Maioria dos brasileiros apoia regulação das redes sociais, aponta estudo
Apoio cai pela metade quando os entrevistados são confrontados com a ideia de que isso restringiria a liberdade de expressão; entenda
Wagner Lauria Jr.
Uma pesquisa inédita, divulgada nesta terça-feira (4), revelou que 60% dos brasileiros são favoráveis à regulação das redes sociais. No entanto, esse apoio cai pela metade quando os entrevistados são confrontados com o argumento de que a moderação de conteúdo poderia restringir a liberdade de expressão. Os dados são da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados.
+ Brasileiros passam 9 horas por dia nas redes sociais, diz estudo
+ "Aqui é uma terra que tem lei", diz Moraes sobre operação de redes sociais no Brasil
O estudo ouviu 2 mil brasileiros com 16 anos ou mais, entre os dias 10 e 15 de janeiro, nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com um intervalo de confiança de 95%.
+ Calvin Klein e Tommy Hilfiger entram na mira da China após taxação de Trump
46% dos 60% favoráveis à regulação - 28% da população total - defendem a regulação mesmo que haja impacto sobre a liberdade de expressão. Os 2% restantes não souberam opinar sobre essa questão.
O levantamento também indica que 29% da população é contrária à regulação, enquanto 5% se declaram neutros e 7% não souberam responder.
Para Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, os dados mostram o impacto da narrativa contrária à regulação.
"Os resultados revelam que 28% dos brasileiros apoiam incondicionalmente a regulação, percentual semelhante aos 29% que são contra. Já os 30% que apoiam com ressalvas demonstram como o argumento da liberdade de expressão tem peso no debate público", avalia Tokarski.
Maioria apoia responsabilização das plataformas e checagem de conteúdo
A pesquisa também apontou que 78% dos brasileiros defendem que as plataformas tenham mais responsabilidade sobre o conteúdo divulgado, enquanto 14% discordam. No combate à desinformação, 64% consideram a regulação uma ferramenta essencial, contra 25% que pensam o oposto. Um percentual semelhante (61%) acredita que regras são necessárias para enfrentar a disseminação de conteúdos antidemocráticos e discursos de ódio, racistas, machistas ou lgbtfóbicos. Já 29% discordam dessa afirmação.
+ Meta relaxa restrições sobre discursos ofensivos que atingem LGBTQIA+ e outros grupos; entenda
O estudo também revela que a maioria dos brasileiros apoia mecanismos de moderação e checagem de conteúdo. Para 73%, a verificação de informações feita por algumas plataformas é importante para combater notícias falsas e discursos de ódio, enquanto 19% discordam. Além disso, 65% defendem que os próprios usuários possam analisar o conteúdo para garantir a liberdade de expressão, enquanto 25% são contra.
Atualmente, diferentes modelos de checagem de fatos são utilizados. No sistema tradicional, profissionais especializados avaliam a veracidade das publicações e possíveis violações. Já no modelo de "notas de comunidade", adotado pelo X (antigo Twitter), os próprios usuários adicionam observações sobre o conteúdo. Em janeiro, a Meta anunciou o fim da checagem de fatos nos Estados Unidos, mas manteve o serviço no Brasil.
Regulação de redes sociais na polarização política
A regulação das redes sociais se tornou um tema de disputa política. Segundo Tokarski, a discussão divide espectros ideológicos, com a esquerda geralmente favorável e a direita contrária.
"Atualmente, a narrativa da direita, que argumenta que qualquer regulação pode restringir a liberdade de expressão, tem dominado o debate e influenciado a opinião pública. Para mudar esse cenário, os defensores da regulação precisam comunicar melhor que o objetivo não é censurar, mas combater a desinformação e os discursos discriminatórios", pontua o CEO da Nexus.