Estudo afirma que 90% das prisões na cracolândia em 2022 foram ilegais
Documento da Defensoria Pública de São Paulo analisou os resultados das operações na região

Gudryan Neufert
Um estudo da Defensoria Pública de São Paulo diz que 90% das prisões feitas no ano passado, durante uma operação na cracolândia, foram ilegais. Segundo o relatório, vários direitos básicos dos cidadãos foram violados.
O documento faz uma análise da 6ª fase da Operação Caronte, entre setembro e novembro do ano passado, quando houve 641 detenções, sendo 99,5% relacionadas ao uso de drogas. 90% dos casos acabaram arquivados. 86,7% não tinha endereço fixo, e mais de 60% dos presos eram negros.
O estudo aponta para a violação de vários direitos, como ordem de nudez forçada, privação de liberdade na carceragem e medicalização compulsória.
"Utilizar a delegacia como porta de entrada pro serviço de saúde e assistência social é uma maneira equivocada de atender as demandas que a gente enxerga nesse território. A maneira como a policia deve atuar é seguindo todos os procedimentos operacionais padrão e garantir os direitos fundamentais dos indivíduos, sejam usuários ou não de entorpecentes", afirma a defensora pública Surraily Youssef.
No início da semana, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, criticou a soltura de presos da cracolândia. Ele se referia à última operação feita na região.
"Uma operação que leva meses para ser deflagrada, com uso de tecnologia, de investigação. Saldo extremamente positivo, 18 indivíduos presos, 6 deles já receberam o benefício de responder em liberdade. Da nossa parte é trabalhar, não entrar no mérito da decisão do Poder Judiciário", afirmou o secretário.
Para a Defensoria Pública de São Paulo, a política de repressão adotada há pelo menos 10 anos na região desumaniza os usuários de droga, não protege a dignidade humana e também não resolve o problema da cracolândia. Segundo os defensores, é preciso investir em assistência social, saúde, educação e moradia.
"Muitas vezes os conflitos na sociedade não vão ser solucionados a partir da punição, ou da intervenção policial, mas sim de uma atuação conjunta em que a gente possa articular efetivamente as políticas públicas de saúde, assistência social, educação e trabalho, pra que de algum modo, todas as demandas que o senhor me traz sejam encaminhas pelo poder publico municipal e estadual", diz a defensora pública Surraily Youssef.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública pra saber o posicionamento sobre o estudo da Defensoria Pública, mas, até o momento, não tivemos retorno.