente não usa máscara, ele não quer tomar a vacina, que seria um exemplo para os seguidores dele, tá certo? Participa de aglomeração. Então, nós temos dois cenários: um de um ministro que está se esforçando para resolver o problema e outro cenário que o Presidente faz completamente equivocado. Eu, no lugar do Marcelo Quiroga, já tinha pedido demissão no último sábado, quando teve aquela aglomeração que o presidente montou a cavalo. Jamais eu ficaria em um cargo fazendo tudo corretamente do ponto de vista científico e recebendo ordem do superior para fazer ao contrário. É o que estou te falando, isso é a coisa da sinceridade, da integralidade, da confiança que você deve proceder nos casos de tratamento na saúde para recuperar a saúde e salvar vidas.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello conseguiu contribuir para as investigações?

Não, ele ocultou tudo. Buscou para si os erros todos cometidos no Ministério da Saúde para salvar o presidente Jair Bolsonaro, sem dúvida nenhuma. Então, não respondeu, não enfrentou, faltou com a verdade, brigou com a verdade o tempo inteiro e, consequentemente, se eu pudesse qualificar o ministro Pazuello hoje, talvez ele tenha sido o melhor advogado de defesa do presidente da República. Se o Bolsonaro tem amigo, esse é um deles. O habeas corpus dele deu tranquilidade a ele de não ser preso e ele sabe disso. Por isso ele, em alguns momentos, foi até irônico, respondeu errado, quase que de propósito, ele brincou. Eu não entendo onde está o caráter, a personalidade do general Pazuello neste sentido. 

Na avaliação do senhor, há espaço também para uma acareação?

Sem dúvida podemos fazer uma acareação entre ele, o diretor da Pfizer, que já foi ouvido também na CPI. Nós vamos ouvir o secretário de saúde do estado do Amazonas. Bem possível que se traga também o governador para uma acareação, ou então oitiva que seja a oitiva secreta, para que o que um diz o outro não saber e fazer um "combinado". Hoje mesmo o depoimento de Pazuello foi todo aberto. Na próxima semana virá o ex-secretário executivo, Élcio Franco. Então, ele soube, ele viu tudo que ele falou aqui. Ele [Élcio] vai fazer um combinado para dizer a mesma coisa e salvar a pele do presidente da República das suas responsabilidades. 

Há apoio de outros senadores ou da cúpula da CPI?

Isso vai terminar acontecendo, mas nós vamos falar isso na próxima segunda-feira à noite 

Pazuello era o principal elemento de investigação da CPI. Agora que o depoimento já passou, o que esperar do rumo da investigação da CPI?

Está muito claro os crimes que o governo cometeu. Pensou que podia fazer uma imunidade de rebanho que não aconteceu. O presidente não quis comprar as vacinas e, na minha opinião, é crime. Tem pessoas morrendo por falta de vacina, né? Ele negou várias vezes. No ano passado, 21 de outubro, ele disse "quem manda sou eu. Sou o presidente e não vou comprar vacina. Vou dizer ao Pazuello para não comprar também". Então, está claro isso aí. A situação é essa. Não quis comprar vacina, receitou cloroquina paro Brasil, olha bem, o presidente da República que não é médico, deu a receita paro Brasil de drogas como a cloroquina. E o Pazuello colocou no site do Ministério da Saúde, que é mais grave ainda. Então, essa situação toda reúne elementos que provam que eles foram negligentes, omissos e, no caso do Pazuello, muito submisso. 

Quem mais poderia ser convocado para avançar nessa questão da imunidade de rebanho, da cloroquina? Quem mais falta ser ouvido na CPI? 

A questão da cloroquina está pacificada, todo mundo sabe que não funciona, que não deu certo. Vamos começar agora a falar sobre vacinas e outras coisas. O passo a passo que determina aquilo que vai ser feito e quem é que vai ser convocado. 

Será aprovado a quebra de sigilo do ex-ministro da saúde Eduardo Pazuello? 

Nós vamos discutir isso ainda lá na frente para ver se haverá necessidade ou não.

Governistas têm sido incisivos nas comissões e, na avaliação do Planalto, estão indo bem com a obstrução da CPI. O senhor concorda com a avaliação?

Estão sendo os advogados do diabo. Só isso. 

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