SP: Mulher morre no Hospital Heliópolis após esperar atendimento por horas
Depois de denúncias e troca de direção, centro médico segue com problemas; falta de funcionários e “farra dos médicos” agravam situação
Fernanda Trigueiro
Cristian Mendes
André Paino
O Hospital Heliópolis, na zona sul de São Paulo, voltou a ser alvo de denúncias graves após a morte de Márcia Aparecida Carlos, de 56 anos. Hipertensa e internada na unidade com fortes dores no peito, a paciente esperou horas sem receber o atendimento adequado.
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Segundo relatos, ela ficou abandonada em uma maca, onde veio a falecer na madrugada do último dia 8 de novembro. A equipe de jornalismo do SBT, que já havia denunciado a "farra dos médicos" na unidade, trouxe detalhes sobre o caso.
A filha de Dona Márcia, em relato emocionado, afirmou que a mãe, que sofria de hipertensão, fazia acompanhamento no hospital e, na noite do dia 6 de novembro, ao sentir fortes dores, optou por ir até a unidade. Após ser medicada e passar por exames, foi liberada em poucas horas.
No dia seguinte, retornou para buscar os resultados, que indicaram problemas cardíacos, e então foi submetida a novos exames. Márcia passou a noite na sala de observação do pronto-socorro, onde deveria ter sido monitorada constantemente, mas foi encontrada sem vida na manhã seguinte. A família não foi informada sobre a causa da morte. "Esqueceram como vários outros pacientes que estavam lá ao redor no corredor, precisando de ajuda, gritando e ninguém nada com nada! Nem um pingo de atenção!", disse a filha.
Pacientes sozinhos mesmo na emergência
Um funcionário do hospital, que não se identificou por medo de represálias, relatou à reportagem que Márcia teria sofrido um infarto por volta da meia-noite, mas não foi atendida prontamente. Ele ainda afirmou que o último monitoramento dos sinais vitais da paciente foi feito à 1h, e que a vigilância constante foi prejudicada pela falta de pessoal. O funcionário acrescentou que, às vezes, mesmo na emergência, os pacientes ficam sozinhos.
A sobrecarga da equipe é outro problema denunciado. Segundo um funcionário com mais de 10 anos de experiência no Heliópolis, a unidade tem, por vezes, apenas um técnico e um auxiliar para cuidar de até 23 pacientes. A falta de médicos experientes nas alas é um agravante. “Não tem condições humanas de você prestar assistência correta, uma assistência digna ao paciente onde uma pessoa cuida de vinte!", afirma.
"Farra dos médicos": SBT denunciou médicos que batiam ponto e não trabalhavam
O jornalismo do SBT denunciou a “farra dos médicos” no hospital, com muitos profissionais foram flagrados marcando presença e saindo sem trabalhar. Em um dos casos, uma médica alegou ter saído para buscar o cachorro na creche, enquanto outro médico foi visto indo embora logo após bater o ponto. Após a denúncia, o funcionário que não se identificou afirmou que os médicos até vão ao hospital, mas “ficam trancados em salas e setores, onde ninguém tem acesso e não atendem os pacientes”.
A situação levou ao afastamento do então diretor-geral do hospital, Abraão Rapoport, no mês passado, após a série de reportagens do SBT revelar o caos na unidade. Pacientes e familiares ainda denunciam a falta de insumos e materiais básicos.
O caso de Dona Márcia foi registrado na Polícia Civil como morte suspeita. Conhecida por seu trabalho voluntário e dedicação ao próximo, a paciente não recebeu o mesmo cuidado que oferecia aos outros. A filha desabafou: “Na hora de pensarem nela pela última vez, não teve, ficou lá numa maca, que os nos últimos minutos de socorro não foi atendida”.