Produção de cinema na Argentina está praticamente paralisada
Trabalhadores da área acusam Javier Milei de ter um plano para prejudicar o setor
A produção de cinema na Argentina está praticamente paralisada. Muitos que trabalham na área acusam o governo de Javier Milei de ter um plano para destruir o setor.
Num país que costumava produzir 200 filmes e documentários por ano, existe agora apenas um longa-metragem sendo rodado, de uma plataforma estrangeira de streaming, que não depende de financiamento local.
A produtora Carolina Fernández terminou o documentário dela no começo deste ano, com bastante dificuldade, depois que o governo restringiu os repasses que já tinham sido combinados.
Ela diz que as perspectivas não são boas porque o presidente Javier Milei escolheu o setor cultural como rival: "detesta a cultura e nos elegeu como inimigos".
Liliana Mazure, que já foi presidente do INCAA, o órgão estatal que cuida do cinema na Argentina, com função parecida à da Ancine no Brasil, explica que o instituto tinha a função de repassar às produtoras o dinheiro arrecadado de um imposto de 10% sobre as bilheterias dos cinemas, além de uma taxa cobrada de tevês e operadoras a cabo.
Os filmes eram escolhidos por uma comissão que reunia os maiores especialistas do país, agora os repasses praticamente acabaram, 170 funcionários do instituto foram demitidos, e existe a ameaça de vender um cinema histórico e fechar a escola pública de cinema do país.
Liliana, que está com três filmes parados por falta de verba, diz que a atual gestão é depredadora e veio acabar com a história do cinema local.
O SBT procurou a direção do INCAA, que não quis gravar entrevista.
A situação enfrentada pelo cinema argentino envolve toda uma cadeia de produção. São atores, diretores, produtores e técnicos que trabalham atrás das câmeras pra fazer a magia acontecer. Enquanto essa situação não for resolvida, milhares de empregos estão em jogo e negócios ligados ao cinema podem não sobreviver.
O empresário Eduardo Camauer, que tem uma empresa de aluguel de equipamentos, conta que o movimento está bem mais fraco, e que só não parou porque acabou se especializando em publicidade e videoclipes. O cenário seria diferente se dependesse apenas do meio cinematográfico.
O produtor Axel Kuschevatzky já entrou para a história do cinema argentino, teve obras indicadas ao Oscar, uma delas, "O Segredo de Seus Olhos", de 2009, levou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Ele também é crítico da atual política.
Muito do que vai acontecer com o cinema e a cultura do país depende do que será aprovado ou vetado no pacote conhecido como "Lei Bases", que o governo enviou ao Congresso Nacional.
O setor também espera que o INCAA termine uma auditoria interna para determinar a nova política, mas são poucas as esperanças de que a atividade retorne tão cedo ao normal.
Kuschevatzky diz que todos os países fomentam a cultura e lembra que dos três filmes argentinos indicados ao Oscar nos últimos 15 anos, dois tiveram apoio de fundos públicos.