Moradores de Belém enfrentam caos na saúde pública
Pesquisa aponta Belém como a capital com maior insatisfação no serviço público de saúde, destacando falta de medicamentos, superlotação e espera prolongada.
Mayra Leal
A saúde pública em Belém, no Pará, enfrenta sérios problemas. De acordo com uma pesquisa inédita, moradores da cidade registraram os maiores índices de insatisfação em relação ao sistema público de saúde no Brasil. Entre as principais reclamações estão a falta de medicamentos básicos, superlotação nas unidades hospitalares e a demora na realização de exames e consultas.
No Pronto-Socorro Municipal Mario Pinotti, a mãe de um paciente que preferiu não se identificar buscou atendimento para uma infecção na traqueostomia. Vídeos mostraram a gravidade do caso, com presença de larvas, mas o atendimento foi negado. "Já faz três anos que estamos sofrendo com esse descaso", desabafou o filho da paciente.
A realidade no hospital é marcada por leitos improvisados. A mãe de Sonilda Pinheiro está há um mês aguardando o resultado de uma biópsia. “Ela está se acabando no leito e ninguém resolve nada da minha mãe”, lamentou.
O cenário caótico foi constatado em uma fiscalização do Conselho Regional de Medicina, que encontrou diversas irregularidades e relatou atraso no pagamento de salários de profissionais. Situação semelhante ocorre no Pronto-Socorro Humberto Maradei Pereira, onde o relatório da farmácia aponta frequentes registros de NHF — "não há na farmácia". Uma técnica de enfermagem, que preferiu não ser identificada, relatou a falta de analgésicos, antibióticos e medicamentos essenciais para o alívio da dor.
A pesquisa, realizada pela Agenda Pública em parceria com o Instituto de Direito, Economia Criativa e Artes, revelou que 74,8% dos pacientes entrevistados em Belém se mostraram insatisfeitos com a disponibilidade de medicamentos. Além disso, a cidade lidera em reclamações quanto ao tempo de espera para exames e consultas. Em um dos hospitais da capital, o tomógrafo está inoperante há três semanas, prejudicando pacientes com condições graves, como crianças em UTIs pediátricas.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém informou que o tomógrafo está em reparo e justificou a superlotação dos hospitais pela ampla demanda, atendendo também a pacientes da região metropolitana e interior do estado. Sobre a falta de medicamentos, a secretaria atribuiu o problema a atrasos no fornecimento pelas empresas responsáveis.