Covid-19: Brasil chega à 3ª semana seguida com alta de novos casos
Feriado de Corpus Christi pode contribuir para haver uma continuidade da piora no índice
Guilherme Resck
O Brasil teve, de domingo (5.jun) a sábado (11.jun), a terceira semana epidemiológica consecutiva de crescimento no número de novos casos de covid-19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Foram feitos 292.068 registros, ante 207.685 do período de 29 de maio a 4 de junho, 166.777, de 22 a 28 de maio, e 95.513, de 15 a 21 de maio. O patamar mais recente é o maior desde a semana de 6 a 12 de março (317.082). Já a média móvel dos sete dias anteriores cresceu pela sexta vez seguida no sábado, indo a 41.724. E, segundo o infectologista Max Igor Lopes, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), esta semana veio acompanhada de um fator que pode contribuir para haver uma continuidade da piora nos índices: o feriado de Corpus Christi, em 16 de junho.
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"A gente viu que esses feriados potencializavam o número de casos toda vez que eles aconteciam quando o número estava mais alto. O número ainda está alto, então vai ser uma coisa que, de lá a começar a reduzir, vai retardar a redução. Assim, as pessoas deveriam tomar bastante cuidado, principalmente nesses momentos", afirmou o especialista em entrevista ao SBT News. Antes do feriado, há outra data especial em que a circulação de pessoas costuma aumentar, o que pode contribuir para mais contaminações: o Dia dos Namorados, neste domingo (12.jun). Entretanto, conforme o especialista, "é uma situação que geralmente são duas pessoas, então não ocorrem situações de grandes aglomerações". "As pessoas não viajam em família para comemorar Dia dos Namorados. Então não acho que o modelo, o tipo de situação que é o Dia dos Namorados seja uma situação de grande risco de transmissão. Eu me preocupo mais com Corpus Christi", completa.
A temporada de festas juninas, em curso, é um terceiro fator deste mês com potencial de favorecer um crescimento na quantidade de novos casos. Max pontua que qualquer aumento na circulação da covid, o que o país atravessa agora, é "sempre preocupante". Isso porque quando muitas pessoas são infectadas pelo coronavírus, proteger as mais vulneráveis -- como idosos -- se torna mais difícil, visto que aumenta a chance de o patógeno alcançar alguém desse grupo. Outra consequência de qualquer aumento na propagação do vírus, maior é a probabilidade de ele sofrer mutações -- diante da resposta imunológica dos infectados -- e surgir uma variante, que pode ser mais ou menos agressiva que as anteriores.
No atual cenário, o crescimento na propagação do Sars-CoV-2 no país, segundo o infectologista, é uma combinação da presença da linhagem BA.2 da variante ômicron no território nacional com o tempo em que as pessoas receberam a vacina da covid e o contato nas escolas, entre outros. "Muitas vezes a criança está pegando covid na escola, volta para casa e a casa toda pega covid. Então, a atividade das escolas também têm contribuído para expandir o número de casos", afirma. Em maio, cidades de diferentes estados brasileiros, recuaram de flexibilizações do uso de máscara que haviam promovido, por causa de aumentos em números de novos casos de covid-19. Algumas medidas foram voltadas às unidades escolares.
Na capital paulista, por exemplo, a prefeitura voltou a recomendar o uso do acessório em ambientes fechados e nas unidades escolares. Para Max Lopes, é "difícil" dizer se foi precipitado ou não o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços fechados promovido por cidades pelo país. A proteção facial, de acordo com ele, "é uma medida bastante interessante e reduz a transmissão de vírus", mas o atual momento da pandemia é "de maior responsabilização individual, nem tanto uma coisa social do governo".
"O governo, teoricamente, ofereceu a vacina para quem quisesse tomar e as pessoas tiveram a oportunidade de tomar a terceira dose. Só que algumas não tomaram. E isso prejudica um pouco os outros porque vai circular mais, só que tem pessoas que tomaram e mesmo assim pegam. Então realmente é uma situação difícil. O que eu acho é que máscara funciona, é interessante que as pessoas que querem se proteger usem máscara nos momentos de maior circulação viral, que elas repensem se vale a pena ficarem aglomeradas em determinados ambientes, como bares, baladas, onde a proximidade das pessoas é quase que inevitável e onde o uso de máscara é muito difícil", acrescenta.
Os imunizantes, conforme o especialista, constituem a principal medida de diminuir o contágio. No caso da ômicron, três doses da substância da Pfizer, afirma, garantem proteção de 70% contra infecção por coronavírus. Dessa forma, avalia que a melhor maneira de reagir à circulação do patógeno é aumentar o índice de vacinação, aperfeiçoar a conscientização das pessoas sobre a covid-19, aumentar a testagem para a doença, isolar os casos confirmados e tratar melhor as pessoas que não conseguirem se proteger. Max explica que dois medicamentos para tratar covid foram aprovados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) e incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS): o antiviral Paxlovid e o Baricitinibe, que modula a resposta imune do organismo; mas ainda é difícil para acessá-los na saúde suplementar.
A infectologista e consultora de Biossegurança da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Sylvia Hinrichsen concorda com Max sobre ser complicado dizer se foi precipitado acabar com a obrigatoriedade das máscaras em ambientes fechados. "É muito difícil dizer o que é precipitado ou não é precipitado diante de um mundo que está com o vírus circulando como a covid há mais de dois anos, que tem uma característica muito importante de sofrer mutações. Ao mesmo tempo, que temos ainda muitas perguntas da ciência não respondidas, porque não deu seu tempo devido", pontua.
Ela relembra que o isolamento social para frear a pandemia contribuiu para um crescimento de casos de doenças psicológicas, como depressão e ansiedade. De acordo com a especialista, principalmente em relação aos mais vulneráveis à covid, "manter o uso da máscara e a higienização das mãos como uma atitude, um hábito, não só para o covid, mas para as outras infecções e bactérias, sejam infecções virais ou bactérias, é interessante". "Mas também não adianta haver algo que venha por decreto no mundo atual ou que venha obrigando, porque as pessoas também já estão começando a ficar independentes e fazendo suas escolhas, haja vista aí o número de pessoas que ainda não se vacinou com a terceira ou a quarta dose", completa. Ela ressalta também que a vacinação é importante para reduzir a chance de apresentar um quadro grave de covid.
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